Mineiros externam paixão pelo período medieval através de torneios e jantares temáticos

Thais Oliveira - Hoje em Dia
10/08/2015 às 07:31.
Atualizado em 17/11/2021 às 01:17
 (Luiz Costa)

(Luiz Costa)

De cada lado, um cavaleiro, protegido por armadura e escudo, ergue a sua espada contra o adversário numa luta de “respeito e honra”. Do lado de fora da arena, há quem cerre os dentes, ansioso pelo fim da batalha. Tudo se passa na Pousada do Rei Artur. Já o ano, dizem os organizadores, seria 1415. E não, não se trata de uma cena cinematográfica.

O confronto também não ocorreu num período tão longínquo assim. Bem, mais ou menos. A ideia é, sim, retratar a Idade Média. Contudo, o duelo sucedeu há apenas duas semanas, aqui mesmo, em Minas Gerais, na cidade de Lavras Novas, durante o 1º Torneio Medieval Anno Domini.

De acordo com o administrador Flávio Lopes, 35 anos, um dos criadores do Lâminas das Gerais e realizador do evento, a proposta surgiu a partir do fascínio pela história antiga. “Busco saber tudo sobre a cultura medieval. Tenho paixão pela sua história, lutas e línguas desde os 12 anos de idade, quando comecei a jogar RPG”, conta.

Entusiasmo

Lopes, no entanto, não é o único a se interessar pelo assunto. Por incrível que pareça, existem milhares de pessoas que se entusiasmam pelo tema em várias partes do planeta. Algumas delas vão um pouquinho mais longe e não se contentam em apenas se inteirar do período. Caso este do próprio Lopes que, além de ter combatido no torneio mineiro fundado por ele – o primeiro do tipo no Brasil –, irá “guerrear” na Copa First Class HMB Argentina, nos dias 29 e 30 deste mês, em Buenos Aires.

No campeonato do país hermano, a luta é baseada na HMB (Historical Medieval Battle ou Batalhas Medievais Históricas), na qual vence quem tiver mais pontos ou quem ficar de pé por último. Para quem está imaginando um embate sangrento, o administrador adverte: “as regras são rígidas e este é um combate entre amigos. É uma luta de respeito e honra; não é para machucar”.

 

Flávio Lopes – O administrador está animado para combater pela primeira vez na Copa First Class HMB. Foto: Arquivo Pessoal/Divulgação

 

Hobby caro

Parceira de Lopes na fundação da Lâminas das Gerais, a educadora física Luciana Pena, 37 anos, é outra que adora se aventurar pelo universo medieval. Entre as mais de dez peças que possui, está uma armadura e um gambeson (roupa de usar por baixo) baseados no século 15, da região da Alemanha. O hobby, intitulado de “recriacionismo”, porém, não é nada barato. Somente os dois itens citados saíram, juntos, por R$ 4 mil. Se isto desanima o grupo? De forma alguma! Em 2016 tem mais torneio. “É vibrante. O som dos metais se chocando é algo primitivo. Mesmo quem não luta, quando ouve, se arrepia”, ressalta.

- A HMB no Brasil conta com 50 lutadores em formação. São 14 grupos nos estados de MG, SP, RJ, PR, SC, BA, além do DF.

- Em 2009, surgiu a “Batalha das Nações” (Battle of the Nations). O evento é realizado pela Historical Medieval Battle International Association, que faz torneios do HMB por todo mundo.

Vestidos a caráter para desfrutar o cardápio da Idade Média

Na infância, o gerente de logística Gustavo Moreira, 30 anos, sempre arrumava uma desculpa para fazer brincadeiras que envolvessem cavaleiros de armaduras, castelos e dragões. “É uma coisa que me atraiu desde sempre. É difícil explicar todo esse fascínio por uma determinada época da história e sua cultura e costumes. É como se desejasse viver aquela época, apesar de saber que as coisas não eram tão fantásticas como nos filmes e livros de fantasia medieval”, afirma.

Anos mais tarde, ele veio a descobrir que existem alguns eventos medievais no Brasil, especialmente em São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Curitiba e Florianópolis. Minas, no entanto, não tinha ainda nenhum movimento forte neste sentido. Pensando nisso, Moreira e a sua namorada, a estudante de Ciências Biológicas, Talita Chucre, 27 anos, resolveram fazer o 1º Jantar Medieval BH, em 2013, que já faz parte do calendário. Aproximadamente 300 pessoas participaram da festa, que foi realizada em um sítio, na região da Pampulha.

“Além do pessoal local, levamos convidados, expositores e atrações de outras cidades. No último, por exemplo, trouxemos a Banda Taberna Folk de Cosmópolis (SP) e a cantora Aline Ma’at (BH)”, destaca.

A única ressalva que os organizadores fazem para quem quiser participar, é estar a caráter, ou seja, devidamente fantasiado por vestimentas e acessórios que lembram a Idade Média.

 

TALITA E MOREIRA – Fascinados pela Idade Média, os dois criaram o Jantar Medieval BH. Foto: Arquivo pessoal/divulgação

 

Vikings despertaram o interesse pela histórica época

O primeiro contato que o analista de sistemas Alexandre Luz Barreto, 35 anos, teve com o período medieval foi por meio da literatura. “Quando criança, ganhei um livro que falava sobre os vikings. Via também muitos desenhos animados, que tinham guerreiros. Isso foi despertando a minha curiosidade para saber mais sobre mitologia e, especialmente, o período viking”, recorda.

Diversão

Por enquanto, Alexandre não se arriscou a aprender nenhuma luta “porque os custos são altos”, mas é figura constante nos eventos que rememoram a época medieval, como o Jantar Medieval e o Torneio Medieval Anno Domini 1415.

E, claro, para não fazer feio, investiu no visual. “Tento me vestir o mais fiel possível, fazendo recriacionismo mesmo. Por isto, tenho roupas, espada, acessórios e enfeites da Idade Média”, destaca ele, que já gastou ao menos R$ 700 em vestimentas.

 

Alexandre Barreto (no centro), com os amigos, durante o último Jantar Medieval BH, em julho. Foto: Samla Gorza Borges / Divulgação

 

‘As Crônicas de Gelo e Fogo’ e ‘Game of Thrones’

A literatura também está recheada de obras baseadas na Idade Média. Dentre elas, está a série de livros “As Crônicas de Gelo e Fogo”, de George R. R. Martin. O primeiro livro da saga foi publicado em 1996, sob o título de “Game of Thrones”. Este nome também intitula uma série televisiva do canal HBO, lançada em 2011, inspirada nas publicações de Martin. Só para citar um exemplo, no reino de Westeros, ocorreu o violento “Jogo dos Tronos”, que se parece com a verídica Guerra das Rosas. Sucesso mundial, a série já vendeu mais de 30 milhões de livros.

Restaurante ESOPO tem taberna dos tempos e traz os saltimbancos para relembrar peça do século 15

Que tal dar um rápido passeio medieval? Uma dica é visitar o restaurante Esopo (Alameda Flamboiant, 285, Vale do Sereno, Nova Lima). O local é uma taberna rústica, que segue a temática dos tempos antigos. Diferenciado, o estabelecimento costuma levar, às sextas e sábados, o grupo teatral Os Saltimbancos para reviver a Commedia Dell’arte francesa do século 15. O grupo realiza uma performance interativa, fazendo com que o público participe do espetáculo. Por isso, não é raro o Pierrot sentar-se à mesa ou uma colombina tirar o cliente para dançar.

Veja como foi uma das lutas do 1º Torneio Medieval Anno Domini 1415

Vejo o vídeo da final da Batalha das Nações 2015:

 

Atualizada às 22h.

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