Monólogo do Fringe tenta captar a essência de Florbela Espanca

Miguel Anunciação* - Hoje em Dia
04/04/2013 às 11:15.
Atualizado em 21/11/2021 às 02:32

Quem aprecia o teatro e/ou acompanha festivais de artes cênicas (bom, nem sempre disposição e disponibilidade estão em sintonia favorável) sabe quanta felicidade proporciona deparar de imediato com um espetáculo que se considera muito bom.

É o caso de "Recusa", da Cia. Balagan, de São Paulo, um primor de pesquisa e resultados na prospecção que faz sobre a cultura indígena brasileira. Um espetáculo ímpar, emocionante, importante e imperdível, que o público de Belo Horizonte provavelmente verá no segundo semestre deste ano – é o que acena a produção do espetáculo, que realizou apenas duas apresentações pela Mostra Principal desta edição do Festival de Curitiba, que teve início dia 27 passado e segue até próximo domingo (7).

Na sexta-feira (5) trataremos de "Recusa". Nesta quinta (4) falaremos de dois espetáculos do Fringe, a mostra paralela do festival onde 374 espetáculos tentam atrair atenções da mídia. É o caso de "O Diário do Último Ano" e "Circo Negro".

Monólogo

"O Diário", produção da Cia. Paisagens Poéticas, dirigida por Gustavo Bones, ator do Espanca!, está creditado no guia do festival como Dança. O que não pareceu uma categorização muito ajustada. Baseado nas anotações que a escritora portuguesa Florbela Espanca registrou no último ano em que viveu, quando conseguiu consumar sua terceira tentativa de suicídio, o espetáculo está mais próximo de um mix de muitas coisas. Mais que o retrato de uma artista tumultuada, o espetáculo pretende retratar a condição da mulher. Pena, não conseguir encontrar um foco adequado de nenhuma destas condições e/ou circunstâncias.

Para quem ainda não conhecia e toma conhecimento da literatura de Florbela Espanca através do espetáculo, a decisão de proferir partes do texto num jorro, sofregamente, ou quando se ocupa de ações que lhe exigem fôlego, só prejudica a compreensão do que se diz.

Júlia Branco, a atriz que interpreta o monólogo, não parece à altura da interiorização que as confissões do seu personagem convocam, uma intensidade que a música de fundo não ajuda a superar.

Claro, é muito louvável a decisão de tratar no teatro uma escritora respeitável, autora de uma obra de intenções aprofundadas, ainda que o resultado deste desejo deixe um tanto a desejar. Afinal, sempre merece respeito resistir às vulgarizações, tão predominantes, mesmo quando não se consegue alcançar o refinamento, algum acréscimo ao que se aborda.

Apontado como uma das promessas, ‘Circo Negro’ decepciona

A realidade costuma demonstrar que a pretensão de materializar uma boa ideia nem sempre é tão fácil quanto parece. É o caso de "Circo Negro", da Cia. Senhas, de Curitiba.

Apontado como uma das grandes promessas do Festival de Curitiba, o melhor que o teatro local teria a exibir, se mostrou apenas decepcionante.

A vontade de atingir um humor sutil, irônico, corrosivo, que só atingiu um painel quase congelado de uma graça a fórceps, de caricaturas empoeiradas, de pretenso nonsense. Equívoco de tons que nem o texto do argentino Daniel Verone pôde salvar.


*O repórter viajou a Curitiba a convite da produção da 22ª edição do Festival de Curitiba.

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