Mostra de Cinema de Tiradentes: a magia do cinema conspira a favor

Paulo Henrique Silva - Hoje em Dia
29/01/2014 às 07:13.
Atualizado em 20/11/2021 às 15:39
 (Universo Produção/Divulgação)

(Universo Produção/Divulgação)

TIRADENTES – Ana Moravi fez empréstimo no banco, contou com a ajuda financeira da mãe, usou a casa de uma tia como quartel-general e dormitório da equipe e ainda se desdobrou em várias funções durante a filmagem “A Mulher que Amou o Vento”, longa-metragem que estreia nesta quarta-feira (29), às 19h30, na 17ª Mostra de Cinema de Tiradentes.

“Escrevi o filme, dirigi, cuidei da arte e da produção de set, além de ser também a motorista, numa época em que o sol estava de rachar. Apesar dessa equipe tão enxuta, com apenas seis pessoas, deu tudo certo. Acho que era a magia do cinema em ação, conspirando até para que tivéssemos cinco dias de céu aberto”, registra Ana.

Os elementos da natureza não só contribuíram para oferecer um “sol de Cinema Novo”, como a diretora define a luz forte e dura de Ipoema e Nova União, duas das locações utilizadas pelo filme, como também estão no centro da trama dessa produção independente, que concorre ao troféu Barroco da mostra mineira.

Valendo-se de alguns mitos gregos, Ana acompanha o encontro dos deuses Clóris (flora) e Zéfiro (vento) como uma maneira de refletir dramaturgicamente a necessidade da imagem em ter um corpo material para estabelecer sua comunicação com o mundo. “É igual ao vento, uma potência que precisa de outros corpos para dar invisibilidade a ele”, destaca.

Ana observa que não é por estar invisível que um determinado elemento deixará de estar presente na imagem, citando a memória como exemplo. Esse pensamento surge no filme na forma de uma história de amor. “Flora é a deusa da beleza e o Vento é forte e violento. A relação entre eles leva a uma transformação”.

O longa também flerta com o realismo fantástico, promovendo citações diretas ao poema “O Iniciado do Vento”, do escritor mineiro Aníbal Machado, presente no livro “A Morte da Porta Estandarte e Outras Histórias” (1965). Há um questionamento sobre o que é real e fantasioso na figura do vento, interpretado pelo cineasta Dellani Lima, marido de Ana.

A diretora acredita que o filme seja o trabalho mais estilizado entre os sete concorrentes da mostra competitiva de Tiradentes. “Tem um flerte com as artes visuais. Também uso bastante plano fixo, com a mise-em-scène se desenvolvendo dentro desse quadro, o que leva ao teatro.”
“Diálogo entre Culturas”

Outra atração da grade de programação da Mostra de Tiradentes é o seminário “Diálogo entre Culturas”, a partir das 15h, no Cine Teatro Sesi, nomes internacionais do audiovisual vão conhecer o cinema brasileiro independente. O objetivo é difundir a produção nacional, contribuindo para o intercâmbio e o diálogo entre as culturas. Entre os convidados estão Laurence Raymond, programador do Festival de Cannes, e Marika Kozlovska, consultora alemã de mercados internacionais.

(*) O repórter viajou a convite da organização da Mostra de Tiradentes

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