
Tâmara Braga sempre foi cinéfila. Bem antes de assumir a coordenação da Mostra Imagem dos Povos, que ganhará mais uma edição a partir deste domingo, ela fez mestrado em cinema e educação e foi a primeira proprietária do Cine Belas Artes. Ainda assim, nunca tinha ouvido falar em Alice Gay-Blaché, a primeira pessoa a fazer filmes de ficção no mundo.
“Foi uma grande surpresa. Além de ser a primeira diretora de ficção, Alice inventou muita coisa, como a colorização, a sincronização do som com a câmera e a direção de atores. Depois ela caiu no ostracismo e muitos de seus filmes foram atribuídos a outras pessoas”, registra Tâmara, que fará uma homenagem especial à cineasta francesa na Imagem dos Povos.
A mostra, com início, não por acaso, no dia internacional da mulher, busca ajudar a devolver este protagonismo a Alice, já que, durante décadas, George Méliès foi considerado o “pai” da ficção no cinema.
“Foi um choque saber, depois de tantos anos, que não era Méliès, mas sim uma mulher”, reforça Tâmara, que exibirá 28 filmes da realizadora.
Alice e Méliès, por sinal, estavam na histórica primeira sessão pública do cinematógrafo, realizada em 5 de dezembro de 1895, em Paris. Mas já havia conhecido o aparelho seis meses antes, quando era secretária de León Gaumont, que começava a dar os primeiros passos no cinema, durante uma demonstração especial feita para o empresário.
“Ela disse a Gaumont que queria filmar na forma de contos e, um ano depois da apresentação, pelos irmãos Lumière, do cinematógrafo (conhecido como a data da invenção do cinema), ela já lançava ‘A Fada dos Repolhos’”, registra Tâmara. Por 24 anos, Alice dirigiu centenas de curtas-metragens e 22 longas, dos mais diversos gêneros.
“Alice chegou a filmar com 300 figurantes em ‘La Vie du Christ’ (1906), dez anos antes de D. W. Griffithao realizar ‘O Nascimento de uma Nação’”, destaca Tâmara, que também destaca os elementos feministas presentes no trabalho da cineasta. Um deles é “As Consequências do Feminismo”, que traz homens e mulheres em papéis invertidos, com os primeiros fazendo tarefas de casa.
Para quem quer conhecer a trajetória de Alice, uma dica é assistir ao documentário “Be Natural”, narrado por Jodie Foster, e que terá a primeira exibição no Brasil durante a Mostra. A programação é completada com filmes contemporâneos dirigidos por mulheres, entre eles os brasileiros “Aos Olhos de Ernesto”, de Ana Luiza Azevedo, e “Três Verões”, de Sandra Kogut.
Serviço
“Mostra Imagem dos Povos” – De domingo a 19 de março, no MIS Santa Tereza (Rua Estrela do Sul, 89). Entrada franca. Programação em imagemdospovos.com