Mostra no Inimá de Paula reúne 59 obras de Cândido Portinari

Clarissa Carvalhaes - Hoje em Dia
18/03/2014 às 07:45.
Atualizado em 20/11/2021 às 16:41
 (Divulgação)

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Há 71 anos, a parceria entre um mecenas e um pintor ultrapassou os laços profissionais, personificando uma das mais contundentes amizades das artes plásticas brasileiras. Era 1943 quando Raymundo de Castro Maya (1894–1968) entrou em contato com Cândido Portinari (1903–1962) para que esse criasse uma série de ilustrações para o livro “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, do escritor Machado de Assis.

“O projeto era audacioso. A ideia de Castro Maya era editar livros de arte tendo como base a literatura brasileira. A primeira edição seria com o clássico de Machado de Assis e, para tanto, Portinari foi convidado, executando o pedido com maestria”, conta Anna Paola, curadora da mostra “Portinari na Coleção Castro Maya” que pode ser vista a partir desta terça-feira (18), no Museu Inimá de Paula.

Segundo ela, bem mais que apresentar ao público variadas técnicas que o artista dominava, como pinturas, desenhos e gravuras, a exposição revela a cumplicidade entre dois amigos que o percorrer dos anos tratou de preservar e fortalecer. “BH, que há pouco recebeu os painéis ‘Guerra e Paz’ (1952 e 1956), tem a chance de se aproximar ainda mais do artista, mas também conhecer o homem que tanto contribuiu para a arte no país. Este é o grande diferencial da mostra”, assegura.

Organizada em núcleos, a exposição convida o visitante a conhecer as obras segundo as diferentes facetas de atuação de Castro Maya. O núcleo “Colecionador” traz as obras de Portinari adquiridas por ele em leilões, galerias de arte e no próprio ateliê do artista.

Em “Mecenas” são apresentados trabalhos relacionados a encomendas e a projetos especiais partilhados por Castro Maya e Portinari. Já no módulo “Amigo”, faz-se menção ao relacionamento pessoal a partir de obras ofertadas por Portinari. Todos os núcleos se complementam com documentos, fotografias e materiais bibliográficos.

Mecenas morreu seis meses após amigo

A paixão de Cândido Portinari (1903–1962) pela pintura e sua recusa em abandoná-la foi o grande desencadeador de sua morte. É sabido que, desobedecendo ordens médicas, o artista continuou pintando freneticamente até morrer por intoxicação. “Estão me impedindo de viver”, comentou certa vez o artista sobre a proibição de pintar.

Já nesse período de grande produção artística e rebeldia em prol da arte, Portinari e o mecenas Castro Maya (1849–1968) já se davam como amigos. “No início, Castro adquiria os trabalhos de Portinari por reconhecê-lo como devido e verdadeiro artista, mas desde a execução do primeiro trabalho os dois tornaram-se amigos”, revela Anna Paola que, além ser responsável pela curadoria da mostra “Portinari na Coleção Castro Maya”, é também curadora do museus Castro Maya no país.

“Muitas obras, ao longo dos anos, passaram a ser feitas especialmente para Castro, presentes que foram dedicados ao amigo por muitos anos. Um dos primeiros, inclusive, faz parte dessa mostra. A tela é um retrato de Castro, um presente dado no Natal de 1943”, comenta Anna.

O mecenas, nascido em Paris e criado no Rio de Janeiro, morreu seis anos após o amigo, após sofrer um enfarte fulminante.

Em tempo: Desde 2008, “Portinari...” percorre várias cidades do Brasil. Apesar da mostra por aqui fazer parte de uma nova itinerância (patrocinada pela Petrobrás a partir do Edital de Circulação de Exposições), a exposição volta para casa, no Rio de Janeiro, onde não tem previsão de seguir viagem.

“Portinari na Coleção Castro Maya” no Museu Inimá de Paula (r. da Bahia, 1.201, Centro). Terça, quarta, sexta, sábado, das 10 às 19 horas. Quinta, das 12 às 21 horas. Domingo, das 12 às 19 horas. Até 4/5

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