Mulheres de BH mostram que é possível, sim, ser elegante sem salto alto

Cinthya Oliveira - Hoje em Dia
25/05/2015 às 08:26.
Atualizado em 17/11/2021 às 00:11
 (Frederico Haikal)

(Frederico Haikal)

Na semana passada, nas redes sociais se pôde ver um grande debate em torno de um fato ocorrido no Festival de Cannes. O assunto nada tinha a ver com cinema ou com alguma temática que os principais candidatos à Palma de Ouro pudessem ter suscitado. A polêmica estava em torno de uma publicação do site Screen Daily sobre um suposto impedimento de um grupo de mulheres com mais de 50 anos de passar pelo tapete vermelho por um simples motivo: elas não estariam de salto alto.

A assessoria de imprensa do festival não demorou a desmentir a informação, dizendo que seu dress code – ou código de vestimentas, numa tradução livre – obriga apenas o uso de smoking, para homens, e vestidos longos, para mulheres. Verdadeira ou não, a história levantou um debate dentro e fora do evento.

Numa coletiva sobre o filme “Carol”, a atriz britânica Emily Blunt comentou o assunto: “Todo mundo deveria usar sapatos sem salto. Eu mesma prefiro usar All Star. Esse tipo de atitude (do festival) faz a gente repensar como muitas pessoas ainda acham que as mulheres só podem ser rentáveis e interessantes, como os homens, se forem impecáveis no modo de se vestir”, declarou.

Liberdade

A prova de que mulheres são livres para usar quaisquer sapatos, a qualquer momento ou ocasião, está nas ruas. Cada vez mais é possível encontrar pessoas que se mostram belas, elegantes e femininas em calçados bem mais confortáveis. Uma delas é a cantora Julia Branco, de 29 anos, integrante do grupo Todos Caetanos do Mundo. Ela é uma daquelas mulheres que usam salto em ocasiões especialíssimas – como casamentos – e, ainda assim, faz questão de buscar um modelo que não a deixe tão mais alta.

“Não me sinto elegante de salto, acho que tem que ser uma mulher que gosta e sabe usá-lo”, diz Julia, que prefere os baixinhos até mesmo em shows. “Teve uma vez em que uma pessoa chegou para mim com uma roupa linda para usar em uma apresentação que combinava com um salto. No meio do show, não aguentei e tirei o sapato. Quando estou no palco, gosto de sentir o chão”.

A cantora acha feio ver uma mulher usando um salto bem alto e demonstrando dificuldade em se equilibrar.

Em nome do conforto

Advogada bem requisitada em Belo Horizonte quando o assunto é causa trabalhista, Magui Parentoni Martins usou salto alto durante muito tempo. Mas há cinco anos, ela começou a dar preferência para os sapatos baixinhos, em nome do conforto e da saúde. Mas sem abrir mão da elegância que a sua profissão requisita.

“Gosto de usar salto, mas isso exige um maior esforço o dia inteiro e temos que ir às audiências. Hoje tenho 60 anos e, para mim, é mais confortável usar sapatilhas ou sapatos sem salto. Tenho usado essas opções até mesmo para sair à noite”, diz Magui.

 

 

JULIA – Cantora e integrante do grupo Todos Caetanos do Mundo não gosta de salto nem mesmo em cima do palco (Foto: Frederico Haikal/Hoje em Dia)

‘Tenho preguiça da moda que muda o tipo de salto a cada estação’

Há muitas mulheres que se sentem desconfortáveis em usar salto alto por causa de sua altura – somente quem já se sentiu entre as pessoas mais altas de uma festa sabe quão desconcertante pode ser a situação. É o caso da artista e maquiadora Cacá Zech, de 35 anos, que possui 1,75 metro de altura.

Além disso, ela acredita que os baixinhos combinam mais com seu estilo descolado. “Nunca me dei bem com saltos. Já me acho muito alta, e é um tipo de sapato que me incomoda muito. Sempre tive a certeza que não preciso respeitar regras, que preciso mesmo é respeitar meu corpo. Meus sapatos favoritos são sapatos modernos, diferentes. Adoro sapatos. E amo tênis, tenho uma mini coleção de All Stars”, afirma.

Quando Cacá venceu o prêmio Avon Color 2014, na categoria Artes Cênicas, ficou em dúvida se deveria ir à festa de acordo com o padrão ou conforme o seu gosto. Mais uma vez, escolheu o conforto.

“Fiquei morrendo de medo, confesso, de estar fora do padrão, mas encarei minha verdade. Fiquei com medo de colocar um salto só para constar nos protocolos e quando fosse buscar meu prêmio me enroscasse na caminhada”, admite Cacá, para quem a feminilidade não depende de apetrechos como um salto. “A energia feminina é algo interno, a sensualidade é um estado de espírito e a beleza uma questão de autoestima”.

Livre para calçar

Quando era mais nova, a designer e professora universitária Carol D’Alessandro, de 36 anos, costumava usar salto alto no dia a dia. Mas sua passagem pela Europa foi importante para mudar conceitos.

“Quando fui morar em Paris, passei a andar muito pela cidade. Teve uma vez em que meu pé ficou cheio de bolhas e disse para mim mesma que não ia usar mais. E realmente, lá não usei salto em mais nenhuma ocasião. Engraçado que uma amiga que está agora em Londres me relatou uma experiência parecida”, lembra.

De volta ao Brasil, ela passou a usar muito mais tênis e deixar o salto para raros momentos. “Não é confortável, machuca o pé e faz mal à saúde. Para quem anda muito ou fica muito tempo em pé, não é nada prático. Tenho preguiça da moda que muda o tipo de salto a cada estação. Uma hora é um salto fino, outra é um salto mais quadrado, e a moda te instiga a comprar mais e mais”.
 

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