Murilo Salles em Tiradentes: em busca da essência do cinema

Paulo Henrique Silva - Hoje em Dia*
28/01/2014 às 06:40.
Atualizado em 20/11/2021 às 15:37
 (Universo Produção/Divulgação)

(Universo Produção/Divulgação)

TIRADENTES – Diretor de filmes com narrativas de muitas reviravoltas e grandes orçamentos, como “Faca de Dois Gumes” (1986) e “Como Nascem os Anjos” (1996), Murilo Salles tem se dedicado cada vez mais às pequenas produções autorais, abrindo espaço para os documentários. “Na ficção, você pode tudo. Já o documentário lhe deixa mais humilde. Você aprende olhando e o ato de olhar é o ato do cinema”, registra o realizador.

Há um preço a se pagar por essa opção, como algumas portas fechadas num mercado mais preocupado em ganhar dinheiro com comédias escrachadas. “Não gosto de comédia de Woody Allen, quanto mais dessas comédias idiotas que o cinema brasileiro vem fazendo. Mas é uma opção que fiz”, avisa Salles, que apresentou, na noite de domingo, na 17ª Mostra de Cinema de Tiradentes, seu mais recente filme, “Passarinho Lá de Nova York”.

O protagonista do documentário, Cícero Filho, representa exatamente esse desejo do cineasta carioca em retomar a essência do cinema, movendo-se simplesmente pela paixão de fazer. “Esse filme é sobre o grande perrengue que é produzir arte no Brasil, só superado quando envolvemos muito amor. Sou como Cícero. A coisa mais importante para mim é o exercício de minha paixão”, assinala, que estava com seu personagem ao lado na mesa de debates.

Fenômeno

Embora desconhecido em Minas Gerais, Cícero é um fenômeno no Nordeste. Seu longa “Ai que Vida” é um campeão de venda nas bancas piratas da região. Nascido no Maranhão, ele já contabiliza 26 longas-metragens, número impressionante até mesmo para um realizador tarimbado como Salles, que começou fazendo curtas em 1969. Para o veterano, o colega maranhense é o maior exemplo da “viração” do brasileiro.

“Tenho um projeto maior, chamado ‘És Tu Brasil’, cuja intenção é tentar verificar o sintoma particular do brasileiro. Independentemente dos procedimentos absolutamente muito próprios de produção de nossos artistas, todos têm em comum o fato de se virar muito bem. E é um sintoma ruim. Um francês de 50 anos que perde o emprego pensa 30 vezes em suicídio, enquanto um brasileiro na mesma situação segue a vida dele”, compara.

O documentário acompanha a saga de Cícero em levantar dinheiro para refazer algumas cenas de seu filme. Próximo do final, ele nitidamente se emociona ao ver seu intento sendo concretizado. “O Cícero usa o afeto e a sedução para dar conta do cinema dele. É a matéria-prima de sua obra. As cenas em que está filmando representam momentos em que o documentário se silencia e o reverencia”, ressalta.

* O repórter viajou a convite dos organizadores da Mostra de Tiradentes
 

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