Musa brasileira na década de 70, Darlene Glória é a atração de hoje do “Curta Circuito"

Paulo Henrique Silva
Hoje em Dia - Belo Horizonte
20/03/2016 às 22:47.
Atualizado em 16/11/2021 às 01:51
 (Ipanema/Divulgação)

(Ipanema/Divulgação)

A exibição hoje, às 20h, de “Toda Nudez Será Castigada”, filme de Arnaldo Jabor lançado em 1973, tem um caráter celebrativo, marcando o início das comemorações de 15 anos do projeto “Curta Circuito”. Mas as filmagens não trazem exatamente boas recordações à atriz Darlene Glória, que estará presente à sessão, no Cine Humberto Mauro.

“Quando revejo esse filme tenho pena de mim”, revela Darlene em entrevista ao Hoje em Dia, às 10h30 de uma manhã de quinta-feira, enquanto ela prepara uma macaxeira na panela de pressão para seu desjejum. Aliás, panela de pressão é uma ótima analogia para o que essa musa do cinema brasileiro viveu no auge de sua carreira, na década de 70.

“A criação de Geni reflete um péssimo momento da minha vida”, explica Darlene, creditando a personalidade angustiada da prostituta de “Toda Nudez Será Castigada” aos conflitos que a atormentavam na época, quando, com jeito temperamental e franco, experimentou todos os tipos de drogas e uma forte depressão que quase a levou ao suicídio.

“Tinha perdido também a minha ‘irmã’, Leila (Diniz, falecida em 1972, num acidente de avião), e estava arrasada. Entrei num processo destrutivo e construtivo ao mesmo tempo, porque somatizei tudo e joguei na Geni. Naquele momento, minha vontade era de ser reconhecida como atriz e não como uma bonitinha, uma coisa descartável”, assinala Darlene.

Conversão

Como várias outras musas das décadas de 60 e 70, Darlene se antecipou ao amor livre, viveu personagens de mulheres fortes, que estavam sintonizadas com o seu tempo e, insatisfeita com o que o sucesso lhe oferecia, acabou se refugiando na religião, mesmo caminho seguido por Odete Lara e Matilde Mastrangi. “Tudo culminou com a minha conversão em Cristo”, ressalta.

Nascida em Cachoeira do Itapemirim, no Espírito Santos, há 72 anos, Darlene foi vedete de teatro de revista antes de estrear na tela grande em “Um Ramo para Luiza” (1964). Participou de produções importantes do cinema brasileiro, como “São Paulo S/A” e “Terra em Transe”, além de “Toda Nudez Será Castigada”, baseado no texto teatral de Nelson Rodrigues.

“Conheci Nelson só de vista, ao passar pela Avenida Atlântica de bicicleta e vê-lo na janela. Não conhecia as suas peças, mas sei que ficou muito alegre com o meu trabalho. Ele foi o repórter da vida brasileira, mostrando o que estava por trás da cena”, lembra Darlene, que, diferentemente do diretor Arnaldo Jabor, não gostava de discutir política.

“O Arnaldo fazia parte daquela esquerda festiva de Ipanema. Eu já não entrava muito nisso porque não poderia parar de trabalhar, não poderia ser presa”, registra a atriz, que, garante, nunca vestiu a “capa de celebridade”. Só acreditava no trabalho, desdobrando-se no cinema, no teatro e na televisão.

Apesar do sucesso, emocionalmente se sentia no “fundo do poço”. Sua glória, como ela mesma diz, foi ter se convertido. “Passei por conflitos terríveis, no coração e no espírito. A glória humana tem um gosto amargo, de frivolidade. Depois disso saí de cena e fui restaurar a minha alma. Aquela pessoa que não fui, passei a ser”, resume Darlene, que voltou ao cinema e à televisão em participações, “para matar a saudade”.

Serviço: “Toda Nudez Será Castigada”, segunda-feira, às 20h, no Cine Humberto Mauro do Palácio das Artes (Av. Afonso Pena, 1537, Centro). Entrada franca.
 

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