‘Não procuro dar certezas, mas colocar questões’, diz Stefano de Luigi

Patrícia Cassese - Hoje em Dia
09/08/2015 às 11:47.
Atualizado em 17/11/2021 às 01:17
 (Reprodução/ Twitter)

(Reprodução/ Twitter)

Na próxima terça-feira (11), o italiano Stefano de Luigi desembarca em BH para participar, às 19h30, no Museu de Artes e Ofícios, na Praça da Estação, de um bate-papo com o público. Terceiro colocado na Competição Aberta do Prêmio Syngenta de Fotografia, De Luigi é um dos profissionais cujo trabalho pode ser visto na mostra “Escassez/Desperdício”, em cartaz no próprio MAO, até o dia 23.

Nascido em 1964, e vivendo em Paris, Stefano é dono de um trabalho impactante, diante do qual é tarefa hercúlea se manter impassível. A seguir, trechos da entrevista que ele concedeu ao Hoje em Dia.

O que procura suscitar, com seu trabalho, no público?

No geral, o meu trabalho sempre se debruçou sobre temas de caráter social. Contemporâneos, diria. Já há algum tempo, e especialmente após a minha experiência no Quênia, me envolvi em alguns projetos que referem-se ao meio ambiente, à sua proteção e à sensibilização de questões ligadas a ele junto ao grande público. Como fotógrafo, o meu trabalho é veiculado de múltiplas formas (reportagens para grandes publicações, mostras fotográficas, festivais de fotografia, livros e, ultimamente, também, nesta grande vitrine que é o ‘social network’, as redes sociais, como Facebook e Instagram, no qual posso divulgar os temas sobre os quais trabalho. No curso dos anos, sempre me instigou trabalhar sobre o homem e a sua representação (moda, cinema, televisão...), pois, pouco a pouco, os meus interesses me levaram a trabalhar sobre temas mais gerais, como a cegueira (entendida mais como uma condição humana que como uma deficiência). São, geralmente, temas contemporâneos, que procuro explorar para poder levar, com o meu trabalho, chaves de interpretações. Quero, com o meu trabalho, que o público, observando as minhas fotografias, possa se interrogar. Veja, não tenho a ambição de fornecer as respostas certas, mas, se o público, ao sair de uma mostra minha, tiver perguntas a se fazer, se tem interrogações sobre aquilo que acabou de ver, então, posso me dar por satisfeito. Não quero ajudar a dar certezas, mas a colocar perguntas – aquelas justas.

Tem conseguido alcançar esse objetivo?

Acredito que nunca vou ter a certeza absoluta sobre aquilo que faço, mas procuro responder a uma exigência interior e a uma urgência que me impulsionam a trabalhar sobre alguns temas. Não me interessa muito desenvolver um trabalho em torno de um tema sobre o qual já sei que há um consenso geral. Procuro trabalhar sobre argumentos que são profundamente afins ao meu modo de viver, que representam as minhas inquietações e as perguntas que me coloco todos os dias. No curso do tempo, já recebi muitas confirmações sobre o meu trabalho – seja por meio de prêmios, comendas, testemunhos de fotógrafos jovens que seguem a minha trajetória ou de pessoas que, vendo minhas fotos em determinada mostra, me escreveram para dizer que foram impelidas a refletir sobre este ou aquele trabalho. São sinais que me fazem deduzir que estou indo na direção correta.

No próximo dia 11, você tem um encontro com o público belo-horizontino. Sobre o que deve versar a sua fala?

Pretendo repassar a experiência de ter visto, com os meus próprios olhos, um dos possíveis cenários futuros do mundo. Um futuro horrível, no qual homens e animais se enfrentam para poder sobreviver em um ambiente hostil, privado de seus recursos primários, como a água. Esse futuro poderá se tornar uma realidade para muita gente se não repensarmos, e o mais rápido possível, os modelos de exploração dos recursos e de crescimento. E quero que, no dia 11, uma parte do debate com o público seja reservada às perguntas e à curiosidade dos presentes, pois, desta forma, poderei responder mais precisamente às questões sobre meu trabalho em geral.

Acredita ser importante que a arte exercite essa função de levantar questões pertinentes à humanidade?

A arte, na minha opinião, deve fornecer possíveis chaves de leitura da realidade. O seu papel é aquele de estimular perguntas e fornecer pontos de vista originais sobre grandes temas da sociedade contemporânea, mas a arte é, por definição, livre de ideologias. A arte serve para alargar a visão, mas não deve dar certezas, não tem o mesmo papel da política.

Você já esteve em Belo Horizonte?

Nunca, mas conheço um pouco o Brasil e a sua cultura, a Bahia, e particularmente, Ilhéus, e o caos e o gigantismo de São Paulo. E também um pouco da Amazônia, mas não conheço Belo Horizonte. Estou, claro, muito contente e curioso de ir aí, ainda que brevemente.

Admira o trabalho de algum fotógrafo/artista brasileiro, em particular?

Miguel Rio Branco seguramente, e, ainda, Sebastião Salgado e Vik Muniz, mas espero, claro, nesta viagem, descobrir o trabalho de jovens fotógrafos. Não tenho dúvidas de que o Brasil dispõe de grandes talentos.

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