‘Não tenho ambição de poder, de riqueza, de nada’, diz Frei Betto

Elemara Duarte - Hoje em Dia
30/08/2015 às 10:46.
Atualizado em 17/11/2021 às 01:33
 (Ricardo Bastos / Hoje em Dia)

(Ricardo Bastos / Hoje em Dia)

Frei Betto fala ao Hoje em Dia, nesta segunda-feira (31), em entrevista no “Página Dois”, sobre a amizade com Fidel Castro, os “padres cantores” e o consumismo sem freios que ilude jovens.

E é com exatos 50 anos de vida religiosa – completados neste ano – , 71 de idade e mais de 60 livros publicados que Frei Betto se mostra um homem realizado na simplicidade da vida que escolheu, mas ainda com muito a contribuir, especialmente na literatura. Um dos próximos passos será um livro em que, ao lado do jornalista Heródoto Barbeiro, traça um “diálogo entre Buda e Jesus”.

“Tenho um grande trunfo na vida: tudo o que eu queria ser eu já sou e todas as minhas ambições se resumem a apenas continuar fazendo o que eu faço, que é escrever, palestrar – que é a minha fonte de renda, mais que a literatura – e assessorar movimentos pastorais e sociais”, afirma o autor, que reserva 120 dias do ano para escrever. “Não são seguidos, mas são sagrados”, simplifica.

Simples também é o modo de vida do escritor: “Moro em um quarto com um banheiro. É uma área de uns 15, 20 metros quadrados. Tenho muitos livros em vários lugares do convento (Convento Santo Alberto Magno, em São Paulo), porque no meu quarto não cabe. Além de muitos livros que encaminho para nossa biblioteca comum”.

E tanto amor dedicado aos livros chega ao além da vida terrena, que para ele será “um oceano de amor”. “Eu tenho muitos livros a ler e espero que a eternidade seja como escreveu Jorge Luis Borges: ‘uma grande biblioteca’”.

Por outro lado

Na entrevista, Frei Betto lamenta que muitos jovens deste século estejam se empenhando mais em “ter” do que “ser”, especialmente empurrados pelo consumismo. “Salvo honrosas exceções, vejo muitos jovens centrados em quatro supostos valores, em termos de ambição de vida: poder, fama, beleza e riqueza”, enumera.

Para o escritor, isso é um dos fatores que justificam a devastação provocada pela dependência química e pelo uso de drogas. “Porque o desejo humano existe para ser centrado no absoluto, mas o consumismo leva ao absurdo, e o absurdo é um beco sem saída”.

Assim, quanto mais “absurdos” os desejos, mais vazios. “E o buraco do peito exige ser aplacado pela droga ou por algum tipo de dependência química”, complementa.

E há solução para este grupo da juventude? “Acostume os filhos a cultivar sentimentos religiosos mas, sobretudo, gestos de solidariedade. Se isso não é feito desde a infância, é difícil que mais tarde haja uma correção de rumo”, ensina o frade dominicano.

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