Na peça '68', histórias esparsas resultantes do regime militar são reunidas

Bernardo Almeida
Publicado em 23/09/2019 às 08:28.Atualizado em 05/09/2021 às 21:53.
 (Fernando Barbosa e Silva / Divulgação)
(Fernando Barbosa e Silva / Divulgação)

Cenas autônomas juntam-se, sem linearidade narrativa, para contar dramas familiares vividos no auge do regime militar na peça “68”, cartaz a partir da próxima sexta-feira, no Teatro Marília.

Responsável por roteiro, direção, iluminação, cenário, figurino e trilha sonora da peça, o dramaturgo Luiz Paixão toma o ano de 1968 como base para retratar a ditadura militar, como já havia feito em “68 - Nos embalos da Jovem Guarda meu coração é luta armada”. Desta vez, os movimentos de resistência não são o foco, mas sim histórias comuns de dramas ligados ao momento político. 

“As cenas promovem essa discussão em torno da família, já que um dos argumentos para o golpe de 64 foi a sustentação da família. Só que inúmeras famílias foram absolutamente destroçadas pela ditadura, foram famílias que perderam pais, mães, tios, parentes”, aponta o diretor. 

Dentre as histórias isoladas, todas localizadas em Belo Horizonte, haverá relatos de pais encarando a morte de um filho, a demissão de um professor contrário ao regime e a descoberta de uma filha de que o pai, médico, participa de sessões de tortura. Tudo amparado pelo teatro épico-dialético de Bertolt Brecht, em cenário composto por seis cadeiras movimentadas por seis atores, que se mantêm em presença constante em todas as cenas.


O ano que não acabou

Assim como o período ditatorial é questão recorrente para Luiz Paixão, também é constante a escolha pelo ano de 1968 enquanto símbolo daquele momento. “68 é a marca mais importante, talvez até do que 64, pois foi o ano em que a sociedade civil começou a se organizar, desde movimentos estudantis e operários a políticos como Juscelino Kubitschek e até Carlos Lacerda, que havia apoiado o golpe quatro anos antes”, lembra. 

Uma das cenas faz referência ao momento que antecedeu o AI-5 (Ato Institucional nº 5), medida baixada em dezembro de 1968, resultou no fechamento do Congresso Nacional e tornou-se símbolo máximo da repressão a liberdades individuais, dando poder de exceção ao general Costa e Silva para punir quem fosse considerado inimigo.

“A partir de um discurso oficial, foi criada uma ideologia. O grande problema do golpe não foi só derrubar o Jango, mas estabelecer uma nova relação de poder, instituída uma nova mentalidade, uma nova ideologia no país, que ainda se manifesta nos dias de hoje no governo Bolsonaro’, opina Luiz Paixão, que chegou a ter espetáculos censurados parcial ou inteiramente na década de 1970.

Serviço
Peça “ 68” Dias 27 e 28 às 20h30, com exibição de curtas antes da peça, às 20h Dia 29 às 19h, em exibição sucedida por debate Teatro Marília (Av. Professor Alfredo Balena, 586 - Santa Efigênia) Ingressos na bilheteria do teatro a R$ 44 (inteira) e R$ 22 (meia), e R$ 20 pelo site do Sinparc (www.vaaoteatro.com.br)

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