Narizinho, de 'Sítio do Pica-Pau Amarelo', completa 100 anos

Paulo Henrique Silva
phenrique@hojeemdia.com.br
02/01/2021 às 23:35.
Atualizado em 05/12/2021 às 03:49
 (REDE GLOBO/DIVULGAÇÃO)

(REDE GLOBO/DIVULGAÇÃO)

Com Lúcia Encerrabodes de Oliveira, Monteiro Lobato deu início, há 100 anos, a uma das mais famosas coleções da literatura brasileira infantojuvenil – o “Sítio do Pica-Pau Amarelo”. Lúcia é o nome de batismo da personagem que seria lembrada pelo apelido de Narizinho, neta de Dona Benta, dona da boneca Emília e protagonista de várias aventuras que marcaram gerações, na forma de livro e também na televisão.

Publicado em dezembro de 1920, o livro “A Menina do Narizinho Arrebitado” foi pioneiro em diversos aspectos. Além de participar dos movimentos iniciais da literatura infantojuvenil no país, ela marcou época ao se tornar a primeira personagem principal feminina brasileira da literatura voltada para crianças. Antes, é bom que se diga, até da espevitada Emília, que só teria o nome estampado no título em 1934.

“Narizinho era o contraponto de Emília: inteligente, vivaz, estudiosa e brincalhona. Já a boneca era malcriada”, registra Marília Paiva, professora do curso de Biblioteconomia da UFMG e que presidiu o Conselho Regional de Biblioteconomia de Minas Gerais e Espírito Santo, entre 2018 e 2020. Ela destaca que “A Menina do Narizinho Arrebitado” busca tratar as crianças como leitores inteligentes, sem simplificar a linguagem deles. 

“A história é complexa, com muitas coisas acontecendo. Uma hora a Narizinho está conversando com o Príncipe das Águas Claras, que mora no fundo do oceano. Em outras, está em tempos diferentes da história mundial. Não é um livro moralista, que ensina meninos e meninas a se comportarem. É muito livre em relação aos temas e às mudanças de tempo e espaço”, analisa Marília.

Para a professora, é fundamental reconhecer o papel de Monteiro Lobato na literatura brasileira e discutir a inserção da obra do escritor nas escolas. Uma polêmica veiculada em 2010, sobre o conteúdo racista presente em “Caçadas de Pedrinho” (1933), levada ao Supremo Tribunal Federal, deixou educadores e bibliotecários com um pé atrás em relação à indicação dos livros do autor.

"A partir daí, ficaram muito constrangidos em lidar com a obra de Monteiro Lobato, receosos de estarem reforçando o racismo. Com tantos livros para se ler, acharam melhor deixar esses livros para outro momento. Eles são mediadores e podem muito bem explicar tudo isso às crianças, sem perder a riqueza que a obra traz, como uma literatura de primeira qualidade”, pondera Marília.

Nove anos após a celeuma, o autor de novelas Walcyr Carrasco – responsável pelos primeiros capítulos da série baseada em “Sítio do Pica-Pau Amarelo”, apresentada de 2002 a 2007 – deu nova roupagem aos livros de Lobato, oferecendo uma linguagem mais moderna, incorporando a internet e trocando palavras.

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