Noites dedicadas ao sertanejo são sucesso em casas noturnas de BH

Cinthya Oliveira - Hoje em Dia
15/05/2015 às 07:28.
Atualizado em 17/11/2021 às 00:02
 (Flávio Tavares)

(Flávio Tavares)

Quem gosta de ir ao Clube do Chalezinho aos domingos já sabe: tem que chegar cedo, se não corre o risco de ficar do lado de fora. No dia da semana dedicado ao sertanejo, a casa fica tão cheia que é possível se esquecer por um momento que o país vivencia uma crise econômica.

A casa noturna do Buritis é uma das várias da capital que investem em festas dedicadas ao sertanejo, mesmo que o gênero não seja o foco principal do espaço. O Chalezinho, por exemplo, trabalha com segmentação por noite – a sexta é dedicada aos mais jovens, com música eletrônica, e o sábado tem samba e pagode – e tem na noite sertaneja a aposta mais certeira.

Há mais de sete anos, o Clube do Chalezinho abre suas portas às 18h de domingo para shows da mesma dupla, Rick & Ricardo. “Começou como um projeto de verão. Era uma festa de música eletrônica com show sertanejo numa área interna do clube, para poucas pessoas. O verão acabou, continuamos a fazer e hoje recebemos mil clientes aos domingos”, diz o sócio-proprietário Vinícius Veloso. “Muitas vezes, às 20h já temos que fechar as portas porque a casa alcançou a lotação”.

O perfil do público da festa sertaneja é diferenciado: faixa etária de 28 a 35 anos, mais descontraído e disposto a gastar e, sobretudo, mais fiel. “Tem gente que vem todo domingo. É um pessoal que se conheceu aqui e aproveita para se encontrar”, completa Vinícius, explicando que a descontração é maior porque é o único dia da semana em que os homens são liberados para entrar de bermuda na casa.

Royal Club

Quando a filial belo-horizontina da Royal Club estava para ser aberta, no ano passado, os empresários perguntaram à matriz, em São Paulo, se era possível ter uma noite dedicada ao sertanejo – o que não existe por lá. A permissão foi dada e a casa de Nova Lima passou a investir no segmento às quintas.

“Nos últimos dez anos, o público, principalmente o mineiro, passou a ter um gosto maior pelo sertanejo. E isso atinge todas as classes sociais. A gente havia percebido isso por causa de eventos e pelos próprios clientes, que pediam uma noite com esse formato”, conta o sócio-proprietário da Royal Club André Munaier.

Mas a fórmula não é certeira para todos. Frequentado especialmente por um público roqueiro, o Studio Bar tentou ter uma noite sertaneja aos domingos. Após três edições, viram que o retorno não foi como o esperado.

Localizado no bairro Eldorado, em Contagem, o Clube Havanna também investe nesse segmento

Parcerias com famosos contribuem para que músicas sejam destacadas nas rádios

No universo do sertanejo, há público, espaço nas rádios, muitos eventos e procura por shows no interior. Mas isso não quer dizer que seja fácil atuar na área. Assim como existe demanda, há também uma grande concorrência entre os artistas e é preciso trabalhar muito não apenas no palco, mas também fora dele para conseguir uma boa divulgação.

Nascidos em Juiz de Fora e radicados na capital mineira, Rick e Ricardo acreditam que as parcerias podem fortalecer a carreira e a divulgação. Em seus trabalhos, a dupla já contou com participações de Fernando & Sorocaba (o maior destaque do sertanejo universitário ao lado de Jorge & Mateus), Emerson Nogueira e Tomate.

Chamariz

O tom mais “moderno” e pop dado ao show também é um chamariz. A dupla faz cerca de 15 apresentações por mês (especialmente na capital e interior de Minas) com foco em um repertório eclético e dançante – ou seja, mais próximo da linha “universitária” que vem dominando o dial.

“Começamos há 12 anos e vemos que hoje o sertanejo é bem mais popular, com uma maior aceitação do público. Antigamente, achavam que sertanejo era uma música ouvida pelas domésticas e agora acabou o preconceito das classes mais altas e dos mais jovens. Isso porque o sertanejo se modernizou”, explica Ricardo, de 26 anos, irmão de Rick, de 30 anos.

Lu & Tchelo

Enquanto a maioria dos artistas desse meio começa na adolescência, Lu e Tchelo passaram por uma experiência bem diferente. Lu é formado em Comunicação Social e era sócio em uma empresa de materiais médicos, enquanto o seu primo Tchelo trabalhava como engenheiro na Fiat. Quando fizeram 30 anos de idade, arriscaram alto: deixaram de lado as carreiras mais seguras para assumirem a música com total prioridade.

“Talvez estivéssemos financeiramente melhor, se não tivéssemos feito a mudança. Mas continuamos acreditando em um sonho. Plantamos, regamos todos os dias e esperamos pelo dia da colheita”, afirma Lu, de 38 anos, que realiza uma média de cinco shows por mês com o primo, focando especialmente em um sertanejo mais tradicional.

Segundo ele, a concorrência no setor é enorme porque os leques do sertanejo foram muito ampliados. “Artistas que eram de outros segmentos procuram hoje se caracterizar como sertanejos, para ter uma maior penetração no mercado. Agora é difícil saber bem o que é sertanejo, porque é possível fazer arranjos que dialogam com pop, axé, funk. Com tudo”, afirma Lu.

Recentemente, a dupla lançou a música “Pirando de Novo”, gravada com Bruno & Marrone. “É um mercado muito dinâmico. Antes um hit tocava durante um ano e, agora, todo dia tem novidade”.

“Pirando de Novo”, música em que Lu& Tchelo convidam Bruno & Marrone para participação, teve mais de 204 mil visualizações no YouTube em um mês de divulgação

‘Villa Mix’ é exemplo de movimentado mercado de grandes eventos voltados para o gênero

Assim como não faltam opções aos fãs do sertanejo no roteiro boêmio tradicional – vale lembrar que a capital tem algumas casas dedicadas exclusivamente ao gênero, como Alambique, West Pub e Wood’s –, também há opções constantes de grandes eventos.

Além das várias feiras e rodeios no interior, o público conta com uma agenda movimentada na capital e arredores. Na semana passada, o Mineirão recebeu o “Festival Brasil Sertanejo”. Neste sábado (16), é a vez de acontecer no Mega Space o “Villa Mix”, versão itinerante do grande evento de Goiânia.

Europa

Na programação, estão nomes destacados, como Jorge & Mateus, Guilherme & Santiago, Humberto & Ronaldo, Bruno & Marrone e Cristiano Araújo. O sucesso da marca é tão grande que o “Villa Mix” acontecerá pela primeira vez em outro país em setembro, quando desembarca em Lisboa – um sinal de que a paixão pelo sertanejo já tem atravessado o Atlântico.

“O cenário que trouxemos para Belo Horizonte é praticamente o mesmo que apresentamos em Goiânia. O diferencial deste ano é que vamos utilizar um galpão ao fundo, em vez de tenda”, explica o projetista do “Villa Mix”, Miguel Gomes.

A estrutura de shows e itinerância é tão grande que o “Villa Mix” se vende como o maior evento musical do país, com direito a artistas que fazem parte de outros gêneros populares – neste ano, a programação conta com Wesley Safadão.

Não demora muito a ter outro evento. De 3 a 7 de junho, acontece o “Pedro Leopoldo Rodeio Show”, um evento em que trabalham (de forma direta e indireta) aproximadamente mil pessoas. Pelo palco principal, passarão Cristiano Araújo, Israel Novaes, Eduardo Costa e Jorge & Mateus.

“Villa Mix”: Neste sábado (16), a partir das 15h, no Mega Space, em Santa Luzia: villamixfestival.com.br

“Pedro Leopoldo Rodeio Show”: plrs.com.br

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