”, lançada pela editora Versos.
Na obra, ela não esconde o “tesão incontrolável”. Nem os romances, inclusive com Alain Delon, capazes de deixar no chinelo vários escândalos dos dias atuais envolvendo atrizes hollywoodianas.
Mas reserva poucas linhas para as adversidades da vida – como o tempo em que ficou presa a uma cadeira de rodas, após durante as gravações do programa “Toma Lá da Cá”, em dezembro de 2009, na Rede Globo, o último papel que teve diante das câmeras. Também não menciona as dívidas que a obrigaram a se desfazer de joias e quadros antes de morrer, em 2013, vítima de um câncer no pulmão.
A explicação para tantas omissões sobre os últimos 40 anos, como o fato de ter tido contas bancárias e bens bloqueados pela Justiça após irregularidades na prestação de contas de “O Guarani” (1996), segundo longa-metragem que dirigiu, está no derradeiro parágrafo do livro: “Não preciso me lembrar de tudo, pois prefiro imaginar as coisas”.
Destaca também que nada da juventude se perdeu, permanecendo impressa no “tempo, nos celuloides, como a beleza fixada para sempre no inconsciente de todas as pessoas”.
BEM-RESOLVIDA
É nessa imagem, da mulher emancipada, desbocada e atrevida, que a Norma autora se agarra, registrando casos amorosos com detalhes, inclusive a “relação longa, diferente e inesperada” ao lado de Gilda Grillo, no fim da década de 60.
No auge da carreira, quando trabalhava na França e na Itália ao lado de grandes estrelas da época, ela relata o que define como “jogo sadomasoquista”: o envolvimento com Alain Delon.
Na época, Norma tinha um caso com o produtor de “O Mafioso”, Alberto Sordi, mas não resistiu aos encantos do astro francês, que gravava “O Leopardo” na região. Do bar do hotel, foi para o quarto, seguida por Delon.
Sordi foi atrás, mas Norma disse que estava dormindo. “Alain se vestiu às pressas e fugiu pela janela, pulando de varanda em varanda como um Romeu, até conseguir entrar em um quarto”, descreve.
Ao ver as botas do rival sob a cama, Sordi cobrou uma explicação. “Eu não podia responder o que pensava. Alain Delon e eu éramos muito parecidos: lindos, livres, leves, soltos e jovens”.
Depois de receber um tabefe de Sordi, Norma subiu para o quarto do galã francês. Foi aí que começou um “romance clandestino e delirante” com um “amante inigualável, insaciável”. ‘A besta gozou, urrou, caiu para o lado e dormiu’
Norma Bengell já namorava o ator italiano Gabriele Tinti quando recebeu o pedido de socorro de um amigo para buscar Alain Delon, que estava numa boate provocando tumulto. Levou-o para casa, para esperar a bebedeira passar.
Altas horas da noite, a porta do quarto foi arrombada aos pontapés. “Era Alain, que pulou como uma fera sobre mim. Deitou-me de bruços, segurou meus pulsos e me possuiu. (...) No limite da dor, nasceu o meu desejo. Foi muito mais forte do que eu. Deixei meu corpo relaxar e não gritei ou gemi. Quando ele acabou, dei graças a Deus por estar viva. A besta gozou, urrou, caiu para o lado e dormiu”, recorda.
O sexo, muitas vezes, era feito com culpa, pois Norma tinha passado por seis abortos. Só ficou livre do sentimento quando foi apresentada ao diafragma.
“Fiquei eufórica com a descoberta: eu não teria mais que fazer abortos e poderia ter prazer livre, leve e solta. E o melhor de tudo, sem culpa”. Durante as filmagens de “Os Cafajestes”, fez o último aborto. “Subi as Dunas do Peró, em Cabo Frio, com sangue escorrendo entre as pernas”.
Das filmagens de “Os Cafajestes”, ela conta um episódio engraçado ocorrido com o ator e produtor Jece Valadão. Num fim de tarde, Norma o viu nadando sozinho na piscina do hotel. Mergulhou até ele e, quando foi para a superfície da água, surpreendeu-lhe dizendo que queria fazer amor imediatamente. “Ele entrou em pânico, ficou sem tesão. Saí nadando e rindo dessa que foi a única brochada assumida por ele”.