Nova peça do grupo Galpão é desenvolvida de forma coletiva, no improviso

Cinthya Oliveira (*) - Hoje em Dia
01/02/2016 às 07:22.
Atualizado em 16/11/2021 às 01:14
 (Flávio Tavares)

(Flávio Tavares)

O que o teatro pode dizer na atualidade que outras formas de fazer arte não conseguem? Essa é uma das várias provocações que o diretor e dramaturgo Márcio Abreu tem colocado para o Grupo Galpão desde o ano passado, quando começaram a construir um espetáculo que deve estrear no final de março ou início de abril.

Ainda sem nome, a peça está sendo desenvolvida de forma coletiva, dentro da sala de ensaio. O texto vai sendo construído a partir de encenações e improvisos que os atores vão indicando a partir de provocações do diretor. Quem amarra o resultado com um texto é Márcio Abreu e Eduardo Moreira, ator e diretor artístico do grupo.

“A primeira pergunta que lancei para o grupo foi: o que podemos fazer juntos? Poderíamos escolher um texto e montar uma peça. Sim, poderíamos. Mas o que, honestamente, poderíamos fazer juntos? E depois dos primeiros encontros, vimos que poderíamos fazer um trabalho inédito” conta Márcio Abreu.

Parte do processo foi conferido pelo público em quatro ensaios abertos, realizados em novembro. Ali já se pôde observar que o Galpão vai trabalhar com simultaneidade, ou seja, diferentes cenas serão apresentadas ao mesmo tempo.

“O Márcio é muito focado na ideia sobre o que o teatro pode nos dizer hoje em dia. E percebemos que o mais forte é o encontro entre o artista e o público e estamos pensando sobre como podemos afetar esse encontro entre artista e espectador”, conta Eduardo Moreira.

Atualidade

A partir das provocações, os atores foram levantando questões bastante pertinentes: a exclusão, a intolerância, o individual e o coletivo. “Queremos introduzir uma discussão sobre a realidade, sobre temas ligados aos dias de hoje”, completa Eduardo, que tem experiência de ação na área de dramaturgia por conta de peças em que atuou como diretor, tanto no Galpão como em outras companhias.

O grupo já trabalhou com textos coletivos em outras ocasiões, como em “Corra Enquanto É Tempo”, “Um Trem Chamado Desejo”, “Eclipse” e “Pequenos Milagres”.
 
Referência desde ‘Corra Enquanto É Tempo’

O carioca Márcio Abreu é um dos diretores mais elogiados da cena teatral brasileira dos últimos 15 anos. Ele é um dos fundadores da Companhia Brasileira de Teatro, iniciativa paranaense que ganhou destaque nacional pela densidade de seus trabalhos e a maneira com que trabalha – sem elenco fixo, com convidados e parceiros de todo país.

Além de se preocupar em ser um espaço para a pesquisa, criação e produção, a companhia chama a atenção por encenar textos que são inéditos em território brasileiro – como “Krum”, escrito pelo israelense Hanoch Levin, dirigido por Márcio e estrelado por Renata Sorrah, Grace Passô e grande elenco.

“Os autores contemporâneos foram entrando em nosso repertório não porque ficássemos procurando por isso, mas por serem textos que traziam questões com as quais estávamos lidando”.

O primeiro espetáculo do Galpão que Márcio assistiu foi “Corra Enquanto É Tempo” (1988), no Festival de Teatro de Curitiba. Ficou impressionado com o que viu. Para ele, o grupo é uma referência artística e um ensinamento sobre produção e formação de público.

“O grupo abriu uma estrada pela qual passaram várias gerações de artistas. O Galpão tem função de formação, difusão e fomento da atividade de teatro, que é maravilhosa”, diz Márcio, que admitiu seu encantamento pelo Galpão já na primeira reunião com o grupo.
 
‘Mostra de Processo de Ensaio’
 
“Como você tem paciência para ir assistir algo que não está pronto?”, foi o que ouvi de pessoas próximas, ao dizer que iria conferir a “Mostra de Processo de Ensaio”, do novo espetáculo do Galpão, em novembro passado.

Hoje, dois meses após a experiência, afirmo que foi a melhor escolha para uma noite de quarta-feira. Poucas vezes o público tem a oportunidade de presenciar o árduo trabalho de atores e diretores antes de as cortinas se abrirem.

Não havia texto pronto, apenas ações que tocavam na relação entre coletivo e indivíduo. Muitas vezes os atores provocavam o público com perguntas. Silêncio na plateia.

O modelo tradicional de distanciamento no teatro está enraizado em nós. E quando um ator senta na plateia, fico sem saber se faz parte da cena. Sinto como se pudesse ser um daqueles rascunhos de personagens.

O Galpão me tirou do lugar comum. Fica a vontade de ver a obra pronta!

(*) Com Vanessa Perroni

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