Novela rodriguiana ganha, enfim, um ponto final

Elemara Duarte - Hoje em Dia
08/06/2014 às 10:05.
Atualizado em 18/11/2021 às 02:55
 (Divulgação)

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O pernambucano Nelson Rodrigues pode ser meio mineiro, meio carioca do Estácio ou da Ilha do Governador e, talvez, também possa ser um tanto quanto gaúcho. A façanha multirregional pode ser conferida em “Cidade” (Editora Nova Fronteira, 128 págs, R$ 29,90), novela inacabada escrita por Rodrigues quando ainda era um jovem de 25 anos.

A publicação recebeu complementos do roteirista André Sant’Anna, do compositor Aldir Blanc, do poeta Carlito Azevedo e da crítica de arte e professora universitária Verônica Stigger. São deles, respectivamente, as origens com que a edição veste o texto rodriguiano.

Mas, na capa do livro, aqui nesta matéria, ainda tem uma “Suzana Flag”. Esta é outra contribuição ao texto póstumo. O codinome usado pelo jornalista e dramaturgo, na década de 1940, em alguns jornais, desta vez, traz texto feito por meio de redação coletiva realizada pelos editores do livro.

A história é mais ou menos assim: noite de chuva, Claudio visita o bordel onde vive sua irmã, Branca. No texto, o diálogo dos dois mostra apenas o desejo de Claudio em salvar a irmã do sofrido metiê. A partir de então, os trabalhos caem nas mãos dos colaboradores do século 21.

O desafio foi colocado aos escritores mais de 30 anos depois da morte de Nelson Rodrigues. Reza a biografia, que o jornalista não teria passado do primeiro capítulo da novela. Por sua vez, a Nova Fronteira teria resgatado a raridade durante a republicação dos textos de Nelson, no centenário de nascimento do jornalista, há cerca de dois anos. O texto foi publicado em 1937, mesmo ano em que foi escrito, pelo jornal “O Globo”.

O ponto de partida é o filho único da novela escrita por Nelson e intitulado “O Irmão...”. A chamada de capa do jornal, de 25 de abril daquele ano, dizia sobre “Um capítulo do romance ‘Cidade’, no prelo”: “Leu a placa: ‘Pensão Oriente’ – teve uma última hesitação, mas acabou entrando estranhamente perturbado. Logo apareceu uma mulher de ‘peignoir’, tornada lívida pela falta de pintura. Ficou a olhá-lo, da cabeça aos pés, com uma curiosidade minuciosa que o humilhou. Estava num tal estado, de mórbida susceptibilidade, que um olhar mais demorado, de quem quer que fosse, bastava para exasperá-lo”.

A partir disso, dá-se voz ao mapa brasileiro com as contribuições de André, Carlito, Aldir, Verônica e Suzana – “aquela”.  

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