O 1º de abril é o mote para relembrar um personagem emblemático: Pinóquio

Elemara Duarte - Hoje em Dia
01/04/2015 às 07:19.
Atualizado em 16/11/2021 às 23:28
 (Samuel Costa)

(Samuel Costa)

A mentira pode até ter pernas curtas, mas “Pinóquio”, um dos contos mais emblemáticos sobre “esta prática”, parece ser eterno. Ainda hoje, é possível ver os lúdicos bonecos de madeira do personagem, criado em 1881, vendidos em lojas de decoração, assim como, em temas de campanhas publicitárias e de peças teatrais que são sucesso garantido quando entram em cartaz.

Mas nesta quarta-feira (1º), “Dia da Mentira”, uma pergunta se impõe: o que faz o boneco de madeira que virou gente, após ter-se arrependido de mentir tanto, ser tão atual? “É uma narrativa sustentada pela moral da história, pois ela incentiva a sinceridade e ensina valores que são universais”, aponta a atriz Mariana Lobato, 29 anos, que conheceu a obra – como a maioria das pessoas – ainda na infância.

Ao lado do filho Luan, 11 anos (que aprendeu a gostar do personagem aos seis), eles se divertiram, na última terça-feira (31), com os “pinóquios” da loja Presentear, localizada na região do Santa Efigênia. A gerência do estabelecimento garante: são vendidos, em média, cinco bonecos do personagem por mês. E olha que o preço das peças (importadas) varia de R$ 195 a R$ 380.

Luan se lembra de que o velho marceneiro Gepeto construiu Pinóquio e o criou como um filho para não ter que viver mais sozinho. Mariana completa: “O que sempre chamou a atenção, para mim, é o fato de Pinóquio ter ganhado vida, a partir de uma matéria primitiva”. O artista plástico e marceneiro Daniel Bowie, que faz cenários e personagens do grupo de teatro de bonecos Giramundo, observa que há dois “Pinóquios”. Um do livro, original, que é “chato demais”, por ser muito folgado e malandro, e a versão em filme dos estúdios Disney, mais lúdica e ingênua, e que neste ano completa 75 anos de criação. “Já conhecia o filme e, quando comecei a trabalhar com teatro de bonecos, um primo me deu o livro”, lembra.

Entre lixas e serras, o Gepeto pós-moderno diz que restaurou o Pinóquio da companhia mineira, que havia sido usado em uma das montagens de maior sucesso. E se este boneco criasse vida agora? “Você está doida! Se for igual ao do livro, não quero não!”, repudia sorrindo.

O autor do conto em questão é o jornalista Carlo Collodi, de Florença, na Itália. Em 7 de julho, de 1881, Carlo publicou, em capítulos, a “Storia di Um Burattino”, no periódico “Giornale Per i Bambini”, e obteve grande sucesso. A publicação no folhetim terminou em 1883, mesmo ano em que a história foi impressa em livro, sob o título de “Le Avventure de Pinocchio – Storia di um Burattino”. Collodi morreu em Florença, em 1890.

A origem do Dia da Mentira é francesa, a partir do reinado Carlos IX (1560-1574). Desde o início daquele século, o ano novo era comemorado com a chegada da primavera, em 25 de março. Nesta época, o revéillon francês durava uma semana, ou seja, até 1º de abril. Porém, em 1562, foi adotado o “calendário gregoriano” e, nele, o ano novo começaria em 1º de janeiro. Muitos franceses passaram a debochar da mudança inventando festas imaginárias no dia.

O poder de encantar pessoas das mais diversas faixas etárias

Mas por que o personagem Pinóquio mentia tanto? “Ele queria a liberdade de viver como os humanos. E a liberdade tem o caráter de recompensa”, explica a psicóloga Hérika Sadi. É dela a dissertação de mestrado, na qual estudou a aquisição dos comportamentos de mentir e de falar a verdade com crianças de 2 a 5 anos – quando elas começam a falar.

Na pesquisa, crianças de 2 a 3 anos, mesmo tendo a promessa de alguma “recompensa” se mentissem, continuavam falando a verdade. “Mas as maiores começavam a mentir a partir do momento em que havia recompensa, e não retrocediam. A não ser que ganhassem um recompensa por falar a verdade”.

A conclusão é que o comportamento de mentir está diretamente atrelado a dois motivos: um deles, obter uma recompensa. O outro, se livrar de uma punição. “E assim, aprendemos a mentir”, resume.

No entanto, Hérika frisa que o ser humano é sensível às consequências de suas ações – inclusive as ruins, relacionadas à mentira. Mas existe mentira boa? “Não dá para chamar de boa ou má. Algumas mentiras acabam sendo realizadas socialmente, por adultos, por etiqueta, por convenções. ‘Não pude ir (a um compromisso), inventei uma dor de cabeça’”, exemplifica.

Já a crença de que há sinais indicativos de que uma pessoa está mentindo, para a psicóloga, é controversa. “Não olhar nos olhos pode ser indicativo de timidez, mas depende do conteúdo”. Pela experiência clínica, a psicóloga até consegue identificar algumas atitudes, mas quando associadas.

Sucesso de verdade

Na campanha de Natal da Frau Bondan Guloseria do ano passado, Pinóquio foi o tema. O sucesso da ideia fez com que os bonecos de madeira vendidos juntamente a doces se esgotassem até mesmo na importadora contratada pela doceria belo-horizontina.

“Ele encanta todo mundo, de adulto a crianças. Fizemos almofadas do Pinóquio para o Shopping Pátio Savassi, latinhas com doces e com o boneco de madeira... Esgotou antes de o Natal chegar”, lembra Paula Bondan. Mas ele é malandro, mentiroso! “Mas é fofo”, retruca Paula, com bom humor.

Cecília Fernandes, produtora da Kerubis, da peça “Pinóquio”, diz que a montagem está há três anos em BH. “Todo ano entra em cartaz e, graças a Deus, sempre é sucesso! Sempre cheio. Atribuo isso à própria história”.

A peça volta em cartaz no segundo semestre, no Teatro da Maçonaria. “Há pessoas que voltam ao espetáculo constantemente. A peça mostra que mentir não vale a pena. O que é bom é ouvir os mais velhos, respeitar a família. Afinal, o crime não compensa”, diz.
 

 

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