'O Agente da U.N.C.L.E.' revive com humor ingênuo os tempos da Guerra Fria

Paulo Henrique Silva - Hoje em Dia
03/09/2015 às 17:04.
Atualizado em 17/11/2021 às 01:37
 (Hoje em Dia)

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Quem acompanhou o cabo de guerra entre Estados Unidos e União Soviética durante as décadas de 1950 a 1980 conhece bem o temor que existia de que algo pudesse sair dos trilhos e gerar um conflito nuclear que exterminaria grande parte da humanidade. Naquela época, qualquer tipo de proximidade entre os dois países representava um alívio, ainda mais se vista com bom humor.

Exibido nos anos 1960, o seriado “O Agente da U.N.C.L.E" driblou um pouco a regra tácita de que o inimigo não poderia ser visto com bons olhos (o cinema foi pródigo de mensagens políticas revestidas de ficção científica e terror). Para isso impregnou o personagem russo de simpatia, a ponto de ele se tornar mais popular que seu colega espião americano.

Menos de 50 anos depois o "plot" deste seriado é retomado no filme que estreia hoje, com o inglês Guy Ritchie na direção. Além de o contexto ser diferente – hoje não há nada demais em ter um russo e um americano como colegas, como prova a Estação Espacial Internacional – o desafio é trabalhar um tipo de gênero que teve que se reinventar após a Guerra Fria.

A solução

A princípio, a escolha de manter a história na década de 1960 dataria demais o filme, enfocando o auge da belicosidade entre os dois países. Mas esta foi a melhor maneira de reapresentar “O Agente da U.N.CL.E.” ao público atual, sem descaracterizar o original, sobre uma organização internacional que lutava contra aqueles que agiam nas frestas desse momento de tensão ideológica.

No lugar de inventarem outras nacionalidades para ocupar o papel de antagonistas (geralmente saídos do mundo árabe) ou mesmo apostarem em alta tecnologia, como fez a franquia “Missão: Impossível”, também baseado numa série sessentista, os roteiristas se agarraram ao humor ingênuo e à ação exagerada, deixando de lado o realismo.

Uma sequência exemplar nesse sentido mostra o agente americano Napoleon Solo (interpretado por Henry Cavill, do novo “Superman”) escondido num caminhão, ouvindo música italiana e se esbaldando com farta comida, enquanto seu parceiro russo Kuryakin (Armie Hammer) zanza para lá e para cá numa lancha em chamas.

Até mesmo as diferenças políticas ganham um segundo plano para se enfatizar outra forma de competição, mais individualizada, para saber quem é o melhor espião. Nessa disputa particular, entra em cena uma garota (a sueca Alicia Vikander, de “O Amante da Rainha”), responsável por injetar uma carga de tensão sexual.

Além desses elementos, outro diferencial é que tanto Solo quanto Kuryakin gradativamente vão se desvencilhando de suas convicções políticas – se é que o americano teve alguma, já que foi cooptado à força para o trabalho. Como em “Inferno Vermelho” (1988), que tem trama semelhante, o que permanece é a vitória sobre as desconfianças e uma crescente amizade entre aqueles que foram inimigos.

Coisas de diretor

Talvez seja esse o motivo da escalação de Guy Ritchie para a direção. Inglês, ele é especialista em obras de ação descolada em que há ainda aquela valorização do Clube do Bolinha, dos homens musculosos e inteligentes que sabem serem gratos, como um acordo de cavalheiros. Tanto é assim que os personagens femininos não passam de bela decoração em seus filmes.

Não é difícil perceber em Solo e Kiryakin semelhanças com a dupla Sherlock Holmes e Dr. Watson. Os primeiros são experientes e conquistadores. Os segundos são impacientes e certinhos demais. Ritchie também imprime sua inconfundível edição (ágil, nervosa e pop) e uma trilha sonora empolgante (destaque para “Jimmy Renda-se”, de Tom Zé”).

O que não quer dizer que “O Agente da U.N.C.L.E.” escape da sensação de estarem requentando vários filmes de James Bond protagonizados por Sean Connery (Ian Fleming, criador do espião inglês, participou dos roteiros), em que o smoking continua impecável após algumas lutas e o Martini batido estará sempre por perto para dar um ar "cool".

Confira o trailer do filme que estreia hoje:

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