O 'Dia Estadual da Poesia' e o 'Dia D' reverenciam o eterno poeta itabirano

Elemara Duarte - Hoje em Dia
31/10/2015 às 09:58.
Atualizado em 17/11/2021 às 02:17
 (Lucas Prates)

(Lucas Prates)

¿Cuál es el mejor?”, pergunta o empresário espanhol Leonardo Llaneza, diante da banca que ostentava uma boa parte da obra do escritor mineiro Carlos Drummond de Andrade, na Biblioteca Pública Municipal Luiz de Bessa. 

A pergunta cheia de curiosidade foi formulada no fim de tarde da última quarta-feira, dia 28, quando o empresário – que ficaria apenas duas horas na capital mineira – resolveu dar uma volta pela Praça da Liberdade, e se deparou, no prédio da Biblioteca Pública Estadual, com um anúncio sobre a antecipação da celebração do “Dia Estadual da Poesia” – referência ao dia de hoje, data do nascimento do itabirano Drummond.

Essa foi a primeira vez que Llaneza, o turista espanhol encontrado pela reportagem do Hoje em Dia, vem ao Brasil – a parada em Minas foi para “descobrir os sabores do estado”, com vistas a possivelmente exportá-los para Miami, onde está radicado.

Drummond da sacola

Fã de poesia, na base do “vou ver o que está rolando”, ele entrou na biblioteca e se deparou com parte da fina flor de autores contemporâneos. Na visita, foi apresentado à exposição “A Poesia na História do Suplemento Literário” pelo próprio Secretário Estadual de Cultura, Angelo Oswaldo – e, contagiado, levou vários “Drummonds” na sacola.

“Penso que a poesia é a mais profunda expressão de uma pessoa e de uma sociedade. Está entre a alma e o pensamento. Vim caminhando do hotel e, por sorte, vi que havia esta exposição”, diz Llaneza.

“Conheci (pessoalmente) Drummond. Fui o organizador do Suplemento Literário que saiu em 1972, quando comemorávamos os 70 anos do poeta. Ele escreveu uma carta, muito sensibilizado, agradecendo. Depois, me encontrei com ele algumas vezes. Hoje, podemos visitá-lo a todo tempo e a toda hora, por meio da obra dele”, filosofa Angelo Oswaldo.

“Tive ouro, tive gado, tive fazendas./ Hoje sou funcionário público./ Itabira é apenas uma fotografia na parede./ Mas como dói!”, diz “Confidências de um Itabirano”, um dos mais famosos poemas do livro “Sentimento do Mundo”, sugerido pela reportagem ao forasteiro espanhol. “Itabira? Passei por Itabira. Vim de Patos de Minas e daqui vou para Montes Claros”, pontua Llaneza, ao ser informado de que foi justamente em Itabira que Drummond nasceu.

O visitante mostra à reportagem os títulos que comprou na banca-livraria do evento – um deles era do escritor paulista (ligado à geração “beat”) Claudio Willer, que conheceu ali, na hora. Willer diz que uma das grandes qualidades de Drummond é o conjunto da obra, que reúne “todas as possibilidades da poesia”.

Exposição de caricaturas e esculturas, intervenções e leituras celebram o poeta

O espanhol Leonardo Llaneza diz que parte dos livros que adquiriu é para consumo próprio – mas alguns exemplares serão destinados a “regalar” um amigo e sócio mineiro. Eis que entra em cena o repórter fotográfico do Hoje em Dia Lucas Prates, comparando: “Carlos Drummond de Andrade é para o Brasil o que Pablo Neruda é para o Chile”. O visitante arregala os olhos. E escolhe mais um livro indicado pela equipe:

“Alguma Poesia”, obra de estreia do itabirano versador, cujos 85 anos de lançamento serão lembrados neste ano. Llaneza, que não conhecia Drummond e a grandiosidade de sua obra, justificou: “Meu sócio me dizia, no avião, que os brasileiros conhecem a poesia ‘de fora’, mas que as pessoas de outros países quase não conhecem a poesia brasileira”.

Foi assim, no breve tempo liricamente aproveitado na capital mineira, que o espanhol conheceu um pouco do “mejor” “sentimento do mundo” drummondiano. Graças aos admiradores que trazem nova vida às eternas palavras do “Poeta Maior”.

Caricaturas

Outras iniciativas celebram o chamado dia “D”, de Drummond. De hoje a 10 de novembro, no bojo das comemorações dos 113 anos de nascimento de Carlos Drummond de Andrade, o Clube Mineiro da Cachaça (rua Mármore 373, Santa Tereza) expõe cerca de 30 caricaturas e esculturas inspiradas no poeta. Os trabalhos foram feitos por artistas de todo país. Algumas das caricaturas integram o acervo do jornal “O Cometa Itabirano”. Outras informações sobre a iniciativa podem ser obtidas pelo telefone: (31) 2515-7149.

Hoje, às 14h, a Academia Mineira de Letras (AML) lembra o nascimento de Drummond com a intervenção “Pé de Poema”, criada pelo “Clube da Leitura”, do Colégio ICJ. A mostra – que conta com a participação de crianças e adolescentes do clube – acontece na sede da AML (rua da Bahia, 1466, Lourdes).

Às 20h, o grupo Ponto de Partida apresenta nos Jardins do Palácio da Liberdade o espetáculo “Mineiramente”, que é conduzido pela poesia de Drummond e pela música de Milton Nascimento. Os ingressos gratuitos serão distribuídos a partir das 17h, no Centro de Informações ao Visitante (Prédio Verde).

Outros eventos

Já em Itabira, termina hoje na Fundação Carlos Drummond de Andrade, a “14ª Semana Drummondiana”. Ao longo do dia, haverá exibição de filmes, realização de oficinas, leitura de poemas, premiação do concurso de poemas “Itabira, seu nome é poesia” e, às 21h, bate-papo com o rapper, instrumentista e líder comunitário Flávio Renegado.

E o Instituto Moreira Salles (IMS), na 5ª edição do “Dia D”, apresenta, em seu blog, vídeos de leituras do livro “A Rosa do Povo”, que, nesse ano, completa 70 anos da primeira edição. As leituras serão feitas pelo poeta e compositor Antonio Cicero e exibidas no blogdoims.com.br/ims/cicero-le-drummond.

 

EM 1959 - Drummond no Ministério da Educação, no Rio de Janeiro. Crédito: Marcel Gautherot/Acervo Instituto Moreira Salles/Divulgação

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