O filme "A Família Bélier" é considerado verossímil e emocionante pelos surdos

Paulo Henrique Silva - Hoje em Dia
21/01/2015 às 08:00.
Atualizado em 18/11/2021 às 05:44
 (Luiz Costa)

(Luiz Costa)

Não é porque se trata de um filme com muitas cenas de linguagem de sinais que o entendimento foi melhor para Thiago Henrique Porto. Surdo de nascimento, ele saiu da sessão de “A Família Bélier”, em cartaz no Belas Artes, com as mesmas dificuldades de compreensão em relação a qualquer outra obra.
O motivo é uma surpresa para quem não conhece a realidade de 5,7 milhões de brasileiros com deficiência auditiva ou surdez (segundo dados do IBGE). “É como se fosse um outro idioma”, explica o intérprete Paulo Eduardo Melo, destacando as diferenças entre os gestos no Brasil e na França.
“Tive que prestar atenção nas expressões faciais para entender as emoções e o que estava acontecendo. São poucas as semelhanças entre os sinais, como o gesto para aplauso ou interpretar”, observa Thiago, de 28 anos, auxiliar administrativo do Tribunal Regional do Trabalho.
A convite do Hoje em Dia, ele compareceu à sessão das 21h20 ao lado da namorada Cida (que é ouvinte), que não escondeu as lágrimas ao acompanhar a história de uma garota, de pais e irmão surdos, que vive o conflito em deixar de ser a “voz” da família para tentar a carreira de cantora em Paris.
No quesito emoção, o filme passou com louvor na avaliação de Thiago, que também admite ter ficado tocado pela narrativa. E, sim, todas as situações apresentadas em relação ao dia a dia dos surdos são verossímeis. Thiago chegou a acreditar que os atores eram surdos de verdade, elogiando as expressões dos pais da garota.
Uma das cenas mais bonitas de “A Família Bélier”, quando, para ouvir a filha cantar, o pai põe a mão sobre o pescoço dela, não é fruto da mente exagerada dos roteiristas franceses. De acordo com Paulo, intérprete há dois anos, muitos surdos desenvolvem essa técnica em sessões com fonoaudiólogos.
Ao lado da esposa Diana, também intérprete, Paulo faz parte de uma congregação das Testemunhas de Jeová, no bairro União, que mantém um grupo de libras (abreviação de língua brasileira de sinais). Thiago é um dos 20 participantes das reuniões semanais.
A curiosidade em torno de “A Família Bélier” é que o filme de Eric Lartigau tem muitas cenas em linguagem de sinais, aspecto que tem atraído muitos surdos ao Belas Artes nas últimas semanas. Antes dessa produção francesa, Thiago já havia visto a história de uma garota cega e surda em “Black” (2005).
Outros filmes famosos sobre o universo dos surdos são “O Milagre de Anne Sullivan” (1962), “Os Filhos do Silêncio” (1986), que deu o primeiro Oscar a uma atriz com deficiência auditiva (Marlee Matlin), e “Mr. Holland – Adorável Professor” (1995).
Thiago não é muito de ir ao cinema, até pela dificuldade de entender o contexto das tramas. Perguntado sobre qual seria o seu hobby, ele hesita até Paulo entregar um de seus passatempos preferidos: o videogame, principalmente jogos de futebol.

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