O Grivo, duo que orquestra máquinas, realiza concertos gratuitos neste fim de semana em BH

Jéssica Malta
05/10/2019 às 12:44.
Atualizado em 05/09/2021 às 22:05
 (Paula Huven/Divulgação)

(Paula Huven/Divulgação)

 Gavetas amplificadas, placas de metal, molas, cordas de instrumentos musicais, motores e até mesmo um mini-ventilador. É a partir de objetos como esses que o duo mineiro O Grivo e o artista plástico Roberto Freitas produzem os sons que compõem peças musicais do disco “3”, trabalho que eles lançam em concertos gratuitos neste fim de semana no Teatro Marília. 

Os instrumentos adaptados são obras do trio que, assim como nas canções do disco, aposta no improviso para dar vida às máquinas sonoras. “Nenhum de nós tem aquela coisa de planejar, desenhar e ir lá realizar na oficina o projeto de uma máquina. A gente começa a construir e vai achando um jeito”, explica o músico mineiro Nelson Soares.Paula Huven/Divulgação

Roberto Freitas: Artista plástico que desde 2002 produz trabalhos que flertam livremente entre problemáticas típicas do cinema, dança, música, escultura, performance, desenho e pintura

Às vezes, as engenhocas também surgem para suprir algumas necessidades específicas, como, por exemplo, a produção de notas contínuas. “São processos musicais muito básicos como os arcos, a percussão e o sopro. As máquinas entram nesse campo, algumas fazem percussão, outras fazem notas longas. É como se fossem outros músicos”, pontua.

Assim, ele destaca que a intenção do trio parte de duas frentes diferentes: uma é a de que os músicos tentem ser mecânicos, principalmente no ponto de vista rítmico. “Isso é para combinar com esse universo das máquinas”, diz. Já para o lado mecânico, a intenção é adicionar humanidade às máquinas, para que as músicas não fiquem estritamente previsíveis. 

“Bons parâmetros para definir a sonoridade dessas máquinas são os sons contínuos e os espacatos, que são sons pontuais, sem prolongamento. Tem coisas também que são de percussão e notas longas, cordas. Estamos usando ainda muitas molas, que provocam ritmos imprevisíveis”Nelson SoaresMúsico

Encontro

O disco “3” marca a longa relação entre os mineiros e Roberto Freitas. Companheiros de residências e outros trabalhos desde 2009, os artistas contam que gestaram o projeto do álbum durante muito tempo. “Fizemos uma primeira residência há anos em Florianópolis. As engenhocas que ele faz são muito próximas do nosso trabalho e ele também tem essa coisa da exploração sonora e de botar as máquinas para fazer música”, conta o músico Marcos Moreira, que define o encontro como “amor à primeira vista”.Paula Huven/Divulgação

Nelson Soares: Músico mineiro é um dos fundadores de O Grivo, grupo que desde os anos 1990 explora as possibilidades de expansão do universo sonoro e de descoberta de maneiras diferentes de improvisara

A cumplicidade é tanta que o artista plástico até mudou os próprios planos. Ele, que quando conheceu os mineiros se lançava em experimentos audiovisuais, acabou sendo conquistado pela música de O Grivo.

“Minha intenção era fazer um pouco da parte mais visual e aproveitar esse know how deles de música, mas fiquei tão envolvido no processo que quando vi estava fazendo música também”, conta.

Essa experiência musical é destacada por ele. “Sempre gostei e estive envolvido com a música, mas nunca imaginei que faria parte desse lugar tão específico da música contemporânea que é a produção que O Grivo faz e que agora também estou fazendo. Tem sido uma delícia”.Paula Huven/Divulgação

Marcos Moreira: O músico mineiro é o outro fundador do duo de música experimental O Grivo. No currículo, estão mostras em Belo Horizonte, na Espanha, em São Paulo e na Inglaterra 

Além Disso

No disco “3”, O Grivo e Roberto Freitas apresentam sessões de improvisação. “Tocamos exaustivamente essas peças e fizemos muitas gravações delas. Todos esses registros são muito diferentes e optamos por três, que é o que cabe no disco”, explica o artista, que sublinha que as sessões têm entre 11 e 16 minutos de duração. Nos concertos, que acontecem neste fim de semana, o trio opta por outras variações. “Serão peças diferentes, mas que ao mesmo tempo são iguais, porque são os mesmos materiais, a mesma pesquisa. Mas não temos a menor ideia do que vai sair. É uma incógnita”, afirma. 

Apesar de não poderem projetar o resultado musical da improvisação, a expectativa para apresentar o fruto da pesquisa é grande. “É uma forma de coroar o trabalho. Um momento muito especial. Essa situação do palco torna a música especial, porque você entra em um estado de espírito que é benéfico para a música”, filosofa Marcos Moreira. 

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