O macaco de Ziraldo

Clarissa Carvalhaes - Hoje em Dia
18/02/2014 às 07:31.
Atualizado em 20/11/2021 às 16:05
 (Frederico Haikal/Arquivo Hoje em Dia)

(Frederico Haikal/Arquivo Hoje em Dia)

Quando Ziraldo fez seus primeiros desenhos, ainda era um menino. Um “moleque” criado entre quadras de basquete, rabiscos no caderno, deveres de casa e amigos que conheceu em Caratinga, sua cidade natal, localizada na região do Rio Doce.

No entanto, foi a partir da afeição a quatro amigos de infância que nasceu uma espécie de irmandade – um laço fraterno que se tornaria, a princípio, um time de basquete amador e, mais tarde, personagens dos mais importantes na história dos quadrinhos no país: a Turma do Pererê.

Dos quatro amigos que se transformaram em bichos nas mãos de Ziraldo, está Alan Viggiano, hoje com 81 anos de idade e uma memória de dar inveja a muita gente nova. “Prazer, eu sou o macaco Alan”, brinca Viggiano ao receber a reportagem do Hoje em Dia em rápida passagem por Belo Horizonte.

Formado em Direito, taquígrafo aposentado (fez carreira na Assembleia Legislativa de Minas Gerais e por mais de 30 anos no Senado, em Brasília), com ele não há discussão sobre o assunto: “Essa é a profissão mais estressante do mundo! Eu gostava muito no início, mas, meu Deus, foram 37 anos digitando 110 palavras por minuto. Uma hora a gente cansa, né?”. Só não cansa mesmo contar histórias, as aventuras enquanto jogava basquete e claro, envolvendo os amigos:

– O Ziraldo foi seu melhor amigo?

– Hummm... Posso dizer que um dos meus melhores amigos. O “Zé” (José Aparecido de Oliveira, ex-governador do Distrito Federal e ministro da Cultura do Governo do presidente José Sarney) faz uma concorrência boa com ele”, brinca.

De jogador de basquete a personagem de quadrinhos
 
“Vou soletrar para você: Vi-Ga-Pe-Pi-Zi. Este era o nome do nosso time de basquete que foi criado a partir da inicial dos nomes de nós cinco: Viggiano, Galileu, Pedrinho, Pimentel e Ziraldo”, explica Alan, para completar em seguida: “Fomos amigos inseparáveis e éramos jogadores muito bons para a época. Eu já tinha os meus 1,80 metro de altura e, modéstia à parte, fazia 80% dos pontos, mas o Ziraldo que era muito mandão e estava sempre à frente das coisas. Ele mandava e desmandava no time e nós tínhamos que aceitar, né?”, recorda aos risos.

Nascido na pequena Inhapim, região do Rio Doce, Viggiani mudou-se para Caratinga para completar o ginásio. Foi só então que o “quinteto” nasceu com o fôlego que precisava. “Naquela época, o Ziraldo já desenhava, já era amigo de todo mundo e um menino excepcional: fazia desenhos com caneta, com lapiseira, ou só com o dedo mesmo”, brinca.

“Vira-e-mexe ele fez desenhos nossos e os anos ajudaram a fortalecer nossa amizade e o talento dele também. Mais tarde, aos 18 anos, ele começou a desenhar para os jornais e fazer historinhas. Foi a partir daí que ele fez a primeira história com a Turma do Pererê, mas só depois ele a inventou propriamente: colocou os nomes dos amigos nos bichos e mais tarde do pai e do sogro dele”.

Mas como tudo que é bom passa rápido, o destino tratou de separar o quinteto de Caratinga. “Nós jogamos basquete juntos até o fim. De repente cada um tomou seu rumo. Eu, Galileu, Pedrinho e Pimentel nos mudamos para BH para continuar os estudos e trabalhar. O Ziraldo foi para o Rio de Janeiro”.

Harlem Globetrotters

Quando desembarcou em Belo Horizonte, Alan Viggiano tinha pouco mais de 20 anos. Junto com ele, a paixão pelo basquete. “Dessa vez, ao invés do ViGaPePiZi passei a fazer parte do time do Atlético. Embora fosse da primeira divisão, a gente nunca ganhava um campeonato. Isso era coisa do Minas e do Ginástico – que ganhavam sempre”.

Dos anos que se dedicou ao basquete, ainda que de forma amadora, Viggiano não deixa passar em branco um dos momentos mais importantes da sua vida. “Ah! Eu joguei com aquele time de basquete norte-americano, o Harlem Globetrotters! Puxa vida, eles são famosos no mundo inteiro! Eu lembro de disputar com aqueles caras com mais de dois metros de altura. Eu só joguei por cinco minutos e peguei na bola uma única vez, mas foi um fato excepcional”.

Alan, só se aposentou do basquete aos 57 anos (por causa de problemas no joelho) – mas jogou tênis até os 60 anos, escreveu livros sobre os países de língua portuguesa e é autor de “O Inventor de Utopias”, livro biográfico sobre o amigo Zé Aparecido (por essas e outras, é membro da Academia Brasiliense de Letras e da Academia de Letras de Brasília). Fala com orgulho do simpático e travesso Macaco Alan e como um bom e jovem amante, se prepara para casar pela segunda vez. Vida longa!

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