"O Mar que banha a Ilha de Goré", história Afro-Brasileira recontada por menina

Lady Campos - Hoje em Dia
09/02/2015 às 08:59.
Atualizado em 18/11/2021 às 05:57
 (ilustrações de taisa borges)

(ilustrações de taisa borges)

Uma voz que ecoa a favor da diversidade e luta pela valorização da cultura negra. Em “O Mar que banha a Ilha de Goré” (editora Peirópolis), Kiusam de Oliveira lança o desafio de resgatar, com extrema delicadeza, a autoestima de crianças negras.

O traço gráfico da artista Taisa Borges tem contornos sutis que também resgatam as tradições africanas na publicação. No enredo, Kika, uma linda garota negra brasileira, de 10 anos, parte para a Ilha de Goré, localizada em frente a Dakar (capital da República do Senegal) e que no passado serviu de importante entreposto de comércio ilegal de africanos escravizados para o Brasil.

Com o objetivo de fazer o caminho contrário de seus antepassados, a protagonista viaja em busca de conhecer o passado e visitar o antigo cenário de sofrimento. No trajeto, ela “conversa” com a Mãe Mar, que lhe conta sobre os filhos perdidos e a recebe com honrarias. A Mãe Mar, citada na história como uma personagem mítica, nada mais é que o retrato do passado, veículo da história e do tráfico negreiro.

Em entrelinhas, Kiusam vai costurando a aventura de Kika com elementos da cultura africana, como a “Mãe Mar”, também conhecida como “O Pélago Que Tudo Vê”; o baobá, árvore símbolo da tradição e renovação e que liga a terra com o céu; o tambor, considerado meio de comunicação entre os senegaleses; e até em vocábulos como “jërëjëf”, obrigado na língua wolof.

De posse desses elementos a autora elimina o tom sombrio da história e transporta Kika e o próprio leitor para um ambiente repleto de histórias e cheio de sabedoria.

O texto de Kiusam, professora de danças afro-brasileiras, coreógrafa, pedagoga com habilitações em Orientação Educacional, Administração Escolar e Deficiência Intelectual e também doutora em Educação e mestre em Psicologia pela Universidade de São Paulo, aproxima as crianças da trajetória de nossos ascendentes africanos e cria um universo de preservação de memórias e valorização do presente.

Para o etnólogo Carlos Moore, que escreveu o prefácio do livro, a terceira obra da escritora e contadora de histórias Kiusam de Oliveira cumpre a função de auxiliar mães, pais e educadores a elevar a autoestima (demolida no dia a dia) de crianças negras brasileiras, “Essas crianças — que não veem seus rostos, seus cabelos ou sua cor refletidos com carinho em nenhum lugar do imaginário de um país que as nega e as rejeita — encontram nesse livro uma resposta ao vazio sobre sua história, antes e depois da traumática chegada de seus ancestrais africanos num mundo regido pela escravização negra”.

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