Obra de cineasta mineiro é analisada em livro de Consuelo Lins

Paulo Henrique Silva
19/08/2019 às 08:48.
Atualizado em 05/09/2021 às 20:03
 (Samuel Costa/Arquivo Hoje em Dia)

(Samuel Costa/Arquivo Hoje em Dia)

Não é de hoje que Consuelo Lins, professora e pesquisadora na área de documentários, acompanha a obra de Cao Guimarães, sempre buscando entender as formas como o diretor mineiro se relaciona com o mundo num trabalho em que o tempo é palavra-chave.

“Em seus filmes, fotografias e exposições, ele inventa um outro tempo. É a forma de Cao pensar o mundo, totalmente contrária a este tempo contemporâneo, em que vivemos enfiados no celular, com as tecnologias capturando totalmente a nossa atenção”, registra Consuelo.

O resultado deste mergulho na filmografia de um realizador tão sui generis, que transita entre as artes plásticas e o documentário, será conhecido hoje, com o lançamento, no Rio de Janeiro, do livro “Arte, Documentário, Ficção”, da editora 7 Letras.

“Encontrei uma certa concepção de romantismo, em que se enxerga poesia nas menores coisas. Se tem um lado conservador, o movimento do século XIX também tinha um caráter revolucionário, questionador”, destaca a pesquisadora.

O último trabalho do cineasta, que estampa uma filmografia de mais de duas décadas, reconhecida internacionalmente – em 2017, ele ganhou uma mostra em Amsterdam, no Eye Filmmuseum –, ganhou um título-síntese de “Espera”, abordado na parte final da publicação. 

“Fiz uma longa entrevista com ele em abril, em que ele fala justamente deste momento em que ninguém quer mais esperar, algo que também irá determinar as suas escolhas de vida, como hoje morar numa cidade praiana no Uruguai”, adianta.

Oriundo do boom da videoarte nos anos 80, Guimarães é lembrado principalmente pela chamada Trilogia da Solidão, reunião dos filmes “A Alma do Osso” (2004), “Andarilho” (2006) e “O Homem das Multidões” (2013), codirigido com o pernambucano Marcelo Gomes.

“Fui muito atraída pela dimensão do dispositivo, que estava em voga no documentário brasileiro no início dos anos 2000”, afirma Consuelo, ao comentar “Rua de Mão Dupla” (2002), que convidou seis pessoas pertencentes à classe média de Belo Horizonte que trocam de casa para depois dar um depoimento sobre os seus donos.

“Com o passar do tempo, fui vendo que esta questão do dispositivo tinha uma dimensão menor na obra dele, fazendo trabalhos muito diferentes, em que se vê a importância da relação com a artista plástica (e ex-esposa) Rivane Neuenschwander. A sua sensibilidade se constrói neste momento, (quando faz aulas de cinema experimental), em Londres”, analisa.

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por