Obra "Um Andar Sobre o Mar", da videoartista Cris, propõe mergulho na intimidade

Paulo Henrique Silva - Hoje em Dia
06/10/2014 às 08:04.
Atualizado em 18/11/2021 às 04:29
 (Samuel Costa)

(Samuel Costa)

O espaço Mari’Stella Tristão, do Palácio das Artes, receberá quatro quartos e uma varanda depois de amanhã. Não se trata, claro, de um inusitado empreendimento imobiliário naquele que é um dos principal centros culturais de Belo Horizonte. Inusitada mesmo é a proposta da videoartista Cris Ventura, que, ao permitir que o visitante escolha em qual cômodo entrar primeiro, deixará, a cargo dele, a criação e a resolução de sua própria narrativa durante o passeio pela cineinstalação “Um Andar Sobre o Mar”.

“As pessoas terão a chance de fazer montagens diferentes, de acordo com o seu andar”, observa Cris, que, na tarde de sexta-feira, ainda estava às voltas com a finalização das imagens que serão projetadas nos cinco lugares.

Em cada quarto, um anfitrião diferente, interpretado por Cris Moreira, Renato Parara, Saulo Salomão e Silvana Stein. Eles são moradores do mesmo pavimento de um edifício à beira-mar em uma cidade portuária. Em comum, a solidão.

DESORGANIZAÇÃO

“Estão num momento mais natural, descomprometidos com a função social”, registra a videoartista. Alguns estão mais melancólicos. Outros, inquietos. O ambiente reflete o estado psicológico deles – escuros, claros, limpos ou desorganizados.

No caso de Parara, seu papel é de um funcionário público que tenta quebrar com a formalidade do seu trabalho, transformando seu quarto na materialização desse desejo. “É para lá que ele leva um pouco de desorganização para a vida”. A base de composição de cada personagem e cenário é a poesia. “Busquei reunir textos em que o ‘eu’ lírico fazia essa relação entre memória e urbano. Essa cidade portuária remete à questão da saudade e da solidão”, assinala Cris.

As poesias utilizadas na cineinstalação são “Mar Absoluto”, de Cecília Meirelles; “Difícil Ser Funcionário”, de João Cabral de Melo Neto; “Fama e Fortuna”, de Ana Cristina César, e “Elegia 1938”, do mineiro Carlos Drummond de Andrade.

Em sua primeira instalação solo, viabilizada pela sexta edição do “Filme em Minas”, programa mineiro de estímulo ao audiovisual, Cris explica que não há uma determinação temporal ou geográfica. Pode ser qualquer cidade litorânea, num ano indefinido.

Onze projetores apresentam imagens em paredes e objetos, com cada sequência tendo a duração média de 12 minutos. “Às vezes o personagem está interagindo com algo que não está no campo, mas sim no extracampo do espaço físico”.
 

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