“Os Dez Mandamentos”, da rede Record, chega à reta final colecionando êxitos

Vanessa Perroni e Paulo Henrique Silva - Hoje em Dia
19/11/2015 às 06:49.
Atualizado em 17/11/2021 às 02:32
 (Record/Divulgação)

(Record/Divulgação)

Quem nunca assistiu a “Os Dez Mandamentos”, ao menos já ouviu falar do folhetim da Record, que terá seu último capítulo exibido na próxima segunda-feira (23). A trama, que em muitos momentos liderou a audiência, no horário nobre da TV, atraiu gente como a servidora pública Edilene Martins, 29 anos, que há três anos não acompanhava novelas. “É uma história que reaviva a fé e a esperança em dias melhores. Me fez valorizar coisas que estava esquecendo”, diz ela, ao lado do marido, da filha e da mãe, não perde um capítulo. Mas não, a história não cooptou só a atenção dos adultos. As dez pragas do Egito fizeram com que Melissa Fernandes, 9 anos, não desgrudasse os olhos da TV. “Não assisti desde o início, mas quando minha tia me mostrou, não parei de ver. Acho muito interessante a história do faraó e as dez pragas”, conta ela, que quase toda noite liga para a tia (Roselea) ao fim do capítulo. “A gente conversa sobre o que aconteceu e o que vai ter no outro dia”, conta a menina, que agora quer ler as histórias que embasaram a novela.

Para Cristina Silva, 60 anos, o horário da novela é sagrado. Juntamente à cuidadora Helen Valin, 53 anos, e à advogada Bruna Pimenta, 21 anos, ela acompanha com interesse redobrado o desenrolar da trama. “Há muito tempo não assistia a novelas, estavam muito violentas”, conta Cristina, que teve contato com “Os Dez Mandamentos” ao visitar a irmã, no interior. “Desde então, não parei. Não bastasse, me faz voltar à infância, quando, aos domingos ia na escolinha da igreja. É bom rever a história, mesmo que repaginada”.
 
O que dizem os críticos?

Para o professor de Jornalismo da UNA (e doutorando em teledramaturgia pela UFMG) Reynaldo Maximiano, a opção por uma novela bíblica foi acertada. “Isso permite pontos de virada bem diferentes, pois são dez pragas. Portanto, dez pontos de interesse para a audiência”. E completa: “É uma história que está na memória de boa parte dos cristãos de diferentes designações religiosas”.

Outro ponto eficiente, na sua visão, é a recuperação de pontos fundamentais de um melodrama. “A figura do justiceiro, do vilão, da vítima, do bufão, que são personagens clássicos. É interessante o poder que ainda exercem em uma trama”.

No ar desde o ano passado, “O Dez Mandamentos” atravessou dois gigantes, lembra Reynaldo: as novelas “Babilônia” e “A Regra do Jogo”, da Globo. “Um dos pontos mais criticados pelos pesquisadores é que ‘Babilônia’ não conseguiu segurar seus ganchos, que seriam fracos. Um erro que poderia acontecer em ‘Os Dez Mandamentos’, mas não ocorreu”, pontua.

A linguagem coloquial e mais contemporânea é outro acerto da produção. “’Os Dez Mandamentos’ virou um espetáculo, todo mundo esperou pela fase das pragas”, avalia. Os efeitos especiais foram outro ponto elogiado pelo crítico. “A Record evoluiu muito e surpreendeu, pois todos tinham aquela visão da emissora como ‘tosca’ em suas produções, assim como o SBT”, compara.

Vale frisar que a abertura do Mar alcançou os trending topics no Twitter. Para Reynaldo, fica, agora, o desafio da continuidade. “O que vem depois? Isso coloca a emissora em uma situação complicada. E nisso a Globo é muito forte, pois tem uma frente de produção. Parece que a Record descobriu um nicho. E fazer a continuação de ‘Os Dez Mandamentos’ (em 2016, entra no ar “Josué e a Terra Prometida) parece uma boa solução”, crê.

Um dos únicos pontos negativos, segundo ele, é que a novela chega na “onda conservadora” que o país vive. “Temas sociais muito fortes, como desigualdade e as questões de gênero, estão sendo bombardeadas. E os dez mandamentos são leis que deveriam garantir a nossa paz. Tem algo subentendido nisso”, avalia.

Filão religioso retorna com força aos cinemas

O mundo está mais religioso, mais místico e mais esotérico do que nunca. Essa avaliação do crítico do cinema João Nunes está refletida na tela grande, com o lançamento de filmes como “Noé” e “Êxodos: Deuses e Reis”, cujas boas bilheterias devem garantir uma vida maior para o subgênero.

Não é a primeira vez que a abordagem de temas religiosos é estimulada pelos produtores. Nas décadas de 1950 e 60, Estados Unidos e Itália investiram muito dinheiro – e rolos de filmes – no segmento, marcante por obras como “Os Dez Mandamentos”, de Cecil B. DeMille, e “Ben Hur”, maior ganhador do Oscar.

“Existe um ciclo de espiritualidade e materialidade. Depois de a pessoa aproveitar ao máximo os benefícios físicos e de poder, ela já não se contenta com isso, necessitando de uma experiência religiosa”, observa Paulo Pereira, professor de cinema, que já se debruçou sobre o assunto no livro “Série Decálogo de Kieslowski – Uma Análise Cinematográfica e Teológica” (O Lutador).

Mercado lucrativo

João Nunes constata que esse aumento no número de filmes acompanha a realidade, na qual “os evangélicos cresceram, os católicos se fortaleceram”. Ele sublinha que os americanos, que têm origem protestante-calvinista (e, por isso, seriam mais “práticos”), sempre “venderam” a fé em forma de literatura, música, rádio e cinema.

Se a religião sempre rendeu dinheiro e, no passado, fez sucesso, por que não reeditar essas histórias para as novas gerações?”, indaga João Nunes, que também destaca a produção de filmes segmentados como um recurso preguiçoso e garantido (de retorno financeiro) de Hollywood.

Meio ambiente

“Se temos animação para crianças, super-heróis para jovens, ainda algumas séries clássicas (“Star Wars”, “007”) para jovens adultos e, eventualmente, séries fantásticas (“Harry Potter”, “Jogos Vorazes”) também para jovens, por que não filmes religiosos para um mundo religioso?”, esquadrinha.

Paulo Pereira compara o subgênero com o cinema de terror, revelando novas formas de acordo com o momento vivido pelo espectador. “Quando exibiram ‘O Exorcista’ e ‘Terremoto’, a coisa estava feia para os Estados Unidos, com a Guerra do Vietnã”, salienta.

Ele pondera que os filmes não podem ser interpretados apenas como obras religiosas. “Basta ver ‘Noé’, em que a temática central é a preservação do meio ambiente, super quente hoje em dia. A Bíblia sempre tem palavras a dizer, o que ajuda a explicar essa renovação”, analisa Paulo Pereira.

O professor também deposita na conta do Papa Francisco os créditos dessa retomada. “O papa se tornou tão popular, tão presente na vida das pessoas com seu sorriso transparente, que a gente acredita no cara. Isso fez com que tenhamos uma perspectiva religiosa muito maior”, registra.

Vale frisar que o capítulo da novela que mostrou a abertura do Mar Vermelho alcançou os trending topics no Twitter

Os ditos “filmes espíritas” também reforçam presença com a segunda parte de “Nosso Lar”, que terá o subtítulo “Os Mensageiros”

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