Overdose de tatuagem: roqueiro revelou-se artista de luzes e sombras

Clarissa Carvalhaes - Hoje em Dia
20/01/2014 às 07:28.
Atualizado em 20/11/2021 às 15:27
 (Carlos Rhienck)

(Carlos Rhienck)

“Eu gosto mais de tatuagem do que de rock’n’roll. E é assim porque eu gosto dela, desde muito menino. A primeira vez que eu vi uma pessoa tatuada foi no Fantástico – na época que ele dava um medo danado na molecada da minha geração. Eu devia ter uns 8 anos e enlouqueci quando vi uma reportagem sobre aquilo. Passei a pegar canetas esferográficas e desenhar no meu corpo e no dos meus primos. Só depois de muitos anos fui me envolver com o rock e foi aí que a história começou”.

E essa história a qual Pedro Amorim do Carmo, mais conhecido como Bozó, se refere é a sua jornada com o Overdose, banda formada por ele e três jovens amigos em 1983. Um grupo que não ficou só na garagem – ao contrário: é, ainda hoje, lembrado como um dos mais celebrados grupos do cenário heavy metal no Brasil. Em 1985, a trupe lançou seu primeiro álbum, dividido com o Sepultura: “Século XX”/“Bestial Devastation”. Fizeram turnê pelo Brasil, Europa e Estados Unidos, arrancaram aplausos e formaram uma legião de fãs mundo afora. Até que um dia, precisamente em 1998, o Overdose acabou.

“Eu acho que começamos a fazer a turnê internacional um pouco tarde demais. Quando saímos do Brasil já era 1995 – quase dez anos depois do primeiro disco e o movimento de heavy metal estava esfriando. Além disso, eu tinha 30 anos de idade e precisava de grana. Você consegue entender isso, não é? Não era uma questão de sermos mercenários, mas precisávamos sobreviver”.

As portas que se abriram levaram o músico a percorrer uma estrada que ele começou a contar no início dessa matéria. Hoje aos 47 anos, Bozó está no hall dos melhores tatuadores de Belo Horizonte, especialista em produzir trabalhos com luzes e sombras, sem perder a modéstia que cabe somente aos verdadeiros artistas. 

Tatuador com sangue de rock’ n’ roll

É quase unanimidade o sonho de grande parte dos músicos de girar o mundo com uma turnê internacional. Um sonho que Bozó realizou há duas décadas. 

Hoje, com o estúdio instalado na Savassi, um dos pontos mais nobres da cidade, o tatuador confessa que o primeiro objetivo a ser cumprido em 2014 é bem pessoal – mas não mais fácil que conquistar o mundo: “Meu sonho é parar de fumar. Ah, isso não dá mais pra mim. E sim, estou ficando careta mesmo”, brinca. 

Um tatuador com sangue rock’ n’ roll careta? Bem, pode até ser, mas o fato é que no auge dos 40, cabelos grisalhos e gargalhada fácil, Bozó tem um corpo, alma e um senso de humor de dar inveja em muitos rapazinhos de 20 e poucos anos que desfilam por aí.

Com o povo na rua Assim como grande parte dos brasileiros, Bozó acompanhou as manifestações de junho do ano passado contra a Copa das Confederações e os aumentos das passagens de ônibus.

“Enquanto a gente não tomar atitude, ter gentileza e educação um com o outro, não vai mudar nada. É preciso parar com a mentalidade de ser espertinho e preconceituoso. É uma pena, mas as pessoas não dão bom dia se não conhecem você, são estúpidas no trânsito e egoístas. A mudança tem que começar dentro da gente”, acredita.

Velha guarda

Quando decidiu seguir carreira nos estúdios de tatuagem de BH era possível contar nos dedos os tatuadores que existiam na cidade. “Sou da turma da velha guarda. Quando comecei éramos raros. Hoje somos um em cada esquina. Aliás, tem uma molecada que anda fazendo trabalhos maravilhosos”, reconhece.

Dedicando-se efetivamente à profissão desde 1998, Bozó perdeu as contas de quantos desenhos seus estão espalhados mundo afora. Alguns, estranhos, como um copo lagoinha vazio feito nas costas de um homem. Outros feitos em lugares mais bizarros ainda: “eu já fiz até tatuagem no pé. Vai entender”.

E quando batem à sua porta comentando sobre a fama de melhor tatuador da cidade, Bozó pede desculpa: “Eu não sou melhor, não. Eu sou Ok. Eu não vou decepcionar e posso até falar de melhores que eu por aí. Eu não tenho medo disso não. Eu não posso ter medo porque tenho que confiar no meu trabalho”. 


 

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