Paisagem típica da Rua da Bahia, Academia Mineira de Letras é espaço pouco conhecido pela população

Paulo Henrique Silva
phenrique@hojeemdia.com.br
29/04/2018 às 17:06.
Atualizado em 03/11/2021 às 02:35
 (Maurício Vieira)

(Maurício Vieira)

A sensação é similar a de entrar, por exemplo, numa das Pirâmides do Egito e descobrir uma sala que estava inacessível, recheada de tesouros da Antiga Civilização. Para muita gente que passava na porta da Academia Mineira de Letras (AML), na rua da Bahia, no bairro Lourdes, a sensação era de um lugar fechado, habitado apenas por “imortais” – como são chamados os acadêmicos. Uma imagem que começará a mudar a partir de 2019, quando o espaço será aberto ao público.

Na última semana, a reportagem do Hoje em Dia visitou a AML, ainda em fase de higienização e catalogação de um acervo que ultrapassa 37 mil itens, entre livros raros e documentos assinados por alguns nomes importantes da história de Minas Gerais e do país. Caminhar por seus vários cômodos, que antes serviam de residência e clínica para o médico Borges da Costa, é como brincar de caça tesouro. Em cada canto, há uma peça que pede para ser lida e admirada.

O próprio edifício da AML, doado pelo governo mineiro em 1987, é uma atração à parte, por preservar vários aspectos de seu primeiro morador, o médico Borges da Costa, como a riqueza de detalhes do teto em madeira e em gesso e da escadaria. Logo na entrada da edificação (construída entre 1910 e 1923), após passar pelo o que era a antiga recepção do clínico e intelectual, Flávia de Queiroz, coordenadora do Núcleo de Projetos da AML, chama a atenção para um pequeno armário onde estão guardados os manuscritos datilografados de 400 crônicas assinadas por Carlos Drummond de Andrade.

O material original, doado pela empresa Furnas Centrais Elétricas , foi publicado na Revista do Arquivo Público Mineiro, e mostra um lado meticuloso do escritor, até mesmo na hora de fazer as correções. Como destaca a gestora cultural Inês Rabelo, também integrante do Núcleo de Projetos, um dos aspectos mais interessantes do acervo é conhecer o que ela chama de genética literária, percebendo o processo de criação de um escritor.

Com dez bibliotecas no espaço de dois andares (além de um porão onde também há muitas estantes recheadas de livros), duas delas, dedicadas a Eduardo Frieiro e Nelson de Sá, já estão num estágio avançado de organização, passando agora por uma cuidadosa higienização realizada por sete estagiários do curso de Letras.

Embora, como destaca a bibliotecária Soraia de Andrade Carvalho, a parte de análise de conteúdo seja o ponto final do inventariado, algumas preciosidades já saltam aos olhos, em especial a correspondência de Frieiro, um intelectual que, segundo ela, ainda não teve a importância reconhecida, mas que deixou marcas profundas na difusão cultural de Minas Gerais. 

A organização da biblioteca do escritor mereceu nota dez de todos os que se debruçam no projeto da AML, facilitando bastante o trabalho de catalogação do material, que tem em torno de 4 mil itens. Inês brinca que talvez não quisesse o reconhecimento em vida, mas deixou tudo organizado para que isso viesse de alguma forma no futuro. 

Democratização

Recém-empossado como membro da Academia Mineira de Letras, ocupando a cadeira de número 30, o historiador Caio Boschi já ganhou uma missão da presidente Elizabeth Rennó, passando a fazer parte, ao lado de Amilcar Martins, da Comissão de Acervos Bibliográficos e Documentais da instituição. “A proposta é fazer com que a Academia não seja vista como um espaço de congraçamento e de uso-fruto de seus 40 membros, entendendo a responsabilidade social dela, na medida que integra formalmente o Circuito Cultural Praça da Liberdade. A ideia é democratizar o acervo, para que qualquer pessoa possa consultá-lo”, salienta.

Paralelamente à realização do inventariado, a intenção de Boschi é ir “abrindo aos poucos”, a partir do próximo ano. Além da questão de acessibilidade, o projeto permitirá que, no espaço anexo (chamado de Vivaldi Moreira, construído na década de 90), se possa montar exposições com recortes curatoriais.

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