Para além do aplauso, a reflexão em “Lições de Motim”

Miguel Anunciação - Do Hoje em Dia
29/09/2012 às 15:49.
Atualizado em 22/11/2021 às 01:41
 (Layza Vasconcelos/Divulgação)

(Layza Vasconcelos/Divulgação)

Uma cidadã se revolta contra a sociedade, e não é para menos: durante dez anos, todos os dias o mesmo ladrão (Liomar Veloso) invade e rouba tudo o que há na sua casa. Justo ela – que escolheu viver sozinha para evitar os aborrecimentos da convivência –, ter que arcar com esta situação tão desagradável. Um dia, o ladrão entala na janela da casa. E então é hora de Cotinha (Renata Caetano) bradar ao mundo sobre ética, justiça, valores cristãos, perdão e vingança.

É o que transcorre em “Lições de Motim”, da Cia Anthropos, atração de hoje e amanhã, no Galpão Cine Horto. Sem perder a chave do humor nem jamais ser didático. O leitor pode se perguntar o que traria um núcleo teatral de Goiânia a BH, certo? É graças a recursos do Prêmio Myriam Muniz, da Funarte, que o espetáculo será visto em outras cinco capitais: Cuiabá, Brasília, Campo Grande, Palmas e Goiânia.

De 2010, esta é a mais recente das 12 montagens que a Cia elaborou em 22 anos. Após reler notáveis autores da história do teatro (Ibsen, Ariano Suassuna, Brecht, Calderón de La Barca, Wedekind, Nelson Rodrigues), esta é a primeira vez que a Cia recorre a Hugo Zorzetti, diretor de larga experiência em Goiás, que nos últimos dois anos assume como dramaturgo-residente da Anthropos – que vem do grego e, traduzindo, quer dizer “humano”.

ALÉM DO APLAUSO

“É o primeiro fragmento de um trilogia”, situa Constantino Isidoro, diretor do espetáculo e único remanescente da formação inicial do grupo, que hoje somaria 12 integrantes. “Lição de Motim”, ele diz, possuiria as virtudes das demais montagens. “Sem impor lições de moral, buscamos temáticas que promovam no público a reflexão da vida, que não se encerrem apenas no aplauso”, garante o diretor. Além de dirigir, ele tem ministrado aulas de interpretação em Brasília, há três anos. O que o manteria na ponte-aérea.

Talvez ainda não se possa dizer que o teatro feito no Centro-Oeste tenha um perfil característico, algo de “seu” a vangloriar, afirma Constantino. Mas estaria em franca efervescência, registraria o surgimento de muitos novos grupos, sobretudo graças ao impulso trazido pelas leis de incentivo.

JOVENS INFRATORES

O dinheiro que o poder público renuncia pelo incremento das artes teria favorecido sobremaneira a Anthropos, beneficiária de três editais da Funarte e um da Eletrobrás, distinção muito rara no teatro daquela região. Habituada a promover formação para atores iniciantes, de onde colheu boa parte dos seus integrantes, há três anos a Cia oferece a jovens infratores cursos de formação em técnicas do teatro. Menos em atuação, já que haveria mais mercado para técnicos, e atuar nem sempre garantiria boa remuneração.

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