Para rir de novo: ver filmes dos Trapalhões no streaming é oportunidade rara

Paulo Henrique Silva
31/01/2019 às 06:00.
Atualizado em 05/09/2021 às 16:19
 (RA PRODUÇÕES/DIVULGAÇÃO)

(RA PRODUÇÕES/DIVULGAÇÃO)

“Ô Psit!”, “cacildis”, “forevis”, “transmimento de pensação”. Em algum momento de sua vida, você certamente já ouviu um desses bordões que marcaram quatro décadas de trapalhadas no cinema. Protagonista de filmes que até hoje permanecem no topo das maiores audiências no país, a trupe formada por Didi, Dedé, Mussum e Zacarias está sendo reverenciada no canal Viva (TV por assinatura). 

Após reprisar os programas exibidos na Globo e produzir homenagem ao estilo “Escolinha do Professor Raimundo”, com novos atores fazendo os icônicos personagens, a emissora montou um pacote de 18 longas que podem ser vistos gratuitamente, até 8 de fevereiro, na internet, pelo Viva Play (globosatplay.globo.com/viva), ou pelo serviço de Video on Demand da NET.

Ainda que represente pouco menos da metade da produção cinematográfica do grupo, a seleção é oportunidade rara, já que as comédias dos Trapalhões ocupavam as tardes da Globo, durante as férias, na “Sessão da Tarde”, há mais de 20 anos. Na TV fechada, o Canal Brasil também apresentou títulos na programação.

Muitos outros longas poderiam ser acrescidos ao pacote do Viva, como “Os Trapalhões na Serra Pelada” e “Os Trapalhões no Auto da Compadecida”, observa Fatimarlei Lunardelli, autora do livro “Ô Psit! O Cinema Popular dos Trapalhões” (Artes & Ofícios). “Mas, de qualquer forma, é uma amostra excelente para as novas gerações e, também, para podermos rememorar. Eles tinham uma alegria espontânea de um tempo de inocência que, parece, está nos faltando”, registra.

Escolhas

A seleção compreende desde os filmes solos de Renato Aragão (o Didi), cearense que era o mentor do grupo, no final da década de 1960, até a reunião dos quatro comediantes – o paulista Dedé Santana, o carioca Antônio Bernardes (Mussum) e o mineiro Mauro Gonçalves (Zacarias), quando chegaram ao auge do sucesso, com dois filmes sendo lançados anualmente, durante as férias, nos anos 70 e 80. 

Com a morte de Zacarias (1990) e Mussum (1994), a década seguinte não foi boa para os Trapalhões, que também perderam gradativamente apelo popular, devido à manutenção de um humor ingênuo que já não interessava mais às crianças.

“O filme ‘Os Saltimbancos Trapalhões’ foi o projeto mais caro e ambicioso, filmado nos Estados Unidos, fazendo uma reflexão crítica sobre a situação do artista no contexto de país pobre e subdesenvolvido. A partir dele, os Trapalhões se voltam para questões sociais”Fatimarlei LunardelliProfessora e pesquisadora

‘Eles fazem parte da tradição popular’, afirma pesquisadora

A professora e pesquisadora Fatimarlei Lunardelli observa que Renato Aragão, “cérebro do projeto artístico dos Trapalhões, teve a sagacidade, ao chegar ao Rio de Janeiro, vindo do Ceará, de aliar o humor circense e tradicional com referências aos clássicos da literatura infantojuvenil e, também, com a cultura pop dos anos 60 aos 90”. 

Em sua avaliação, os Trapalhões representam um dos projetos mais bem-sucedidos de cinema industrial na história do brasileira, com uma produção constante ao longo de quatro décadas. “Eles fazem parte da tradição do cinema popular, que se comunica com o grande público, assim como as chanchadas da Atlântida, que tinham Oscarito e Grande Otelo”, afirma.

Para Fatimarlei, uma das características principais da trupe é a alegria, numa abordagem simples em que o corpo é instrumento para o humor. “Eles são palhaços que se jogam, dão pontapé na bunda, fazem piadas de duplo sentido, mas tudo com ingenuidade. Representam figuras do povo, cada um com seu tipo peculiar”.

As histórias, segundo ela, seguiam a estrutura dos contos populares, sempre com um casal apaixonado que enfrentava dificuldades na sua relação e os Trapalhões a ajudá-los. “Eram heróis populares e parodiavam de tudo. E faziam enorme sucesso. Cada novo filme estava em diálogo intenso com o momento de sua realização”, sublinha. 

Paródias

Fatimarlei pondera que a exibição no canal Viva é uma oportunidade para se perceber o efeito que os Trapalhões produzem no público atual, “já que as piadas – excetuando-se o trabalho corporal – são fortemente paródicas, tanto em relação a programas e novelas da TV quanto aos blockbusters de cada época”.

Bom exemplo é “O Cangaceiro Trapalhão”, presente na seleção. “Paródia genial ao gênero faroeste, situada no Nordeste do cangaço, com Nelson Xavier e Tânia Alves recém-saídos do sucesso da série ‘Lampião e Maria Bonita’, produzida pela Globo. Com referências ao cinema norte-americano, o filme traz Renato Aragão na pele de Zé das Cabras, figura simples, popular, comum a todos os filmes dos Trapalhões”.Editoria de Arte

Clique para ampliar ou salvar

Leia mais:

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por