Para ver, ouvir e praticar movimentos

Paulo Henrique Silva - Hoje em Dia
16/09/2014 às 08:50.
Atualizado em 18/11/2021 às 04:13
 (Débora de Oliveira)

(Débora de Oliveira)

É como uma orquestra. Mas sem violinos, violoncelos, flautas e trompetes. Na exposição “Objetos de Medida”, que será aberta nesta terça-feira (16) na galeria Genesco Murta do Palácio das Artes, o duo mineiro O Grivo troca os músicos por mecanismos motores e elétricos.

Maestro? Do ponto de vista “físico”, também não tem. Mas todos os sons que saem desse maquinário foram minuciosamente pensados por Nelson Soares e Marcos Moreira, dupla que está à frente de um rico trabalho de pesquisa musical a partir de fontes pouco convencionais.

Uma delas é o simples nó de uma linha de costura. Outra, mais complexa, envolve fios que se trombam (contatos elétricos) e sinalizam a um computador próximo para reproduzir determinados sons.

AUMENTO DE PÚBLICO

“A base dessa exposição é a descoberta de formas analógicas de se fazer ritmo”, assinala Moreira, que usou recursos do programa Filme em Minas para a realização da mostra – a primeira de O Grivo – após 24 anos na estrada como uma das referências do país na música contemporânea.

A primeira vez que esses objetos estarão “trabalhando” sem a presença de Soares e Moreira é resultado da confiança do duo na durabilidade e eficácia dos materiais que usam em sua construção. “Estão mais estáveis, sem dar muita manutenção como antigamente”, observa Moreira.

A aposta nessa saída dos palcos para o ambiente expositivo é acompanhada pela crença de ampliação do público para um estilo musical muito seleto. “Os concertos são frequentados por gente especializada. Numa exposição, há mais tempo para se usufruir e entender”.

APELO VISUAL

Moreira cita como exemplo um show de jazz do multi-instrumentista americano Anthony Braxton, realizado em São Paulo no mês passado.

“Foi sensacional, coisa de outro planeta. Mas como faz um jazz mais experimental, que não pulsa, as pessoas que não estão acostumadas acham estranho”.

Numa exposição, ele acredita que outros apelos podem ajudar, como o visual. Além de uma forma diferente de interagir com aquela música, sem horário para começar ou acabar. “E como são dois meses, diferentemente de um concerto, que é só um dia, o público será muito maior”, destaca.

Em curso, trilha sobre Marina Abramovic


“Objetos de Medida” não se resume ao som. A parte imagética tem papel importante, funcionando de forma semelhante, a partir do acionamento gerado pelos mecanismos inventados pelo duo O Grivo.

Os fios elétricos que criam o contato também sinalizam para o computador projetar uma determinada cena. Curiosamente, a inserção de imagens só aconteceu depois da aprovação no Filme em Minas.

Programa estadual de fomento ao cinema, o Filme em Minas contemplou o projeto na categoria Formato Livre, levando em consideração as trilhas sonoras feitas por Marcos Moreira e Nelson Soares para filmes mineiros.

Assim como o som e a imagem, a iluminação também mereceu cuidado especial. Acionada por sinais decodificados pelo computador, ela ganha uma tom amarelado para reforçar a cor da madeira do maquinário.

LOOPING

Essas três partes (som, imagem e iluminação), juntas, criam uma curiosa orquestra que trabalha em looping. Primeiramente, as engenhocas se “apresentam” separadamente. Ao final, funcionam ao mesmo tempo.

No cinema, O Grivo está preparando a trilha sonora do documentário “A Corrente – Marina Abramovic no Brasil”, de Marco del Fiol, sobre a artista sérvia, considerada a avó da arte performática.

Radicada em Nova York, ela realizou várias viagens de busca espiritual no país, a partir de 1989. No próximo ano, será homenageada com uma grande retrospectiva em São Paulo, no Sesc Belenzinho.

“O filme documenta o contato dela com várias manifestações culturais, como o candomblé, rituais indígenas e os raizeiros”, registra Moreira, que assina a montagem de som e a trilha ao lado de Soares.

“Objetos de Medida” – Com mecanismos criados pelo duo O Grivo. De terça a sábado, de 9h30 às 21h, domingo, de 16h às 21h. Na Galeria Genesco Murta do Palácio das Artes (Avenida Afonso Pena, 1537). Entrada franca. Até 16 de novembro.

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