Participando da Bienal de Minas, Raphael Montes afirma virtude como romancista policial

Hoje em Dia
17/11/2014 às 08:13.
Atualizado em 18/11/2021 às 05:02
 (Bel Pedrosa/ Divulgação )

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Não se assuste caso não consiga parar de ler “Dias Perfeitos”. Sugar a atenção do leitor para que ele vá com euforia até a última página do livro é um prazer íntimo para o carioca Raphael Montes. Com apenas 24 anos, o escritor prodígio colhe os frutos de ter sacudido a cena da literatura policial brasileira com apenas dois romances lançados. “Suicidas”, de 2010, foi finalista do Prêmio Benvirá de Literatura do mesmo ano, do Machado de Assis 2012 e do Prêmio São Paulo de Literatura 2013. Disputado por várias editoras, Raphael assinou com a Companhia das Letras para lançar “Dias Perfeitos”, sucesso de público e crítica. Os livros tiveram seus direitos vendidos para adaptações cinematográficas e colocaram Raphael, nas palavras do escritor americano Scott Turrow, como “uma figura da cena literária mundial”. Com tamanha repercussão, o escritor vem a Belo Horizonte para a Bienal do Livro de Minas 2014. Junto com o escritor e roteirista Marçal Aquino, Raphael Montes participa, na próxima sexta-feira (21), da mesa “Literatura Policial Brasileira”, com curadoria do carioca João Paulo Cuenca.   Raphael diz não temer o rótulo. Assume-se como um escritor policial, já que foi o gênero que o levou à literatura, quando uma tia-avó lhe apresentou às aventuras escritas por Arthur Conan Doyle. Raphael tinha 12 anos – e sua vida mudou ali. O sucesso dos textos escritos para amigos da escola o incentivou a levar o hobby como um ofício. Quando a mãe pediu para que escrevesse um livro de amor, veio “Dias Perfeitos”, uma história de amor, sequestro e obsessão.   ‘Sou jovem e faço livros, paciência’   A trama de “Dias Perfeitos” fala da paixão obsessiva de Téo, introvertido e metódico estudante de medicina, pela sonhadora Clarice. Ele decide conquistá-la sequestrando-a e colocando-a, sedada, em uma mala rosa, enquanto viaja pelos arredores do estado do Rio de Janeiro na tentativa de fazer com que a garota tenha algum sentimento por ele. Toda a ação, para Téo, é justificável, natural. Enquanto Clarice é submetida a um terrorismo físico e psicológico, o estudante de medicina acredita estar em uma história de amor.   Raphael triunfa nas reviravoltas da trama, no estado psicológico dos personagens e no roteiro bem elaborado. A figura feminina de Clarice se sobressai e o livro aproveita bem as paisagens. A ousadia fica por conta da ausência da figura do detetive noir, tão comum na literatura policial. Apesar da complexidade dos personagens, a história e os diálogos são simples, talvez por isso a leitura flua facilmente. A trama é ágil e bem desenvolvida. “O que eu pensei na hora de escrever foi exatamente o que leva alguém a se apaixonar por alguém. Qual é a semente inicial que causa o amor? E o que ‘descausa’? Como mesclar isso? Toda literatura policial possui um enigma. No livro é justamente esse: ela gosta dele ou não?”, explica Raphael.      Gênero policial    Para o escritor, a boa literatura policial é aquela que entretém na superfície, mas, em uma segunda camada, faz com que o leitor mais atento capture reflexões sobre elementos mais profundos, como um estudo sobre relacionamentos e personalidade. “Nos meus encontros com leitores, muitas pessoas ficaram chateadas com certas mortes e não tanto com outras. Isso é uma coisa que te leva a refletir sobre si mesmo, sobre quais são os nossos limites éticos”.    Entre outros brasileiros, Raphael destaca Luiz Alfredo Garcia-Roza, Patrícia Melo, Tony Bellotto e seu parceiro na mesa da Bienal de Minas, Marçal Aquino, autor de “O Invasor” e “Eu Receberia as Piores Notícias de Seus Lindos Lábios”. A investigação, o crime e o criminoso são características que, para Raphael, ajudam a definir o gênero policial, mas avisa que não pretende reinventar o gênero, apenas seguir outros caminhos. “O crime é só um fato, o que leva a ele e suas consequências são o que mais me interessa como escritor”.   Para alguns, espanta tamanha bagagem em um escritor jovem, já com dois livros lançados aos ‘vinte poucos anos’. “O que eu tenho a dizer é que simplesmente sou jovem e faço livros, paciência. Espero que a cada ano eu melhore. Imagine se daqui a 30 anos o meu melhor livro ainda seja “Dias Perfeitos”, que escrevi quando tinha 23 anos? Não dá, né?”.   * Colaborou Danilo Viegas/ Especial para o Hoje em Dia

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