CIDADE DE GOIÁS – Um dos rostos mais marcantes da TV brasileira, Paula Saldanha completa 60 anos nesta sexta-feira (19) em ritmo de revival. São lembranças do início da carreira, em programas como "TV Globinho" e "Fantástico", que estão muito longe de desaguarem numa sessão com o psicanalista. Distante dos holofotes, mas não da televisão, Paula não se arrepende dos rumos que sua vida tomou, valendo-se da TV como um veículo para sua preocupação com o meio ambiente. É a sua grande paixão, que a alimentava bem antes de se tornar uma das principais apresentadoras do país. Inovação Prova disso é que as imagens antigas estão sendo reunidas para o projeto "Biodiversidade", exposição multimídia que percorrerá o país nesse segundo semestre. Entre as curiosidades, estão reportagens para a "TV Globinho", inovador programa que conquistou uma geração de crianças no final da década de 70 e início dos anos 80. "Foi o primeiro programa sobre meio ambiente numa época em que as pessoas buscavam a palavra ecologia no dicionário para saber o que era", recorda Paula, num pequeno hiato durante as sessões do 15º Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental (Fica), na cidade histórica goiana. Jurada do Fica, realizado no início do mês, ela revela à reportagem do Hoje em Dia que fazer o programa era uma ousadia num tempo em que "a Globo estava alinhada com a ditadura militar". Paula aproveitava o fato de não ter censura prévia, por ser infanto-juvenil, para abordar temas atuais, com uma boa dose de crítica. Partidão "Foi a única forma de ficar na emissora na época da ditadura, porque meu pai (Aristides Saldanha) tinha sido do Partidão (Partido Comunista) e muita gente da minha família havia sido perseguida ou deixado o país", registra Paula, que sempre foi muito precoce. Com três anos e meio, essa carioca das Laranjeiras já tinha se alfabetizado. Com 16 anos, Paula, que era sobrinha do polêmico técnico João Saldanha, já escrevia livros – o primeiro foi "Tuc-Tuc", lançado em 1972 pela editora Primor-Larousse. Hoje são mais de 40 publicações, muitas delas traduzindo para a linguagem das crianças a temática ambiental. Documentários para a televisão somam mais de 800 títulos Paula Saldanha tinha 20 anos quando foi entrevistada sobre a tradução de seus livros no exterior. Chamou tanto a atenção durante a reportagem, "por olhar diretamente para a câmera, afirmando que os jovens devem ter seu espaço", que foi imediatamente contratada como apresentadora. Pouco mais de dez anos depois já tinha cansado de ser um rostinho bonito na televisão. "Me incomodava um pouco o fato de fazer um comentário importante e as pessoas só terem olhos para o meu sorriso, sem saber direito o que tinha falado", lembra. Foi assim que começou a investir mais na produção de documentários, muitos deles científicos, que já somam mais de 800 títulos. No início dos anos 90, ao lado do marido e biólogo Roberto Werneck criou o Instituto Terra Azul, mais tarde trocado para Instituto Paula Saldanha. Qualidade de vida "Nosso objetivo sempre foi o de criar projetos nas áreas cultural, social e ambiental, procurando levar a melhor qualidade de vida aos nossos irmãos brasleiros, como dizia (Oscar) Niemeyer", asssinala. Um dos seus projetos mais grandiosos foi o da expedição à nascente do rio Amazonas. "Fomos buscar a verdadeira nascente, nos Andes, que estava mil metros abaixo de onde antes era registrado. Assim se tornou também o maior rio em extensão, superando o rio Nilo", destaca Paula, que continuou fazendo programas para TV, especialmente para as públicas. Apesar da política estar presente na família, ela diz acreditar apenas na "política com P maiúsculo", algo que, segundo a apresentadora, se tornou raro entre nossos congressistas. "O que eles fazem hoje é politicagem, legislando em causa própria", critica.