Paulinho Moska: 'Palco é lugar de pegar fogo'

Cantor se apresenta amanhã em BH

César Augusto Alves
cpaulo@hojeemdia.com.br
05/05/2016 às 21:54.
Atualizado em 16/11/2021 às 03:17
 (Jorge Bispo / Divulgação)

(Jorge Bispo / Divulgação)

Um artista que se arrisca no violão e voz é aquele que sabe muito bem o que tem a oferecer. Trajetória e experiência, Paulinho Moska tem de sobra. Além de cantor, compositor, músico e apresentador de TV, mantém um pé no teatro e é gestor da própria carreira. É essa mistura que apresenta “Violoz”, show que chega amanhã a BH.

O projeto abarca canções que resumem a história de Moska, sua voz e 5 violões. Nas palavras do protagonista da noite, é a síntese de suas músicas mais conhecidas, que transformam a vida de quem as escuta, e uma celebração do “amor à vida”, mote que conduziu o projeto. “Meu desejo é de que a vida de todos melhore”, afirmou.

Forte em seu posicionamento artístico, Moska nunca abriu mão do estilo arrojado e de dar voz ao perfil “cantautor”. Ainda que tenha feito enorme sucesso também nas vozes de outros intérpretes, sempre interpretou o que emergiu de seus momentos de solidão (fundamentais para compor, segundo ele) com seus violões – diz considerar os instrumentos verdadeiros “filhos” com os quais vive grandes emoções.

 Entrevista

Prestes a se apresentar na capital com novo projeto, Paulinho Moska concedeu entrevista exclusiva ao Hoje em Dia. O cantor conversou sobre sua carreira e sobre seus processos artísticos. Confira:

“VIOLOZ” é uma revisita ao seu repertório com uma, digamos, nova roupagem, trazendo seus violões para essa empreitada. Revisitar a própria carreira revela qual desejo por trás dessa vontade de resgatar momentos?

Ao longo do tempo o diálogo com o público vai ganhando força, com canções mais conhecidas o show vai ficando cada vez mais poderoso. É maravilhoso chegar ao ponto de ter um show cheio de canções que trazem histórias minhas e de muita gente. Uma canção, quando se torna mais conhecida, transforma a vida de quem a escuta. E o show é uma celebração disso: "o amor àvida" que tento imprimir nas minhas letras. Meu desejo é de que a vida de todos melhore. Minhas canções falam sempre dessse mesmo assunto. 

Cantar suas canções para o público “do mesmo modo como foram compostas” não te deixa, de certo modo, exposto quanto a sua essência?

Mas o que seria do trabalho de um artista se não fosse para expor sua essência? O que fazem os compositores e artistas é justamente expor suas essências, para que outros também as exponham. Consumimos arte para aprender a expôr nossa essência. E fazemos arte para colocar nossa essência em prática. A essência é a matéria-prima da arte.

O palco é lugar de pegar fogo, mesmo que seja um show calmo e silencioso, é o fogo do espírito que está queimando.

Como é isso? Estar no palco e se relacionar com sua música, seu público, suas memórias, seus sentimentos...

Na verdade é muito mágico, uma outra forma de comunicação, muito mais ligada aos sentidos que aos significados. É um momento de pura transcendência, em que se pode sentir a energia que vem e a energia que vai...num fluxo que revitaliza todos. É a força da vida que aparece, a potência da beleza de cada um. O palco é lugar de pegar fogo, mesmo que seja um show calmo e silencioso, é o fogo do espírito que está queimando.

Você traz estes instrumentos e dá pra perceber o cuidado e a dedicação sua para com os instrumentos. Gosta tanto que faz deles seus companheiros no palco. Como é a relação do artista músico com o instrumento, o violão... Se tornam amigos? Não te tornam solitário?

A solidão também é algo fundamental para a composição... Em algum momento todos temos que "juntar coisas de acordo com nosso critério". Quando estamos sozinhos, um instrumento se transforma em fonte de novas viagens, como uma amizade profunda, que não te abandona. Geralmente os músicos cuidam de seus instrumentos como se fossem filhos. Sabemos que com eles viveremos grandes emoções, então é melhor cuidar. Instrumento gosta de ser tocado, e cada um tem seu jeito, sua maneira de se comportar, uma pegada diferente... Tem que conviver bastante para saber tirar o melhor som.

Boa parte de suas letras tem uma expressão artística bem forte, que cria uma estrutura quase dramatúrgica. Talvez por isso surge em novelas, trilhas de teatro, etc. Sabendo que você é formado em teatro. Em que medida é música e em que medida é teatro? E em que medida é cantor e em que medida é ator?

Dentro de mim é tudo misturado, sem medida. Sinto como se tudo se retro-alimentasse... Uma coisa potencializa a outra. Nós também somos uma composição e tudo que vivemos passa a ser o que somos. Carregamos nossos encontros e desencontros dentro de nossa alma. Sou essa mistura que vivi... Teatro, música, fotografia, cinema, TV, literatura, ciência... Tudo me interessa. Sou um leigo profissional.

e sinto muito grato.

“Último Dia” já ganhou duas honrarias para qualquer artista: foi interpretada por Ney Matogrosso e foi tema de samba-enredo por Paulo Barros. Isso reforça o caminho dramatúrgico de criação de sua música. Qual sentimento você tem ao ver uma criação sua caminhar “sozinha” por outros ambientes, outros universos para além do seu palco?

São como filhos. Você produz, cuida, ensina, aprende e de repente eles já não precisam mais de você. A canção também adquire vida própria, e cada compositor sabe que a melhor coisa que pode acontecer com uma canção é que ela seja gravada por muitos intérpretes diferentes. É a prova de que ela independe de si mesma e que pode ser interpretada de maneiras diversas.

Continuando... O que é ser interpretado por Ney Matogrosso, dentre outros ídolos da música popular brasileira?

No Zoombido (série de tv que apresento no Canal Brasil há 10 anos) cantei com muitos ídolos. Mestres como Gilberto Gil, Milton Nascimento, Erasmo Carlos, Djavan, João Bosco, Martinho da Vila.... E já fui gravado por Maria Bethânia, Marina, Ney Matogrosso, Elba Ramalho, Ed Motta, Ana Carolina, Francis Hime, Martnália, Zélia Duncan... Eu cheguei mais longe do que podia imaginar. Me sinto muito grato.

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Diria que Paulinho Moska é um artista “Low Profile”. Não se rende ao jet set, não aparece no noticiário senão pela arte, não se rende aos apelos. Mas existe vaidade em todo ser humano. Você, como artista reconhecido, com fãs, carreira de sucesso... Como é controlar a vaidade, lidar com a vaidade? Ela ajuda na criação também?

Vaidade é importante, temos que ter auto-estima. "Criar" pressupõe uma coragem e uma necessidade que quem não tem vaidade não consegue nem tentar. Eu sou mais recatado sim, nunca gostei de me expor em programas de TV que não vão me ajudar a caminhar por onde eu quero ir. Nunca tive pressa, sempre acreditei em uma carreira que fosse o reflexo de uma vida e sabia que uma vida não se conquista jovem. Tem que pagar com a moeda do tempo e gastar toda sua juventude em troca de uma carreira honesta e coerente. Mas o prêmio no final é muito melhor, estou começando a saboreá-lo.

Você surge como sensível artista, bom compositor e teatral cantor. “De repente”, você pega tudo isso, transforma em um produto, e resolve agenciar a própria carreira e ser empresário do próprio caminho. Qual é a separação empresário-que-vende-a-música e do músico criador?

Acho que o mundo está caminhando para isso: os artistas serem os gerenciadores de suas carreiras. Essa imagem de que um empresário vai dizer tudo o que tem que ser feito nunca me serviu. Posso ter errado muito, mas aprendi muito também. Trabalhar numa gravadora (estive por 13 anos contratado) é bom porque conhecemos rápido o funcionamento das coisas, mas ser independente e dono do próprio nariz não tem preço. Hoje só faço o quero. Tenho minha produtora e realizo meus projetos que depois ofereço para as gravadoras como licenciamento, mas a propriedade do que eu produzo é toda minha. E as decisões também. Isso foi conquistado com muito trabalho e algumas pauladas na cabeça.

“Muito pouco para todos” é um dos seus maiores sucessos já nessa fase empresário independente de grandes gravadoras. O mercado hoje, muitos dizem, está esfacelado. Não se encontram mais “boas casas do ramo”. Você está preparado para este mercado novo, que é o digital?

Sim, estou nesse momento me dedicando a compreender o desenvolvimento desse mercado. Estou montando uma equipe muito focada nisso. Também estou fazendo muitos projetos de TV (documentários). Esse ano vou viajar por 10 países sulamericanos filmando uma série nova chamada Tu Casa Es Mi Casa, que envolve cultura não-turística dessas capitais e, é claro, música!

E agora uma pergunta para finalizar que você já deve ter respondido algumas vezes... E se fosse o "Último Dia, o que você faria?

O que faço todos os dias: me sentaria para criar, produzir, compor... Tudo com a mesma urgência de sempre, porque o mundo de cada um de nós pode acabar daqui um segundo. 


Show “VIOLOZ” – amanhã, às 21h, no Grande Teatro do Cine Brasil Vallourec (Praça Sete). Ingressos de R$ 60 (meia) a R$ 130.

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