Peças discutem questão racial e busca pelo sucesso

Jéssica Malta
jcouto@hojeemdia.com.br
24/01/2018 às 18:50.
Atualizado em 03/11/2021 às 00:56
 (Naum Produções/Divulgação)

(Naum Produções/Divulgação)

No primeiro caso, temos a encenação de um tribunal, onde uma corte composta por pessoas brancas julga crimes supostamente cometidos por um grupo de negros. No segundo, peripécias de dois atores que fazem tudo em busca do sucesso. Esses são os enredos de “Os Negros” e “A Cerimônia”, espetáculos que ficam em cartaz entre esta quinta-feira (25) a domingo (28) no Galpão Cine Horto.

Encenados pelo Coletivo Impossível – formado por alunos do Teatro Universitário da Universidade Federal de Minas Gerais – as peças foram escolhidas a partir da observação do professor Rogério Lopes, que assume a direção das montagens. “Quando soube que iria dirigir a turma, me chamou muita atenção pelo fato de metade dela ser formada por negros”, conta ele. “Esse era um elemento importante para ser colocado em foco. Apesar de ser uma coisa que deveria ser comum, já que nosso país é majoritariamente negro”, pontua.

Com o intuito de chamar a atenção para essa questão – que, segundo o professor, atesta a própria mudança no perfil das universidades, fortalecida por leis afirmativas – que o texto “Os Negros – uma clowneria”, do dramaturgo Jean Genet”, foi um dos escolhidos para a formatura da turma. “É um texto que trazia a exigência do autor de ser encenada apenas por negros”, diz Lopes. “Além disso, ela traz a questão racial de forma muito explícita, uma vez que coloca uma corte de brancos julgando um conjunto de negros que supostamente cometeram um crime”, destaca.

Para reunir os outros alunos da turma, o professor conta que optou pela montagem do texto do espanhol Fernando Arrabal, “Cerimônia Para Um Negro Assassinado”. “Sintetizamos o texto, porque essa peça não discute a questão racial, mesmo que traga isso no título”, explica ressaltando a ligação entre as montagens. “Além de fazerem parte do que a gente chama do Teatro do Absurdo (expressão que chancela peças escritas no pós Segunda Guerra Mundial que trazem elementos ligados a solidão, pavor e ineficiência da comunicação por parte do homem moderno), elas também brincam com o meta-teatro, que é o teatro dentro do teatro”, explica.

O diretor sublinha também o humor presente nos espetáculos, que apesar de tratarem de temas fortes e contemporâneos como a questão racial e a busca do sucesso a qualquer custo, têm a comédia sempre presente. “Isso ajuda a pensar questões importantes, mas sem ser panfletário demais”, sublinha.

Serviço: “A Cerimônia” e “Os Negros”, entre quinta-feira (25) e domingo (28), às 19h, no Galpão Cine Horto (Rua Pitangui, 3613 – Horto). Ingressos a R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia).

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