Pedro Bandeira relança livros clássicos em BH

Vanessa Perroni
vperroni@hojeemdia.com.br
14/09/2016 às 11:48.
Atualizado em 15/11/2021 às 20:49
 (Rubens Romero / Divulgação)

(Rubens Romero / Divulgação)

Autor de clássicos da literatura infantojuvenil como “A Droga da Obediência” e “O Fantástico Mistério de Feiurinha”, Pedro Bandeira vem a BH nesta quarta-feita (14) para lançar novas edições de “Alice no País da Mentira”, “Brincadeira Mortal”, “Gente de Estimação”, “O Grande Desafio”, “Descanse em Paz Meu Amor...”, “Prova de Fogo”, “Mariana Menina e Mulher” e “Histórias Apaixonadas”. Lançados agora pela Editora Moderna, 20 anos após chegarem às prateleiras, os oito livros tiveram textos revistos pelo autor e ganharam capas inéditas e projetos gráficos diferenciados. A sessão de autógrafos é a partir das 19h na Livraria Saraiva do Diamond Mall (av. Olegário Maciel, 1600). 


Leia entrevista exclusiva com o autor: 

 O que te levou a revisitar as obras?
Desde 2009 tenho um contrato de exclusividade de publicação das minhas obras pela Editora Moderna, o que significa que os meus lançamentos e/ou novas edições passam a sair por essa editora. Esses oito livros que estou relançado estavam no catálogo de outra editora e é com muita alegria que após 20 anos eu possa oferecer aos meus leitores novas edições de obras que são muito especiais para mim.

 
Nesse processo, quais mudanças foram feitas?
Foram feitas diversas mudanças, a começar pela cara dos livros. As obras foram modernizadas pois ganharam versões coloridas, um formato maior, e muito mais jovem e rápido, com jeito de HQ, de comics. A produção deles é uma grande novidade para o segmento juvenil.
 
Qual a expectativa frente a esse relançamento?
Estou com muita esperança de que sejam bem recebidos. Meu público jovem responde sempre muito bem aos meus lançamentos, as professoras que já estão acostumadas com a qualidade das minhas obras, realmente recebem os meus livros de braços abertos. Esses lançamentos são de vários tipos e diferentes propostas, algumas psicológicas, muitas são de aventura, de emoção, de suspense... São obras que prometem agradar a todas as meninas e meninos que estão na fase do ensino fundamental 2 (a partir dos 11 anos) 
 
Você percebe diferença entre os leitores da época em que começou sua trajetória no universo infantojuvenil para os leitores de hoje? Quais? Como chegar a esse público?
Não, a literatura não é feita por um momento, para um tempo. A literatura existe para sempre. Ninguém muda. Quando os homens andavam de carro de boi, e passaram de carruagens e depois passaram para automóveis ainda eram as mesmas pessoas. São pessoas que amam, que tem medo, que tem esperança, que sofrem, que se desesperam às vezes e que procuram na literatura alimento para seus sentimentos, um lenço para enxugar suas lágrimas. Isso nunca mudará. William Shakespeare escreveu suas peças ha 400 anos atrás e elas continuam mais vivas do que nunca porque ele não falou de seu tempo e sim falou do ser humano, do amor, do ciúme, da ambição, da inveja, da traição... isso existiu, existe e sempre existirá
 
O que os jovens buscam em um livro?
Para o jovem, o livro tem que ser um espelho onde ele veja refletido os seus sentimentos, suas expectativas e ansiedade e caminhos para poder repensar seus problemas, abrir uma fresta de esperança e alegria. Eles buscam em todos os livros os quais eles gostam. Livros que não tem isso eles não gostam.
 
A tecnologia pode dificultar a produção do escritor ou ela é um auxílio?
Claro que as novidades da tecnologia, pelo menos para um autor como eu, foram fabulosas. Os meus grandes best-sellers A droga da obediência, A marca de uma lágrima, O fantástico mistério de feiurinha foram escritos a lápis, pois permitia que eu apagasse, rabiscasse, fizesse anotações nos cantos. Eu só utilizava a máquina de escrever para passar o texto a limpo, pois a máquina de escrever não permite que você interfira no texto. Agora com o computador a coisa ficou fabulosa, pois você pode cortar, introduzir observações, pode fazer um monte de coisas. A tecnologia só vem para ajudar, nunca imagine que as conquistas humanas vieram para prejudicar a vida humana, elas só vieram para nos ajudar. Viva a modernidade, viva a tecnologia!
 
Recentemente, ocorreu um conflito entre pais e mestres em uma escola de Belo Horizonte. O colégio católico solicitou aos alunos a leitura de seu livro "A Marca de Uma Lágrima", de 1985. Pais de alunos do sétimo ano fizeram um abaixo-assinado para a remoção do livro, alegando que ele poderia "causar comportamentos irreparáveis (sic), presentes e futuros" incompatíveis com uma escola "reconhecidamente católica". Você soube desse caso? Acha que nossa sociedade vive um conflito moral?
Sim, soube desse caso. Volta e meio aparecem reações desse tipo. As meninas desses pais devem ter 12 anos.
 
É bem provável que suas meninas já tenham entrado na adolescência. Nesse momento o espírito juvenil fica muito inseguro e pede muita atenção; não sabe o que vai acontecer com a pessoa e é o momento em que pais e escolas têm que ajudar e esclarecer, estender a mão para apoiar essa pessoa nessa passagem da infância par fase adulta.
 
Meus livros sempre fizeram isso. Eu estudo profundamente psicologia e desenvolvimento, eu sei psicologicamente o que ocorre nessa fase do desenvolvimento humano, especialmente as meninas que entram na puberdade antes dos meninos, de todas as dúvidas que acontecem com elas, as mudanças no seu corpo, o aparecimento de caracteres sexuais secundários e os hormônios que começam a explodir dentro do seu corpo, e ela começa descobrir a atração por outras pessoas. Esse é o momento em que temos que apoiar essas crianças.
 
Essa escola não adotou esse livro esse ano, ela sempre adota esse livro para essa idade, porque a orientadora, a diretora e as professoras dessa escola sabem que precisam apoiar e esclarecer essas alunas.
Eu digo, não quero mudar a cabeça desses pais, eles pensam que estão protegendo e resguardando a inocência das suas filhas, mas não, eles estão resguardando o desconhecimento e ignorância delas. Pensem um pouco!
                                                                                                                                                                                          
Por isso que esse livro já vendeu um milhão de exemplares e já criou uma legião de adultos hoje que tiveram esse livro como um grande auxílio no auto conhecimento. Não tenham medo da literatura, ela só existe pra ajudar e para poder refletir os sentimentos humanos, a mostrar que dúvidas como dessas meninas todo mundo tem ou teve, e que ela está se tornando um adulto, mas quero que seja uma pessoa segura, com conhecimento, inclusive para resistir à coisas erradas que podem aparecer na frente delas, às tentações, à pessoas irresponsáveis que poderão querer tomar partido e se aproveitar dessas meninas.
 
Quem leu "A Marca de Uma Lágrima" saberá resistir e saberá vencer e crescer com confiança e sorriso nos lábios.
 
Qual a sua relação com o público mineiro?
Nós temos muitos estados no Brasil, mas eu diria que MG é um dos lugares onde eu sou recebido de braços abertos. Agora que estou indo pra BH e vou ver meus antigos leitores, muitos deles são escritores, jornalistas, que criam fãs clubes do Pedro Bandeira. São pessoas extremamente bem realizadas e sucedidas e me fazem chorar de alegria quando me dizem que meus livros ajudaram a torná-los o que eles são.
 
Hoje tenho leitores mineiros de 20 a 40 anos. Eles me escrevem e eu recebo e-mail deles o tempo todo, como se fossem meus filhos. Uai! Os mineiros são meus filhos sim!

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