Pesquisadora defende Humberto Mauro também como documentarista

Paulo Henrique Silva - Hoje em Dia
23/05/2014 às 07:55.
Atualizado em 18/11/2021 às 02:42
 (Fundação Humberto Mauro)

(Fundação Humberto Mauro)

“Pai do cinema brasileiro” na definição de Glauber Rocha, o diretor mineiro Humberto Mauro é sempre lembrado por obras ficcionais como “Brasa Dormida” (1928) e “Ganga Bruta” (1933), que frequentemente aparecem na lista dos melhores filmes brasileiros de todos os tempos.

O lado documentário do mestre de Cataguases, exercido principalmente durante o tempo que ficou à frente do INCE – Instituto Nacional do Cinema Educativo, ganhou menos importância após realizar filmes considerados de “propaganda” para o governo de Getúlio Vargas.

É esse preconceito que a pesquisadora Sheila Schvarzman, autora do livro “Humberto Mauro e as Imagens do Brasil”, procurará desfazer em sua palestra “Humberto Mauro documentarista”, que acontecerá neste sábado (24), às 16 horas, dentro da mostra dedicada ao diretor, promovida pelo Palácio das Artes.

Para a professora do Mestrado em Comunicação da Universidade Anhembi, de São Paulo, Mauro foi principal realizador brasileiro da fase clássica do documentário sonoro. “É o nosso grande nome no gênero porque não há outro que produziu tanto, de forma contínua e com uma qualidade indiscutível quanto ele”, salienta Sheila.

Estrutura

O cineasta produziu 357 trabalhos documentais em que se percebe, segundo a pesquisadora, uma capacidade única para observar a realidade à sua volta. “Naquela época, ainda não havia uma escola e diretores como (Robert) Flaherty, (Alberto) Cavalcanti e Mauro inventaram uma estrutura”, ressalta.

Uma de suas características foi a opção pelo formato docudrama. Sheila cita como exemplo o filme “Um Apólogo – Machado de Assis” (1939), em que Mauro faz uma biografia do autor e encena um de seus contos. “Hoje esse recurso passou a ser muito utilizado, especialmente na TV”, assinala.

Ela questiona o forte caráter negativo que dão aos filmes “de propaganda” do diretor, ponderando que não se pode diminuir a importância que eles têm devido ao ideário. Em “A Velha a Fiar” (1964), Sheila destaca o evidente prazer de filmar de Mauro, perceptível na maneira como representou os ciclos de vida e morte.

Campo

A autora concorda que Humberto Mauro idealizava o campo, uma temática muito presente em sua filmografia. Mas ressalva: “Em Minas Gerais, a relação entre campo e cidade era menos desigual do que em outros Estados. O trabalho escravo que ocorria em algumas propriedades não era tão importante em Minas”, analisa.

Mostra traz sessões comentadas, palestras, cursos e homenagens

Segunda grande mostra do ano realizada no Palácio das Artes, após revisitar toda a obra do diretor sueco Ingmar Bergman, “Humberto” terá nesta sexta-feira (23), às 19h30, a sua abertura oficial, no cinema que, desde a década de 1970, leva o nome do pioneiro mineiro.

Na tela, uma edição de filmes de Mauro acompanhada ao vivo por uma trilha sonora confeccionada pelo sobrinho neto Gilberto Mauro, em parceria com Ricardo Garcia. Também será prestada homenagem póstuma a Zequinha, filho de Mauro.

Divulgada como a maior mostra dedicada ao diretor, “Humberto” também oferecerá palestras, cursos e sessões comentadas. Entre os palestrantes estão Ronaldo Werneck, amigo pessoal do cineasta, o crítico Inácio Araújo, o pesquisador Hernani Heffner e a produtora Alice Gonzaga.

Ganga Bruta

Alice é filha de Ademar Gonzaga, dono dos estúdios da Cinédia, que realizou vários filmes de Mauro, entre eles o clássico “Ganga Bruta” (1933). O filme, aliás, será exibido no encerramento na mostra, nos dias 10 e 11 de junho, com trilha executada pela Orquestra Sinfônica de Minas Gerais.

O processo de recuperação da partitura original de “Ganga Bruta”, feita pelo maestro titular da Orquestra Sinfônica de Minas Gerais, Marcelo Ramos, levou três meses para ser concluída.

Na apresentação, o nome homenageado será o de Cyro Siqueira, falecido recentemente.

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