Poeta Jovino Machado lança suas ‘Sobras Completas’ em noite de autógrafos em BH

Patrícia Cassese - Hoje em Dia
26/11/2015 às 08:11.
Atualizado em 17/11/2021 às 03:05
 (Fábio Cançado/divulgação)

(Fábio Cançado/divulgação)

Poesia não dá dinheiro, reconhece Jovino Machado, mas sem qualquer  laivo de ressentimento. É que o segmento ao qual se dedica, frisa, lhe deu muito mais. “Amigos, amores e algum prestígio”, lista ele, que, nesta quinta (26), das 19 às 21h30, autografa, no Café 104 (Praça da Estação), o livro “Sobras Completas”. A obra reúne os dez títulos lançados pelo autor entre 1993 e 2013, além de  poemas  inéditos (em livro) e a republicação de textos, como o de Joca Reiners Terron,  publicado originalmente em “Fratura Exposta” (2005), de Jovino.

“Os poemas até então inéditos em livro são textos publicados na internet ou revistas, jornais e antologias. Na seleção, reneguei os três primeiros livros publicados nos anos 1980, fiz uma seleção criteriosa de ‘Deselegância Discreta’ e publiquei, no ‘Sobras’, tudo o que escrevi a partir do quinto e até o 13º livro”, conta ele.

Frente à baliza de duas décadas dedicadas à poesia, Jovino assegura que nunca pensou em desistir. "E sempre levo tudo até as últimas consequências. Eu não acredito em inspiração e quando não estou conseguindo criar, ouço o violão do João Gilberto, vejo um filme do Glauber Rocha ou leio os romancistas russos", diz, todo sincero.

O projeto gráfico de "Sobras" é um capítulo à parte. O livro conta com capa dura, ilustrações, cores vibrantes. A intenção, diz o material de divulgação, é atrair não somente o público de poesia, mas também os interessados por design e artes gráficas. Mas, na verdade, é bom ressaltar que várias boas ideias pipocaram para este lançamento: inclusive, a disponibilização, na web, de áudios, com a leitura de poemas feitas pelo próprio autor. Ainda que o que importe, claro, seja o conteúdo.

"Foi um projeto feito a três, mas todas as ideias do projeto gráfico e da edição são de autoria do artista plástico Daniel Bilac e da designer Valqu?íria Rab??elo, do Estúdio Guayabo. Eu colabor??ei com a minha obra. Na verdade, acho que poesia não se faz com ideias, e sim com palavras. ideia é coisa de publicitário e dura 30 segundos, que é o tempo do comercial".

Em tempo: o Hoje em Dia desafiou Jovino a apontar, a seu bel prazer, um poema cuja gênese fosse, digamos assim, curiosa. Ele, porém, optou por um grupo. "Acho que o conjunto das cantigas de maldizer, que estão no final do livro Cantigas de Amor & Maldizer, tem uma história curiosa, porque a musa é um satanás de saia que não quis ser viúva e morreu na praia. Seu fogo era frio, sua forca era fraca e seu punhal era podre. Ela se enforcou no ego, se queimou na vaidade, se matou na maldade. não quis envelhecer, antes de apodrecer. Os vermes adoraram o belo pasto. A cruz de sua sepultura é um espelho. São doentias as flores que cobriram o seu corpo no caixão, porque estavam todas contaminadas pelo abismo da estupidez".

Como curiosidade, o livro inclui ainda reproduções de parte de uma lista de livros lidos metodicamente organizada por Jovino desde os anos 1980 e de uma pequena carta do célebre escritor Raduan Nassar em resposta ao livro "Samba" (1999).

Biografia

Jovino Machado nasceu em Formiga, em 1963, mas já está há muito radicado na capital. Foi publicado em diversos jornais e revistas, incluindo o Suplemento Literário de Minas Gerais e o Jornal Rascunho. Também tem figurado em sítios reconhecidos como o portal Cronópios e a revista digital Germina Literatura. Publicou, desde os anos 1990, "Deselegância discreta" (1993), pela Luana Dandara Editores Associados; "Disco" (1998), "Samba" (1999) e "Balacobaco" (2002) pela Orobó Edições; "Trint'anos proust'anos" (1995) pela  Mazza; "Fratura Exposta" (2005) e "Cor de cadáver" (2009) pela Anome Livros; e as plaquettes "Meu bar meu lar" (2009), "Amar é abanar o rabo" (2009) e "Cantigas de amor & maldizer" (2013), editadas independentemente.

Confira, a seguir, um dos poemas de Jovino:
 

Autorretrato
 
jovino machado
36 anos
signo de leão
roupas pretas
jornal na mão
sábado à noite
dentro de um táxi
sem ter para onde ir

meu jeito bêbado de ser
tenho medo de ser atropelado
com uma lata de cerveja na mão
mas não seria bom
para a minha biografia
ser atropelado
sem uma lata de cerveja na mão

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