Primeira visita ao museu estabelece relação para o resto da vida

Pesquisa feita com mais de 600 brasileiros elege ida com obrigação escolar como vilã para pouca presença posterior aos espaços

Bernardo Almeida
22/05/2019 às 23:05.
Atualizado em 05/09/2021 às 18:46
 (Bernardo Almeida)

(Bernardo Almeida)

Uma pesquisa traçando o perfil do brasileiro quanto à ida a museus identificou que 55% tiveram seu primeiro contato por meio de excursões escolares. Os dados foram apresentados na noite desta quarta-feira (22), no Rio de Janeiro. A partir de análises qualitativas, os responsáveis identificaram que a obrigação de compreender o teor do acervo é o grande motivo de afastamento da população desses espaços. O levantamento foi feito pela consultora Consumoteca, encomendado pelo Oi Futuro, órgão cultural da operadora de telefonia.

A partir de consulta a quem se disse visitante de museus (quem foi ao menos uma vez no último ano) e os que não vão, mas consomem conteúdos culturais em outros espaços, como cinemas, galerias e teatros, os pesquisadores identificaram um padrão semelhante aos hábitos de leitura, que quando forçada acaba rejeitando mais do que atraindo.

“A grande questão é o que chamamos de escolarização da ida ao museu. Não há problema em dar um Machado de Assis para uma criança ler, o problema é cobrar uma leitura do jeito que a escola quer. A mesma coisa vale para o museu. Não há problema em levar o aluno ao museu para ele entender do jeito dele, o problema é cobrar dele depois do jeito que você quer que ele entenda”, diz Michel Alcoforado, diretor da consultoria Consumoteca, responsável pelo levantamento.

Segundo Alcoforado, esse hábito contribui para a visita a museus ser encarada como uma obrigação, o que, além de afastar visitantes que se sentem intimidados por não entenderem plenamente o teor dos acervos, também estimula muitos visitantes a irem apenas uma vez. É a percepção de 50% dos entrevistados “Essa relação pouco prazerosa da visita ao museu constitui a ideia de um check list, você vai uma vez e pronto, é como se cumprisse uma obrigação”, analisa. “Quando a pessoa vai pra fora, não valoriza o Louvre (França), o Tate Modern (Reino Unido), por exemplo, pelo acervo, e sim por fazer esse check-list do que tinha que ver”.

Durante a apresentação da pesquisa, que está disponível no site, também houve um bate papo com representantes dos setor museológico no país. Participaram do evento uma das diretoras da representação brasileira do Conselho Internacional de Museus, Marília Bonas, e o diretor do Museu da República, Mário Chagas, servidor do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram). “Uma iniciativa de sucesso que implantamos que fizemos no museu da República é tentar aproximá-lo de uma ideia de centro cultural, com exposições temporárias, uma mistura de espaços mais dinâmica e um clube do museu, que traz as pessoas para a mais próximo da instituição”, relata.

Eles ouviram 600 pessoas de todas as regiões do Brasil, além de grupos focais de cinco capitais brasileiras (Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre, Recife e Belém), durante três meses no segundo semestre de 2018. O período coincidiu com o incêndio do Museu Nacional do Brasil, que fica no Rio de Janeiro, em setembro do ano passado.

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