Primeiro golpe de Estado do país partiu da elite

Pedro Artur - Hoje em Dia
01/03/2015 às 14:50.
Atualizado em 18/11/2021 às 06:11

No livro “O Reino que não era deste Mundo – Crônica de uma República não Proclamada” (Editora Valentina, R$ 29,90), o historiador Marcos Costa conta a história do que ele chama de “primeiro golpe de estado na tumultuada vida política brasileira”: segundo ele, a Proclamação da República, em 15 de novembro de 1889.
O autor não poupa críticas ao comportamento das elites naquele episódio. “Ninguém aprende que a república não surgiu de um projeto de nação, ocorreu apenas pelo capricho de uma elite escravocrata que não se conformou em ver seu patrimônio dilapidado. Penso que se, no projeto da Lei Áurea, estivesse prevista a indenização dos fazendeiros, dificilmente o golpe teria ocorrido”, aposta Marcos Costa, que aponta, mais tarde, outros dois golpes de estado, de 1930 e 1964.
Nas 280 páginas do livro, o historiador ressalta a importância do papel da princesa Isabel no Império – e de que como teria sido um suposto terceiro reinado, abortado com a Proclamação da República. Assim, Marcos descarta que a princesa tenha tido apenas uma posição decorativa durante o império do pai, Dom Pedro II.
“A princesa Isabel, a partir de 1871, quando assume a regência e nela faz passar a Lei do Ventre Livre, se coloca de forma diametralmente oposta à elite que controlava a política no Brasil. Entre os fazendeiros escravocratas e a princesa surgiu uma animosidade imediata e recíproca”, avalia o historiador.
Outro episódio, segundo ele, contribuiu também para esse acirramento de posições. Um ano antes, o conde D’Eu, marido da princesa, havia decretado o fim da escravidão no Paraguai, quando o Brasil venceu a guerra.
Dessa forma, fica clara a posição da herdeira sobre a situação da escravidão no Brasil. “Não por acaso, em 1873 surge o Partido Republicano e os jornais republicanos. A atuação política da princesa foi decisiva para a superação das raízes coloniais no Brasil, sobretudo o escravismo, e com este ato, em 1888, abriu as portas para um novo país. Esse projeto foi abortado pelo golpe republicano”, reforça.   “ATRASADA E EGOÍSTA”
Marcos Costa considera que o problema do país não é de sistema de governo, república ou monarquia.
“Mas, sim, de uma elite atrasada e egoísta. Acho que não seria muito diferente do que é hoje. O problema no Brasil não é o regime de governo, mas a falta de compromisso com um projeto de nação. Uma elite econômica estabelece relações perigosas com o governo por meio dos políticos, que ela ajuda a eleger por meio do financiamento das campanhas”.
Para o historiador, esse aparelhamento do Estado abre caminho para que negócios públicos comecem a ser tratados como privados.
Perguntado se temos, hoje, uma figura como o Barão de Mauá, que contribuiu para a industrialização do país durante o império, Marcos Costa demonstra, na realidade, pessimismo com as próprias instituições do país.
“As mudanças que ele operacionalizou e os projetos que tinha para o país, para a industrialização ou a infraestrutura de transporte, só voltaram a entrar em pauta no Brasil a partir dos anos 1930, ou seja, quase cem anos depois. Vejam o tamanho do atraso. Mauá é exemplo de um homem que tinha um projeto de nação”.

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por