Primeiro HQ publicado no Brasil contava as aventuras de um mineiro na Corte

Elemara Duarte - Hoje em Dia - Hoje em Dia
30/01/2014 às 07:08.
Atualizado em 20/11/2021 às 15:40
 (Wilson Gontijo/Reprodução)

(Wilson Gontijo/Reprodução)

Hoje é o Dia do Quadrinho Nacional. A arte de contar histórias com desenhos em sequência sobre um papel é lembrada em Belo Horizonte e de norte a sul do Brasil. Na capital mineira, a 9ª edição do Dia do Quadrinho Nacional faz as honras aos apaixonados pelo tema no Centro Cultural Venda Nova, no Bairro Novo Letícia, a partir das 14h, com oficinas, encontro de quadrinistas e fãs e show. Tudo gratuito. Neste ano, o tema do evento traz a exposição “Viagem Fantástica ao Mundo do Antigamente”.

O dia 30 de janeiro é uma referência que vem da primeira história em quadrinho publicada no Brasil. “As Aventuras de Nhô-Quim ou Impressões de Uma Viagem à Corte”, do italiano radicado no Brasil Angelo Agostini (1843-1910), foi publicada no jornal “A Vida Fluminense” (confira imagem na página 2), no Rio de Janeiro, num dia como hoje, mas em 1869.

Porém, bem antes de Agostini, já se fazia quadrinho. A exposição vai comprovar a dinâmica da arte ao longo dos séculos. Nela, os visitantes podem ver a reprodução de 20 quadrinhos feitos dos séculos 18 a 20.

A Associação Cultural Nação HQ selecionou obras de pioneiros da arte, como o romeno Joseph Franz von Goez (1783) com o “comic book” “Leonard und Blandine” (imagem nesta página). Há também reproduções de obras do suíço Rudolph Topffer (1842), do alemão Wilhelm Busch (1865), sem esquecer do mais brasileiro dos italianos, Angelo Agostini.

Veja como o personagem mineiro de Agostini ainda é atual e próximo de muitos de nós, os “minerim”. Nhô-Quim era um mineiro que se apaixonou por uma moça pobre, a Sinhá Rosa. Mas o pai dele o mandou para a Corte (Rio de Janeiro), para esquecê-la. Com jeito ingênuo, ele passa por situações engraçadas na cidade grande. “Uma crítica aos problemas urbanos da época”, explica Richardson Santos, o “Ric”, da Nação HQ.

Quadrinistas querem Centro de Memória

Um ponto de encontro com sede física para os fãs dos quadrinhos na Grande BH começa a ser planejado. Trata-se do Centro de Memória do Quadrinho, que deve ter estrutura para ações educativas, como oficinas e palestras, e que já conta com acervo de 10 mil revistinhas destinadas a empréstimo. O desafio agora é encontrar uma sede, a exemplo das charmosas Gibiteca de Curitiba e Gibiteca Henfil, em São Paulo.

Integrantes da Associação Cultural Nação HQ já conversam com representantes de municípios da Região Metropolitana para buscar apoio. “Queremos levar o quadrinho para o interior, mas pertinho de Belo Horizonte. Com fácil acesso. No interior é mais fácil criar uma atração deste tipo”, anuncia o presidente da Nação HQ, Richardson Santos.

Essa é a próxima conquista almejada pela associação. Uma das primeiras vitórias do grupo é a comemoração do Dia do Quadrinho brasileiro em BH: de simplesinha, em 2006, num bar, até hoje, quando ocupa um centro cultural com apoio da Prefeitura. Em 2011, BH tornou-se a primeira cidade do país a incluir o Dia do Quadrinho Nacional no calendário oficial, através da lei nº 10.071/2011.

Programação

O 9º Dia do Quadrinho Nacional começa às 14h, com a oficina de roteiro “Ele morreu e agora?”. Nela, os participantes terão de quebrar a cabeça para criar uma história fora da lógica do nascer, viver e morrer. Às 16h, é a vez da oficina “Pequenas Doses de Quadrinhos”, com histórias que têm rumos inusitados.
No encontro entre artistas e fãs de quadrinho, a partir das 19h, estarão Bruno Grossi, da comunidade Portal do Ilustrador; Virginia Froes, do estúdio Black Ink; Marciano Gonçalves, do Studio A4; o quadrinista e professor Wilson Gontijo, entre outros artistas. O fechamento será com o rock d’O Monomotor.

A programação traz outra exposição: “Ícones dos Quadrinhos”, onde artistas retrataram personagens de quadrinhos que possuíam algum significado especial para eles.

9º Dia do Quadrinho Nacional – Hoje, das 14 às 22 horas, no Centro Cultural Venda Nova (rua José Ferreira dos Santos, 184, Novo Letícia – fone: 3277-5533). Gratuito

Data é lembrada de Norte a Sul do Brasil

A data foi estipulada por pesquisadores da Associação dos Quadrinistas e Caricaturistas do Estado de São Paulo, em 1984. Neste ano, o ápice das comemorações acontece no próximo sábado, com a premiação da 30º edição do Troféu Angelo Agostini, no Memorial da América Latina.
No Maranhão, a “gibiteria” Beco dos Quadrinhos realiza a 5ª Expo HQ São Luiz. “A gente fazia o evento em dezembro. Agora, aproveitamos o ensejo”, lembra o ilustrador Sullivan Suad. O encontro acontece no sábado com exibição de filmes, feira e prêmios.

No Rio de Janeiro, a mistura cultural Agaquês: Quadrinhos + Rock Independentes também estica do Dia do Quadrinho Nacional para o fim de semana e promove um “desenhaço” com vários artistas, exposições, stands de produtos, shows e palestras, sábado, no Sobrado Boemia (Praça São Salvador).
Na Gibiteca de Curitiba, as celebrações acontecem hoje e amanhã, com debates oficina e “rinha de games”. Já em Belém do Pará, tem bate-papos e a exposição “Quadrinho de Humor Paraense”, hoje, na Casa da Linguagem.

Em tempo: Angelo Agostini nasceu em Vercelli, na Itália, e estudou artes em Paris. Aos 16 anos, veio para o Brasil com a mãe. Trabalhou como capataz na construção da estrada de rodagem que ligava a ferrovia entre Rio de Janeiro e Juiz de Fora. Nesta época, conheceu a cultura mineira que lhe inspirou na criação de Nhô-Quim.  

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