Produção espanhola ‘La Casa de Papel’ se firma como fenômeno na Netflix

Jéssica Malta
jcouto@hojeemdia.com.br
26/02/2018 às 18:01.
Atualizado em 03/11/2021 às 01:35
 (Reprodução/Netflix)

(Reprodução/Netflix)

“O que é roubar um banco, comparado a fundar um banco?”. A frase do dramaturgo e poeta alemão Bertolt Brecht é a escolhida pelo pesquisador e professor de cinema Athaídes Braga para definir a produção espanhola “La Casa de Papel”, que mesmo sem muito alarde inicial, sem divulgação grandiosa pela Netflix, se firmou como um fenômeno da plataforma.

Não por acaso, referências a história – que acompanha oito pessoas recrutadas para um grande assalto à Casa da Moeda de Madri – povoaram o Carnaval brasileiro nas fantasias de vários foliões, que ostentavam os uniformes vermelhos e máscaras do pintor Salvador Dalí, utilizadas pelos personagens da série

Mas o frisson vai além da inspiração carnavalesca. A produção está entre as vinte séries mais populares do mundo na lista da base de dados IMDB, além de ser habitué na lista de conteúdos em alta da Netflix.

Para Braga, a justificativa para tanto sucesso está relacionada principalmente ao formato e origem do seriado, que trazem vários elementos inesperados. “É uma produção bem diferente do modelo norte-americano”, pontua. “Os ganchos não são previsíveis, a apresentação dos personagens é bem distinta, não existe aquele reconhecimento direto do protagonista, do antagonista e do bandido. A cada momento acontece um desdobramento diferente e isso é algo que raramente acontece em produções norte-americanas”, observa.

O foco na cultura espanhola – o que acaba fugindo da hegemonia hollywoodiana ou britânica – também é um dos pontos fortes da produção para o pesquisador. “É uma série menos industrial. Não vem de um grande estúdio, com um grande investimento e aposta em uma narrativa, uma cultura e uma língua diferentes do que estamos acostumados”, diz.

O caráter político e combativo de “La Casa de Papel” é outro fator destacado por Braga. “A série tem uma crítica muito forte e uma proposta de ser revolucionária. Tem um pensamento marxista de tomar a ferramenta que produz o dinheiro, através da ocupação da Casa da Moeda.

O pesquisador enfatiza ainda a relação da produção com o contexto sociopolítico atua, o que pode ser uma chave para a identificação da audiência. “Pode ser que um público mais conservador não goste, mas a série está trazendo exatamente um sintoma desses tempos de hegemonia do capital financeiro sobre todo mundo, da relação com as instituições, com a polícia”, explicita. “E traz essas questões com uma beleza plástica. É uma série diferenciada e genial”, exalta.

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