Produzida em Minas, ópera é a primeira do mundo escrita e produzida sobre o filósofo Pitágoras

Da Redação
almanaque@hojeemdia.com.br
04/11/2021 às 16:07.
Atualizado em 05/12/2021 às 06:11
 (Dayane Crisley/Divulgação)

(Dayane Crisley/Divulgação)

"Pitágoras de Samos", a primeira ópera do mundo escrita, produzida e disponibilizada na internet sobre o filósofo, matemático e músico Pitágoras estreia nesta sexta-feira (5), às 19h, na internet.

A produção é mineira, de autoria de Andersen Viana e realizada pela Cia. Mineira de Ópera. O teatro musicado conta com a participação de experientes músicos e cantores, que dão voz aos desenhos de João Guilherme Bufeti em vídeo editado pela Carabina Filmes, de Carlos Canela. Os ensaios da ópera começaram em fevereiro deste ano e a previsão é de que o espetáculo seja levado também aos palcos em 2022 e 2023.

A ideia de produzir o teatro musicado nasceu de Andersen Viana, autor e responsável pela música e textos do espetáculo, depois de uma conversa com o regente da ópera, André Brant, em 2019. “A intenção é mostrar todas as faces de Pitágoras. A figura do filósofo é muito lembrada pelo teorema de Pitágoras, estudado nas escolas, mas poucas pessoas conhecem a história dele em profundidade”, diz Andersen, que se dedicou a pesquisas sobre o sábio grego durante quase dois anos.

O projeto criou 29 novas oportunidades de trabalho remunerado temporário na área artística e cultural em Belo Horizonte, que sofre com a crise imposta pela pandemia do coronavírus. O problema sanitário impôs também uma série de desafios para os participantes. Um deles foi cantar de máscaras e fazer ensaios solitários em um trabalho que exige coletividade.

 “Foi um verdadeiro desafio, pois a máscara impede que o ar saia para fazer a projeção vocal. Isso acaba prejudicando, porque é preciso força excessiva para o som sair”, diz o cantor lírico Wagner Soares, que encarna Pitágoras. Os artistas fizeram primeiro ensaios individuais e por várias vezes, durante a fase crítica da pandemia, tiveram de interromper o trabalho conjunto. ”Os ensaios tiveram de ser feitos ao ar livre na casa do maestro André Brant, seguindo todas as regras de distanciamento”, lembra Wagner.

A gravação do vídeo aconteceu no Teatro Sesiminas, causando emoção e alegria nos artistas. “Muitos choraram, porque ficamos muito tempo longe dos palcos. A última vez que fiz uma apresentação foi no Palácio das Artes, em 17 de março de 2020, dias antes de começar a pandemia. Fiquei emocionado e feliz, apesar de não ter ninguém na plateia durante as gravações”, conta Wagner

Ele diz ter aprendido muito com a interpretação de Pitágoras. “Encarnar Pitágoras, filósofo e cientista, que busca na ciência a verdade e a vida, foi muito importante, me fez refletir num momento em que a ciência é desprestigiada por governantes”, diz Wagner. Ele acredita que o espetáculo por abordar questões como a injustiça e a desvalorização da ciência, presentes na sociedade atual, irá encantar e levar o público a reflexões.

A atriz e cantora Fabíola Protzner, que encarna Myia, filha de Pitágoras, também acredita que o trabalho vai marcar para sempre sua carreira. “Foi um prazer participar de uma obra que poderá ser vista no mundo inteiro pelo Youtube e que acabou de ser composta”, destaca Fabíola. Outra alegria foi interpretar a filha do filósofo. “Myia era uma mulher extremamente forte, segura e destemida que, assim como o pai, enxergava as mazelas e injustiças. Era uma feminista dentro do mundo dela”, afirma.

O regente André Brant, assim como os outros participantes, teve a primeira experiência de integrar uma ópera de um compositor vivo. “Já participei de montagens de obras compostas por nomes que fizeram a história mundial da ópera. Reger um espetáculo de um compositor vivo traz mais desafios. Em uma obra de Verdi (Giusseppe), por exemplo, há muitas referências de montagem para o regente, diretor, músicos. Numa ópera inédita começamos tudo do zero. É um desafio, bem legal. ”, diz o maestro. 

“Por ser uma obra inédita e contemporânea, tem-se o privilégio da presença do autor nos ensaios. Algo incomum no mundo operístico.”, emenda o produtor Lucas Teles, diretor da Cia Mineira de Ópera.

De acordo com a produção, as duas únicas obras produzidas em Minas equivalente ao teatro musicado " Pitágoras" são "Tiradentes", de autoria de Manuel Joaquim de Macedo (1847-1925), e "Os Sertões", de Ferdinand Juteaux. A primeira foi apresentada em 1886 sob forma de oratório em Belo Horizonte e a segunda, dirigida por Sebastião Vianna, pai de Andersen Viana, compositor de Pitágoras de Samos. Ou seja, não é todo dia que se  produz uma ópera brasileira. Em Minas, são dois exemplos em 100 anos.

Quem foi Pitágora

Nascido em 570 anos a.C, Pitágoras fundou a Escola Pitagórica, da filosofia pré-socrática. A academia, que unia matemática, filosofia, astronomia e música, tinha como discípulos naquela época não só homens, mas também mulheres. Há várias versões para a causa da morte do filósofo, uma delas seria suicídio em razão da perseguição política e inveja que sofria da elite na época.

“Há muitas lendas e mitos em relação à história de Pitágoras, uma vez que ela só foi resgatada 200 anos após sua morte”, conta Andersen, lembrando que o drama musical retrata ainda questões como corrupção da alma humana, suborno, assassinatos, genocídio, presentes na sociedade contemporânea. O drama musical, com duração de 90 minutos, resgata ainda um amor – difícil de se realizar – entre Myia, filha de Pitágoras, e Apolônio, discípulo do mestre Jônio.

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por