Professores usam programas de bate-papo com vídeo para ensinar arte

Thais Oliveira - Hoje em Dia
04/04/2015 às 10:23.
Atualizado em 16/11/2021 às 23:30
 (Luiz Costa)

(Luiz Costa)

Bastou ouvir um samba para o corretor internacional de seguros Joe Nicholson, 25 anos, ter a certeza: precisava aprender mais sobre música brasileira. “Tinha medo de que um estrangeiro não fosse capaz de me ensinar os ritmos de maneira autêntica”. Desde então, o norte–americano iniciou uma saga pela internet até encontrar, no YouTube, uma videoaula de violão, ministrada pelo mineiro Philippe Lobo. Mas ainda não era o bastante.
De tanto pesquisar, o aspirante a músico acabou conseguindo contatar Lobo – e descobrindo uma forma de encurtar os milhares de quilômetros que separam Boston, nos EUA, de Lagoa Santa, na Grande BH. Por meio do Hangouts do Google +, os dois se tornaram aluno e professor. Esse e outros programas de bate-papo com vídeo vêm se firmando cada vez mais como alternativa para quem não pode – ou não quer – sair de casa para aprender mais sobre música.  
“Muitos desistem do curso por ter que se deslocar. Por isso, essa é uma opção mais acessível, pois independe do fator geográfico”, diz Lobo, especialista em guitarra e violão e professor há 18 anos. Ele destaca que o seu leque de alunos também aumentou desde 2013, quando passou a dar aulas pela internet. “Além dos EUA, tenho alunos na Alemanha, na China e até mesmo aqui do lado, em BH”.
Para ele, a comodidade e o interesse são os principais motivos para a crescente demanda do serviço. “Quem escolhe ter a aula on–line é porque realmente tem o grande desejo de se aprofundar na música”. Nicholson confirma a tese: “faço aulas on–line há 6 meses e tenho a certeza de que vou continuar por muito tempo. Por agora, música é um hobby, mas meu sonho é poder me mudar para ser músico profissional no Brasil”.
Comodidade
Com os pés descalços, sentado na cama, aprendendo mais um acorde. É assim, no conforto de casa, que Diogo Nogueira, 28 anos, vem investindo na carreira de músico. Há pouco mais de um mês ele toca contrabaixo com Filipe Marks por meio do Skype. “Como não tenho jornada fixa de trabalho, a aula on–line se encaixou perfeitamente à minha vida, além de ser mais cômodo”, diz o aluno.
No início, quando se mudou para Muriaé, na Zona da Mata, Nogueira tentou acompanhar um curso presencial. No entanto, a agenda de oficial de Justiça virou do avesso e ele começou a perder várias aulas. “O custo-benefício tem sido ótimo porque encontrei um profissional capacitado e nunca mais faltei a uma aula. Me sinto muito mais estimulado agora”.
“Tem funcionado tanto para os iniciantes quanto para quem está no nível mais avançado, porque, assim como nas aulas presenciais, o que determina o desenvolvimento do aluno é a força de vontade dele”, avalia Marks, que tem formação em teoria musical.
Vamos aprender através da webcam, sem preconceito?
O temporal está armado. Neste horário, o trânsito é complicado. O cansaço bateu. Qualquer coisa pode virar motivo para não sair de casa. “É aí que entra o Skype. Tenho alunos que têm aulas tanto presenciais quanto on–line”, conta o professor de guitarra e violão, Tarsius Lima.
Esse é o caso de Thiago de Oliveira, 22 anos. “Gosto da aula presencial, mas, pela comodidade, às vezes, prefiro fazê-la pela internet”. E, para quem ainda duvida de que a tecnologia pode funcionar, ele afirma: “dá para aprender via internet normalmente. Indicaria para outras pessoas”.  
Porém, nem todo mundo entrou na onda facilmente. Acostumado ao contato físico, Lima relutou bastante antes de entregar os pontos. “Eu me negava a trabalhar desta forma por ser um tanto ‘à moda antiga’ e por acreditar que o aluno não iria conseguir assimilar todas as informações. Mas fui vendo que o Skype te dá até mais naturalidade, já que alunos tímidos conseguem se soltar mais, talvez, por estarem em um ambiente familiarizado”, garante.   Didática a um clique de distância não é para todos   As aulas on–line não funcionam para todos, pois há quem não abra mão do contato físico. O interessante, então, é avaliar caso a caso. Como aqui a comodidade não tem fronteiras, algumas das vantagens são que as aulas estão a um clique de distância e a grade de horários, em geral, é flexível. Outro ponto positivo é a possibilidade de fazer anotações pelos programas de bate-papo com vídeo e, assim, arquivar informações em uma plataforma flutuante.   Mas nem tudo é um mar de rosas. Há quem cobre um pouco mais pelo serviço à distância e problemas na conexão podem colocar tudo por água abaixo. “Se o sinal da internet for ruim, ruídos e falhas na transmissão, certamente, irão atrapalhar”, aponta Marks. Fique atento também à questão burocrática da coisa. Não se esqueça de firmar um contrato de serviço para que ambas as partes tenham respaldo legal.  
Aula presencial para iniciantes e Skype para demanda localizada
O produtor musical Diogo Borges também viu na internet a oportunidade de ampliar o alcance de seu trabalho. Em 2010, após muita insistência de um amigo de Curitiba, ele começou dar aulas sobre mixagem, edição e masterização de áudio. Neste caso, um dos softwares usados é TeamViewer, que permite o acesso remoto a computadores. “Entro na máquina do aluno com esse programa e ele vai acompanhando o processo com a ajuda do Skype”, explica.
Borges, porém, alerta que o serviço pode não servir a iniciantes. “Dou aulas para quem tem dúvidas pontuais, atendendo aquela demanda localizada. Tem sessão que dura até mais de duas horas, então, para quem está começando, a aula presencial é melhor, pois demanda ainda mais atenção”, opina.

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