Projeto da Cineart já levou mais de 11 mil idosos ao encontro da grande tela

Paulo Henrique Silva - Hoje em Dia
13/10/2015 às 07:26.
Atualizado em 17/11/2021 às 02:02
 (FLÁVIO TAVARES)

(FLÁVIO TAVARES)

Dona Helena pediu folga na confecção onde trabalha como passadeira para assistir a um filme de Woody Allen. Não que ela seja uma fã ardorosa do diretor nova-iorquino, que tem um punhado de comédias refinadas no currículo. A novidade, no caso, é que, aos 71 anos, ela teve a primeira oportunidade de entrar numa sala de cinema.

Dona Maria, de 91, já viu muitos filmes na sala escura, mas faz tanto tempo que foi da última vez que não se lembra mais do título. Nem do ano. Só se recorda do lugar: Cine Rosário, que ficava próximo à casa dela, no bairro Primeiro de Maio. Como ele foi fechado em 1972, ela não vai ao cinema há pelo menos quatro décadas.

Os casos de Helena da Silva Alves e Maria Santo Antônio Amorim não são raros dentro do projeto “Chá no Cinema”, realizado pela Cineart uma vez por mês. “Muitos estão ali experimentando um prazer que nunca tiveram quando jovens”, observa Isa Gandra, do núcleo de convivência Alegria, no Palmital.

Criatividade

Os espectadores, a maioria mulheres, chegam por volta das 9h30, umas mais animadas e falantes do que as outras. São recebidas com um lanche e, em seguida, ouvem uma palestra de tema relacionado com a história do filme que será exibido. Na última sessão do projeto, no fim de setembro, “Blue Jasmine”, de Allen, foi o escolhido para enfatizar que terceira idade não é sinônimo de reclusão ou imobilidade.

“O filme mostra que não há um limite de idade para realizar nossos desejos. Basta usar a criatividade, nunca deixando de se desafiar”, salienta a palestrante Sheilla Piancó, que está no projeto desde o seu início, em 2009. O público total já ultrapassa a casa de 11 mil, atraindo grupos de diversas regiões de Belo Horizonte e até do interior, que alugam ônibus especialmente para a sessão.

A presença de Maria Santo Antônio foi comemorada pelas colegas de Turminha Alegre. “Há muito tempo ela não saía de casa, o que pode levar à depressão. Esse tipo de atividade ajuda a ter um envelhecimento saudável e ativo”, avisa Rosina dos Santos, gerente administrativa do núcleo criado há 30 anos.

“É uma forma de me distrair um pouco. Eu ia no cinema toda semana. Agora vejo mais TV”, admite Dona Maria, que foi acompanhada pela sobrinha Lídia. Já Dona Helena adiou o quanto pôde a sua participação, até ser convencida pelas amigas. De imediato, achou “tudo lindo”. E cogita novas folgas junto ao patrão.

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