Protestos interferem na agenda cultural de Belo Horizonte

Cinthya Oliveira - Hoje em Dia
06/07/2013 às 14:58.
Atualizado em 20/11/2021 às 19:49

No dia 22 de junho, enquanto milhares de pessoas tomavam as ruas de Belo Horizonte, o violeiro Fernando Sodré preparava o lançamento do álbum “Viola de Ponta Cabeça”, no Sesc Palladium. Depois de oito meses de preparação, a frustração: dos 1.300 lugares do grande teatro, apenas 200 estavam ocupados.    “A manifestação pacífica já havia acabado, mas um grupo de vândalos desceu a rua Rio de Janeiro quebrando tudo. Os seguranças do Sesc Palladium tiveram de baixar as portas 15 minutos antes do início do show”, explica Sodré, que chegou a se manifestar positivamente sobre os protestos durante sua apresentação. Esse é um dos vários casos de espetáculos que contabilizaram prejuízos após o início dos protestos. Muitas apresentações foram canceladas ou tiveram público escasso.    Vazio   Na Praça da Estação, onde era realizado o “Concentra BH” da Copa das Confederações, se pôde ver um verdadeiro fiasco de público. A arena, preparada para receber milhares de pessoas interessadas em música e futebol, recebeu um número de pessoas muito aquém do esperado – mesmo com uma programação gratuita de alta qualidade. As bandas Jota Quest e Skank chegaram a cancelar participação no evento.   O espetáculo “Gozados”, com Luís Salem e Renata Celidônio, estava programado para os dias 27 e 28 de junho (quinta e sexta) no Teatro Sesiminas. A primeira sessão teve de ser cancelada, enquanto a segunda teve apenas 30 pessoas na plateia. “Os protestos são importantes, mas as pessoas devem entender que a cidade não pode parar”, afirma o produtor Maurício Freitas, que amargou um prejuízo de R$ 5 mil.   Política   Houve ainda cancelamentos por uma perspectiva política e não econômica. É o caso da Noite Fora do Eixo, que aconteceria na última quinta-feira, com Porcas Borboletas e Graveola e o Lixo Polifônico, no Granfinos.    “O show foi marcado antes dos protestos para mostrar o novo disco do Porcas Borboletas, mas os protestos nos mostraram outro caminho”, afirma Talles Lopes, integrante da Casa Fora do Eixo Minas. “Enquanto discutimos a ocupação do espaço público, não faria sentido fazer um evento numa casa fechada com entrada a R$ 30”.    “Estamos abraçando o discurso de que hoje a rua é uma grande gravadora. Quem se apresenta no AnhangaBaú da Felicidade, em São Paulo, toca para 30 mil pessoas e é visto por boa parte da imprensa”, explica Talles Lopes. “Assim, decidimos pensar em novas estratégias para levar nossa arte para a rua”.   Uma ação já acontece amanhã. Durante toda a tarde, diversos coletivos artísticos vão ocupar toda a extensão do viaduto Santa Tereza, em especial a porta da Serraria Souza Pinto. “É o momento de mostrarmos as reivindicações da cultura, que não estão sendo evidenciadas nos protestos realizados no país”.    Articulação   Uma estratégia para o artista que vai fazer show neste momento é articular com os movimentos envolvidos nos protestos. No último dia 23 (domingo), o músico Maurício Ribeiro não sentiu tanto o baque do esvaziamento em sua apresentação, no Café com Letras.    “Os shows podem ser interessantes para lembrar à população de que algo importante está acontecendo. É importante os artistas falarem sobre o assunto”, afirma o músico, que convidou os colegas envolvidos nas manifestações a conferirem seu trabalho.    Cristiano Cunha, que hoje lança seu primeiro álbum no Palácio das Artes, não se incomoda em ver que sua apresentação acontecerá num momento conturbado. “Ficarei feliz se alguém deixar de ir ao meu show para ocupar a Câmara. Esse é um movimento muito importante”.

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