Recuperado do susto em Frankfurt, Ziraldo cria outro personagem

Elemara Duarte - Hoje em Dia
16/12/2013 às 07:57.
Atualizado em 20/11/2021 às 14:49
 (Ivaldo Cavalcante)

(Ivaldo Cavalcante)

Ziraldo, aos 81 anos e portando mais alguns “stents” no coração, está preparando mais um “filho” literário: Clarkson. Trata-se da história de um menino suburbano, que tem a esperança como pontapé inicial de sua vida. E para que não gere ciúmes de outro rebento – talvez o mais famoso do cartunista e escritor – ele prepara o livro de trovas do Menino Maluquinho.

Depois do susto do princípio de enfarte na Alemanha, onde participou da Feira do Livro de Frankfurt, Ziraldo avisa que está bem. E como são os médicos alemães? “Eu ficava o tempo todo gritando assim: ‘Eu quero Einstein! Eu quero Einstein!’”. O clamor para o famoso hospital de São Paulo, claro, não foi atendido.

 Ziraldo explica que na Alemanha a medicina é “socializada”. O tratamento que a elite tem o operário também tem.

 “Mas eles não dão uma sombra de carinho. Eles têm muita segurança de que estão fazendo tudo certo. Depois da cirurgia, vieram comigo em uma maca num corredor enorme, sem ninguém, até que acharam uma porta e me colocaram lá”.

Mas, quando entrou na sala de cirurgia... “Aí, era ficção científica. A mão humana não toca em nada. O médico entra, opera, dá um tapinha no seu ombro e você nunca mais vê ele”. E tudo em alemão? “Tudo em alemão”, confirma o pai do Menino Maluquinho.

“Mas foi divertido”, admite, sobre as duas noites na casa de saúde gringa. Ziraldo disse que sentiu uma dor no peito e foi levado a um ambulatório local. Lá, fez exames e precisou fazer a cirurgia. “E lá fui eu...” l

Após dez anos, livro sai da gaveta

“Você já viu algum menino de periferia chamado Pedro, Joaquim, Miguel? Mas se o menino se chama Clarkson, Wellington, Randerson ou, se é menina, Katlen, Elemara, só pode ser de periferia”, enumera o cartunista, sobre a história de livro dele que há pelo menos dez anos está no forno. O possível título para a mais nova aventura do autor pelo universo infantil é “Um Menino Chamado Clarkson”.

Ziraldo diz que é difícil falar sobre este fenômeno dos nomes diferentes. “A minha dedução é que Clarkson, Katlen e Franciele são sinônimos de esperança. A mãezinha coloca o nome de Clarkson porque ele não é um ‘zé’ qualquer. Ele é o Clarkson!”, justifica.

O autor acredita que eles foram crianças muito mais felizes do que se imagina. “Não têm aquelas coisas dolorosas de menino rico e mal-amado”, compara.

Pelo universo

Outro projeto editorial que deve ter prosseguimento no ano que vem é a série de meninos de vários lugares do sistema solar.

“Falta o menino de Plutão, Júpiter e Netuno. Eu tinha que fazer um por ano. Aí, garantiria dez anos de vida, pois eu não poderia morrer sem acabar”, diz, aos risos. Espertinho, hein? “Mas agora...”, completa, lembrando o susto na Alemanha.

Ziraldo anuncia ainda outra publicação, inspirada pelo livro “Os Haicais do Menino Maluquinho”, lançado no início deste ano. O livro gerou uma pequena e indolor polêmica por não seguir à risca as imperturbáveis regras do poema de origem japonesa. “Os meus haicais têm uma ideia e um conceito. Mas isso não é da natureza do haicai, que não conceitua nada”.

Para Ziraldo, o que poderia ter equivalência com aquele enxuto texto dentro da cultura brasileira é a trova (poema de quatro versos e sete sílabas, com rima da segunda com a quarta linhas).

Assim, deve nascer, em breve, “O Menino Maluquinho Trovador”, título provisório de livro com cem trovas já prontas. Mas, no teorema “ziraldístico”: cem ilustrações demoram mais do que cem trovas. Todavia: “Vou ilustrar tudo”, garante.

Neste ano, o cartunista oitentão que não para de publicar lançou ainda “Os Homens Tristes e Outros Desenhos” (Editora Melhoramentos). O livro reúne vasta produção de ilustrações e anotações esporádicas do cartunista em seis décadas. A autoria é dos parceiros Gustavo Luiz Ferreira e Paulo Vieira.

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