Remake de 'O Estranho que Nós Amamos' abole olhar machista

Paulo Henrique Silva
phenrique@hojeemdia.com.br
14/08/2017 às 18:40.
Atualizado em 15/11/2021 às 10:04
 (UNIVERSAL/DIVULGAÇÃO)

(UNIVERSAL/DIVULGAÇÃO)

Só vendo o filme original, lançado em 1971 e dirigido por Don Siegel, para compreendermos a importância do remake de “O Estranho que Nós Amamos”, novo filme de Sofia Coppola, a partir de uma simples e fundamental mudança de ponto de vista. Em cartaz nos cinemas, a produção da cineasta revisa a história na esteira do atual acerto de contas com um passado em que o protagonismo masculino era não só aceito, mas preponderante, entre as produções cinematográficas. De maneira muito sutil, sem querer ser uma ativista feminista, Coppola transporta o enredo de um soldado ianque ferido que é recebido por seis mulheres em terras inimigas, durante a Guerra da Secessão, para os dias de hoje. As mulheres não são vistas mais como loucas que desfazem uma certa ordem social – no papel de esforçadas donas de casa, na escola das boas maneiras – ao primeiro sinal de concorrência em relação ao sexo oposto. No primeiro filme, Clint Eastwood era a vítima, ainda que não possamos reduzir a obra por sua leitura machista. Basta lembrar que ele faz um ianque justamente do exército que venceu a guerra a favor do fim da escravatura. Nas mãos de Siegel, o ianque vira uma espécie de refém, preso numa teia de sedução que pode ser vista, à luz da época, como propaganda disfarçada da União Soviética sobre a importância do coletivo sobre o individual. Don juanA refilmagem caminha por outra perspectiva, debatendo a legitimidade do homem no que diz respeito à conquista (ou melhor, conquistas), um dos pontos nevrálgicos da busca dos direitos da mulher. Talvez, até mesmo para algumas mulheres, experimentar um pouco da beleza de Colin Farrell não parece ser um mau negócio. Quando a narrativa lhe cobra por esse donjuanismo, a reação do soldado é violenta e vingativa.  E quando elas se reorganizam, suas atitudes vão de encontro ao feminismo de hoje, com o homem experimentando de seu próprio veneno– ação simbolizada pela presença de cogumelos no início e no final do filme.

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