Renegado lança álbum com orquestra e dá tom erudito à linguagem do rap

Bernardo Almeida
24/06/2019 às 08:55.
Atualizado em 05/09/2021 às 19:14
 (Íris Zanetti/ Divulgação )

(Íris Zanetti/ Divulgação )

O rap de Flávio Renegado e as cordas da Orquestra de Ouro Preto chegam a uma harmonia repleta de referências à música brasileira, ritmos latinos e tambores para compor “Suíte Masai”. O quarto álbum do rapper, gravado em show ao vivo em agosto do ano passado, traz o nome de uma tribo nômade do Quênia cuja relação social e com a natureza encantou o rapper. 

A primeira faixa, instrumental, faz jus à terminologia suíte com uma apresentação compilada dos arranjos que vêm na sequência. Arranjos compostos por Marcelo Ramos e que garantem fluidez em meio à oscilação de ritmos agitados. Tem samba, salsa e toques africanos, tendo como carro chefe o rap que consagrou Renegado na faixa “Do Oiapoque a Nova York”, de seu primeiro disco, homônimo, intervalados pela calmaria de “Tempo Bom” (escrita por Renegado), além de “Românticos”, de Vander Lee. 

A renomada “Para Lennon e McCartney”, do Clube da Esquina, encerra o repertório com chave de ouro e fecha a leva de homenagens que não podiam faltar em um projeto que pretende remontar a origens, o que se materializa já na escolha do local do show, o bairro do Alto Vera Cruz.

“Quanto mais apontamos para o futuro, mais voltamos para as raízes. Clube da Esquina é o grande baluarte da nossa música e Vander Lee foi o primeiro grande artista a me dar uma oportunidade de trabalho. Então foi uma forma de retribuir que encontrei”, diz Renegado, que também inclui a música “Maracatu, Nação do Amor” de Moacir Santos. “O cara é uma divindade, foi quem trouxe o ritmo africano para a música clássica”.

A pegada caribenha se faz marcante na segunda faixa, “Conexão Alto Vera Cruz Havana”, que alude aos cubanos do Buena Vista Social Club, enquanto os tambores de Mauricio Tizumba inspiram “Black Star”, segundo o arranjador Marcelo Ramos, que atribui a viabilidade de tamanha mistura de estilos à harmonia das músicas do rapper belo-horizontino. “Talvez não conseguisse fazer esse arranjo da orquestra com outros raps. O modo como Renegado mistura a coisa rítmica da palavra com a melodia foi o que possibilitou”. 
 

O Suíte Masai partiu da ideia de que as comunidades entendam que as salas de orquestra são espaços que podemos ocuparFlávio Renegado rapper


Renegado diz ter optado pela Orquestra Ouro Preto após ver o projeto “Valencianas”, em parceria com Alceu Valença. “Pensei comigo, caramba! Os caras não têm medo de arriscar”.

A ousadia está no DNA da orquestra, explica o maestro Rodrigo Toffolo. “As orquestras costumavam ter papel de vanguarda, e de uns tempos para cá perderam esse espírito para focar só em músicas antigas”.

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