Restaurantes e cafés deixam de ser espaço só de confraternização e comilança

Clarissa Carvalhaes - Hoje em Dia
04/03/2015 às 08:21.
Atualizado em 18/11/2021 às 06:13
 (Samuel Costa/Hoje em Dia)

(Samuel Costa/Hoje em Dia)

Com um convite que vai além da gastronomia, bares, cafés e restaurantes de Belo Horizonte apostam em obras de arte como um aperitivo a mais no cardápio. Telas, gravuras, fotos, desenhos e outras intervenções ganham paredes e até o balcão em mostras que dão um ar “cult” ao ambiente, divulgam o trabalho dos autores e chamam a atenção tanto da freguesia cativa quanto do público ligado em novas tendências.

“Uma das vantagens é levar a arte a um lugar movimentado, muitas vezes frequentado por quem não costuma visitar galerias e museus. Além disso, os novos centros de exposições são uma oportunidade para artistas que ainda não têm acesso às galerias”, diz Juliana Myrrha.

À frente do restaurante “2014”, na Savassi, ela calcula que desde a abertura do espaço, em 2008, cerca de 60 mostras tenham acontecido por lá.

Quem também aposta no conceito há quase duas décadas é o Café com Letras, na mesma região. O dono, Bruno Golgher, diz que desde que as exposições passaram a ocupar o espaço o café tornou-se mais rico do ponto de vista criativo e estético.

Recentemente, com a abertura de uma filial no Centro Cultural Banco do Brasil, na Praça da Liberdade, foi realizada uma parceria com o Museu do Cotidiano, de Antônio Carlos Figueiredo.

“Na semana passada, abrimos por lá a mostra ‘Implacáveis’, só com placas de sinalização. A exposição é incrível, e a partir dela daremos ao espaço um tratamento mais próximo à realidade dos museus. Pensamos, por exemplo, em apresentar mais informações sobre os autores e as peças expostas”, explica Golgher.

A gente não quer só comida

Na Casa dos Contos, outro nome tradicional do universo gastronômico de BH, as mostras têm dado retorno duplo: aos artistas “sem galeria” e ao proprietário, devido ao aumento da clientela.

“Adotamos a ideia há cinco anos. Desde então, o público vem crescendo. Sabemos que muito disso é atribuído às exposições e aos artistas”, afirma o gerente, Cleomar Valdair Wagner.

Durante a Copa do Mundo, no ano passado, o espaço decidiu investir em trabalhos voltados para o futebol.

“Muitos clientes chegavam aqui só para ver a mostra. Várias telas foram vendidas para turistas de outros cantos do Brasil e também para estrangeiros. Não há dúvida de que cultura também é alimento”, destaca.

Custo menor para expor e visibilidade garantida para quem vai aonde o povo está

“A primeira razão que me motiva a expor nesses lugares é a porcentagem cobrada”, diz o artista plástico Thiago Mazza, referindo-se ao fato de a “taxa” por uso do espaço ser, em geral, menor que a praticada pelas galerias convencionais.

Amanhã, ele lança a exposição “Matêro” no restaurante “2014” (rua Levindo Lopes, 158, na Savassi). Foi lá, inclusive, que Mazza apresentou o próprio trabalho ao público pela primeira vez.

O segundo motivo, completa, é o fato de o restaurante ser bem localizado, já realizar mostras e ter uma clientela que aprecia arte. “Tudo isso traz boa visibilidade para obra”.

O fotógrafo Élcio Paraíso destaca que para quem está começando, recorrer a restaurantes, cafés e afins é um ótimo negócio. As galerias particulares são muito fechadas e dificilmente se “arriscam” com nomes desconhecidos.

“A vantagem é que o público está lá, e por ali passam pessoas que não entrariam numa galeria”, diz.

O lado negativo, avalia, é que as obras podem se confundir com a decoração e não despertar o interesse de todos. “Quem entra em uma galeria quer ver o trabalho. Nos espaços alternativos, isso não é totalmente verdade”.

Com imagens em cartaz no Café Kahlúa (rua dos Guajajaras, 416, Centro), o também fotógrafo André Fossati já apresentou trabalhos em locais inusitados, como praças, assentamentos e ocupações.

“É difícil comparar, mas posso afirmar que o alternativo é sempre mais prazeroso e receptivo. Há uma troca fabulosa, um desinteresse de conceitos, uma aproximação da realidade de quem vê com quem fez. Se o que faço é arte, então prefiro a máxima de ir aonde o povo está”.
 

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